Capítulo 7
– Tiffany, é sério. Estou extasiada até agora. O cara além de lindo, tinha uma das vozes masculinas mais perfeitas e harmoniosas que eu já ouvi na vida! – Claire não estava nem vendo o que estava fazendo, amassava as roupas e enfiava tudo de qualquer jeito dentro da mala. Tiffany parou de ajudar a amiga