Capítulo 9
Durante a semana seguinte, Claire não parou um minuto de analisar músicas, algumas bandas tinham enviado outro tipo de material para ver se conseguia a aprovação dela. Para alguns funcionou, mas para outros não.
Ela também estava presente em todas as entrevistas dos artistas com Rose. Eram apenas as duas que decidiam quem eles deveriam contratar e investir, ou não. Claire também ajudava na escolha das músicas dos próximos Cds dos artistas já contratados e ainda ajudava na escolha das músicas e sequência para os shows das bandas.
Na segunda-feira, ela saiu novamente com Sam. Aceitou seu convite para ir jantar. Mas não se sentiu tocada por ele. Seu coração não acelerou em nenhum momento e diversas vezes, ela trocava o rosto de Sam, pelo o de Alex. Estava tentando se esquivar, ignorar, esquecer e evitar, mas não conseguia parar de pensar nele. Estava ansiosa para a ligação dele. Na verdade, ela nem sabia se ele havia ligado, pois o agendamento não fazia parte do seu trabalho.
Na manhã de quinta-feira, ela chegou atrasada ao trabalho pois tinha tido um acidente no metro que ela pegava todos os dias para ir ao trabalho e a Central Line ficou alguns minutos parada.
Chegou e foi correndo para sua sala, sabia que estava atrasada para a entrevista que tinha sido marcada às 9 horas da manhã. Jogou sua bolsa e pasta em cima de sua mesa e saiu correndo da sala, indo em direção ao andar de cima, onde ficava a sala de Rose.
Bateu na porta e escutou Rose dizer, animadamente de lá de dentro, que ela poderia entrar. Ao abrir a porta, eis que ela se depara com um homem vestido de camisa branca, calça jeans escura e um sapato brilhante. Ele estava de cabelo lavado e penteado, mas mantinha sua barba. Com certeza ele achava que aquilo era um charme. E ela concordava com isso, era puro charme.
– Alex! – Ela diz o nome dele e sorri, mais que o normal.
Ele se vira e a vê. Se levanta da cadeira que estava sentado, na frente de Rose e sorri de volta. Ela estava linda, com os cabelos longos e soltos, um pouco bagunçados, talvez pela corrida até o escritório e suas bochechas estavam levemente coradas. Ele admite para si mesmo, que estava com muita saudade de ver aquele rosto, aquele sorriso. E ela admite a mesma coisa para si, pois teve que repelir o impulso de ir atrás dele, durante a semana toda.
– Como é bom te ver. – Ele disse e a abraçou. Aquele encaixe perfeito se fez presente novamente.
– Eu que digo isso! Resolveu nos dar uma chance? – Ela perguntou, ainda envolvida pelos braços dele. Eles não estavam se lembrando que Rose estava na sala também. Ele a afastou e eles se olharam, ainda sorrindo.
– Hoje estou confirmando que você realmente é quem disse que era. – Ele deu risada. – Confesso que ainda tinha dúvidas se podia confiar em você. – Claire mordeu os lábios e apertou os olhos, o fazendo rir mais. – Mas agora sei que posso.
– Que bom que agora você sabe! – Claire olhou para Rose, que estava olhando aquela cena com ar de quem não estava entendendo nada, mas que já sabia de tudo. – Então já conheceu essa pessoa fabulosa que é minha chefe? – Claire caminhou para cumprimentá-la e se sentar ao seu lado, enquanto Alex se sentava de frente à elas novamente.
– Na verdade, todo mundo acha que sou a chefe, que eu que mando… Mas quem controla tudo nessa gravadora é essa mulher aqui. Eu só levo o rótulo de chefe, mais nada. Se ela me disser que devo contratar você, – Rose apontou para Alex – é o que vou fazer. – Rose riu e Claire colocou a mão em seu ombro, dando risada também. Alex não conseguia tirar os olhos de Claire. E ela dele.
– Fico feliz por ela ter me escolhido então. – Disse Alex, com sinceridade.
– Eu não apenas escolhi, como te cacei de verdade! – Todos riram. – Rose, escutei esse rapaz cantando apenas duas músicas e já me convenci de que precisamos fazer de tudo para que ele grave um cd. Essa voz não pode ficar só ecoando pelas ruas de Londres. – Claire olhou para Alex. – Precisamos fazer com que essa voz ecoe por todos os lugares possíveis.
– Ahh! Ele é aquele cantor que você achou no Bankside? – Rose perguntou para Claire, apontando para Alex.
– Sim! É ele! Viu só Alex, sua fama lhe precede.
– Estou ansiosa para ouvi-lo cantar e tocar, Alex. – Rose se levantou. – Vamos para o estúdio. Chega de conversa, vamos ao que interessa! – Rose riu. Claire e Alex se olharam e ela assentiu para ele. Tinha certeza de que ele estava nervoso, mas queria que ele soubesse que ela estava lá para apoiá-lo.
Ao passar por ele, Claire enganchou o seu braço no dele e ficaram perto um do outro, caminhando em direção ao estúdio, com Rose caminhando à frente deles e dando ordem a todos.
– Não se assuste com ela, estou aqui para administrar toda a situação. – Claire disse baixinho, para Alex, que deu risada.
– Tudo bem, eu já imaginava que precisaria fazer isso. Mas não trouxe meu violão.
– Alex! Você está em uma gravadora! Temos muitos violões aqui! – Claire beliscou levemente o braço dele. – Vai dar tudo certo, mas você precisa me ajudar. Precisa encantar Rose e os produtores com sua voz, como me encantou. Mas tenho certeza de que vai fazer isso.
– Vou tentar. O que eu canto?
– Não sei. Me deixe pensar um pouco. Você não pensou em nada?
– Tenho algumas músicas na mente. Mas acho que já sei qual será. Especial. – Eles se olharam e apenas sorriram.
Em poucos segundos eles chegaram ao estúdio de gravação e lá estava apenas um dos produtores, Sebastian. Um homem acima do peso e debochado, mas ele era um dos melhores produtores musicais do mundo. Rose conversou com ele, enquanto Claire entrava no estúdio com Alex.
– Me espere aqui, vou buscar um violão para você.
Alex fica sentado em um banco, olha à sua volta e vê todos os detalhes daquele estúdio, com as paredes com isolamento acústico na cor caramelo e um grande vidro bem na frente dele. Seu coração estava acelerado, mas ele sabia que precisava se controlar para que tudo desse certo. No fundo, não estava interessado em encantar Rose ou aquele produtor. Ele estava mais focado em não decepcionar Claire, uma mulher maravilhosa que estava acreditando nele, mais do que qualquer pessoa no mundo um dia, havia acreditado. E ele confirma a certeza disso, quando ela regressa à sala com um lindo violão na mão e entrega a ele.
– Não sei se está afinado. Dá uma olhada, deixe como gosta. – Claire piscou para ele e Rose entra onde eles estavam.
– Alex, querido! Fique tranquilo. Cante, toque. Vamos gravar para avaliar depois. Se achar que precisa parar, pode parar e recomeçar. Tudo com muita calma, não fique nervoso. Respire fundo, – Rose gesticulou com as mãos e Claire sorriu ao lado dela – jogue fora todo o nervosismo e deixe que a música flua para fora de você.
Todos sorriram e Rose esticou a mão para puxar Claire de lá. Mas antes, Claire deu um beijo no rosto de Alex, lhe desejando boa sorte. Ele sentiu seu coração acelerando e assentiu, sem dizer nada. Claire estava muito feliz por ele estar ali. Era exatamente o lugar que ela queria que ele estivesse.
– Claire Thompson! Que homem é esse? – Disse Rose, se sentando ao lado dela atrás daquele vidro. Claire sorriu, sem tirar os olhos de Alex, que estava mexendo nas cordas do violão.
– Ele é especial demais. – Claire disse, com uma voz que era uma mistura de admiração e encantamento. Rose sorriu e deu um cutucão nela.
– Parece que alguém está com os olhos brilhando aqui. – Disse Rose sorrindo. Claire deu risada e balançou a cabeça. Pensou que talvez Rose estivesse certa e preferiu não dizer nada.
– Bom dia, Alex. Me chamo Sebastian e vou coordenar a gravação da sua música. Fique relaxado, tranquilo e não se preocupe em errar. Você já sabe o que vai cantar? Está pronto? – Alex terminou de afinar as cordas e assentiu. – Ótimo. Estaremos gravando quando a luz vermelha aqui em cima, parar de piscar. Fique à vontade para começar.
Claire pensou que se seu coração pudesse estar mais acelerado do que o de Alex. Suas mãos estavam suando frio e era como se ela estivesse sendo avaliada. Todos ficaram em silêncio e em poucos segundos, a luz vermelha parou de piscar. Estavam gravando.
Alex começou a tocar alguns acordes leves e suaves. Claire sentiu seus olhos ficarem úmidos quando ela reconheceu a música. Era “Make you feel my love”. Uma música que ficou conhecida pela cantora Adele, mas que era original de Bob Dylan, que escreveu essa música no ano de 1997. E claro que Alex cantou a versão do Bob Dylan.
A letra era linda e Alex havia escolhido essa música, para tocar ainda mais o coração de Claire. Fato que estava funcionando, pois em poucos segundos, Claire sentiu lágrimas de emoção escorrendo por seu rosto, enquanto eles trocavam olhares e ele cantava para ela.
“Eu já sei desde o momento em que nos conhecemos, que não há dúvida em minha mente que você pertença. Eu passaria fome, ficaria triste e deprimido. Não há nada que eu não faria, para fazer você sentir o meu amor.”
Claire percebeu que poderia estar se apaixonando por aquele homem tão talentoso e singular. Pensou também que não queria mais ficar longe dele e que iria fazer de tudo para que seu futuro fosse diferente do seu presente. Tinha essa certeza dentro de seu coração desde o dia em que o conheceu, mas somente naquele momento, ela deixou que a certeza tomasse conta.
Quando Alex terminou, Rose estava de boca aberta, Sebastian sorria e Claire enxugava as lágrimas. Alex mordeu os lábios e esperava pela resposta deles.
– Caramba! Vamos gravar o disco desse cara agora! – Sebastian gritando, disse para as duas. Rose balançou a cabeça e olhou para Claire, que estava com os olhos vermelhos.
– Obrigada por ter encontrado esse homem para nossas vidas, Claire. – Rose se levantou e colocou a mão no ombro dela, que ainda não sabia muito bem o que fazer. Alex tinha sido perfeito. – Vou conversar com ele. – Rose foi saindo da sala e Claire correu para ir atrás dela.
– Alex, – Rose balançou a cabeça, ainda extasiada pela voz dele – não tenho o que te falar. – Alex ficou sério, achando que tinha sido péssimo. Seu olhar encontrou o de Claire e ele viu que ela havia chorado. – Sua voz, é a voz masculina mais linda, mais tocante e harmoniosa que eu já escutei em toda minha vida. – Alex respirou fundo e relaxou, estava aliviado e Claire parou ao lado dele, olhando para Rose. – Claire me disse que você escreve também, certo?
– Sim, sim. Escrevo algumas coisas, mas como disse à ela, não é nada profissional.
– Não tem problema. Na semana que vem, na segunda-feira, quero você aqui às 9 horas novamente e com todo o material que já tem escrito. Pode usar o final de semana para escrever também. Claire pode te ajudar, ela também gosta de escrever. – Alex olhou para ela, ele não sabia disso. Claire deu de ombros, sorrindo para ele.
– O que isso tudo significa afinal? – Perguntou Alex, olhando duvidoso para as duas.
– Isso significa que você está contratado, Alex! – Claire disse para ele, sorridente. Rose sorriu ainda mais e o abraçou, depois voltou para a sala de gravação com Sebastian. Deixando Claire e Alex sozinhos.
Eles se olharam e os olhos de Claire se encheram de lágrimas novamente. Alex sorriu, colocou o violão apoiado na cadeira e se levantou. Puxou Claire para lhe dar um abraço forte. Ele conseguia envolvê-la em seus braços da maneira mais deliciosa, pois era mais alto que ela e sentia que poderia protegê-la de todo o mundo.
– Não tenho como te agradecer, Claire. Não tenho mesmo. – Ele disse, ainda abraçado com ela, que tentava controlar as lágrimas. Não era normal se sentir tão emocionada por alguém ter sido contratado. Mas com ele era tudo diferente, tudo especial demais.
– Não precisa me agradecer. Eu só fico muito feliz que tenha dado tudo certo. Você não sabe como isso foi especial para mim. – Eles se afastaram, se olhando. Ela passou a mão no rosto e deu risada. – Pelo amor de Deus, Alex! O que foi essa música? Eu amo essa letra! – Ela deu risada e ele mordeu os lábios.
– Foi a única música que pensei que em cantar para você hoje. Não poderia ser outra. Para fazer você sentir o meu amor. – Alex disse, com a voz mais calma do mundo. Claire o olhou e não sabia o que falar. Eles ficaram se olhando sem dizer nada. A cabeça de Claire estava parecendo um turbilhão. Enquanto Alex, já sabia o que estava sentindo por ela. Ele estava sereno e feliz.
– Crianças! Venham! Vamos conversar mais um pouco. – Gritou Rose da porta, Claire estava sem ar e Alex segurou sua mão, puxando-a para perto dele e fazendo com que ela o acompanhasse, em direção a Rose.
***
Algumas horas depois, Rose terminou de dizer e explicar tudo do contrato para Alex. Primeiramente, eles iriam escolher as músicas, os acordes, as melodias e gravar um disco. Mas todo esse trabalho iria começar somente na próxima semana. Até lá, Alex prometeu escrever algumas coisas e Claire disse que o ajudaria durante o final de semana.
– Alex, podemos nos encontrar no sábado para escrever. O que acha? Podemos almoçar juntos e depois escrever. – Claire estava sorridente enquanto ele mordia os lábios, hesitando novamente. – Ora, Alex! Por favor. Você viu que pode confiar em mim. – Ela disse enquanto o acompanhava para fora da gravadora.
– Não é nada disso que está pensando, Claire. É que tudo é maravilhoso demais, mas não é minha realidade ainda. Nem sei se vai dar certo. Minha realidade é que sou uma pessoa sem casa e que precisa tocar o dia todo para receber alguns trocados para poder pagar o lugar onde eu durmo e para comer. – Alex disse e Claire engoliu seco. – Não me sentiria à vontade indo almoçar com você em algum lugar, pois eu não teria condições de pagar por isso.
– Mas eu posso cozinhar para nós! No meu apartamento! Não precisamos sair se você não se sente à vontade. – Alex deu risada. Achava linda a insistência dela em querer agradá-lo. – Eu cozinho bem! Juro! – Ela sorriu. Chegaram ao lado de fora do escritório e ficaram conversando na calçada, sob a luz do sol.
– Não duvido disso! – Alex respirou fundo. – Tudo bem, eu vou. Que horas no sábado?
– Vou sai de manhã no sábado. Quero adotar dois cachorros e dois gatos! – Os dois começaram a gargalhar. – É verdade! Aquele apartamento é muito grande para que eu fique sozinha. Na verdade, não gosto muito de ficar sozinha. Gosto de bichos e vou procurar adotá-los no sábado. Então… – Ela pensou um pouco. – Pode ir para minha casa por volta das 13h da tarde. Pode ser?
– Sábado, às 13h no seu apartamento. Ok. Acho que me lembro como se chega lá. Às vezes faço esse caminho para ir ao abrigo.
– Alex, eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para mudar sua situação, sua vida. Eu estou te prometendo isso.
– Obrigado, Claire. Acho que você é um anjo. – Ele deu risada e ela olhou para o chão, escondendo o sorriso. Ela se sentia bem ajudando aquele homem. Dando esperança a ele.
– Nada de anjo. Só quero te ver bem. Quero que você consiga melhorar sua vida, fazer com que tudo mude. Não sei o que aconteceu para você ir parar nas ruas, mas quero que você supere tudo. Vou ficar ainda mais feliz, ajudando você a superar.
– Você já está ajudando. Não faz ideia do quanto.
– Que bom. – Eles se olharam novamente e a intensidade com a qual se olhavam, apenas aumentava. Claire respirou fundo e desviou o seu olhar do dele. – Vou voltar ao trabalho. Nos vemos no sábado então?
– Absolutamente. – Ele sorriu e abriu os braços para abraçá-la novamente. Ela pensou que já não iria mais conseguir ficar sem aquele abraço. – Nos vemos no sábado. – Eles se olharam e ela assentiu.
– Vá escrever, Alex! – Ela sorriu e ele se entristeceu.
– De noite, quando voltar para o abrigo. Agora preciso ir buscar meu violão e ir tocar. – Essa era a realidade dele naquele dia.
– Isso está com os dias contados. – Ela acolheu o rosto dele entre suas mãos. – Pode ter certeza. – Eles se olhavam nos olhos e ela viu de perto as cores que formavam o tom de verde de seus olhos. Desceu o olhar para os lábios dele e percebeu como eles pareciam ser macios. Sentiu uma súbita vontade de beijá-lo, a mesma vontade que ele estava sentindo, estando tão próxima à ela. Ela respirou fundo novamente, sorriu e se afastou. – Bom trabalho, Alex.
Ele assentiu e sorriu para ela, que estava caminhando de costas para voltar para dentro da gravadora. Ela não queria mais trabalhar o resto do dia, queria apenas ficar ao lado dele. E ele, desejava ser um homem à altura de Claire. Um homem que ela pudesse escolher para cuidar dela, para lhe dar tudo o que precisasse na vida. Ele sabia que jamais seria um homem bom o suficiente para segurar as mãos dela, mas acreditava que tinha forças para tentar chegar perto disso.
– Obrigado mais uma vez, Claire. Até sábado. – Eles sorriram e ele foi embora.
Enquanto entrava para voltar ao escritório, subindo pelo elevador, ela fechou os olhos e sentiu seu coração batendo muito forte. Colocou as mãos no peito e conseguiu sentir o quanto ele estava batendo forte. Cobriu o rosto com as mãos, pensando no quanto estava ferrada por ter se deixado levar por um sentimento que estava crescendo dentro dela. Ela ainda não sabia nada sobre ele, mas tinha a certeza de que isso não era necessário para alterar alguma coisa. Seu sentimento estava forte demais e sentia que não iria aguentar ficar longe dele por muito tempo.
Alex sentia exatamente a mesma coisa e naquele preciso momento, ele estava quase voltando correndo até a gravadora, para apenas abraçá-la, ter certeza de que tudo não era um sonho e de que tudo iria dar certo.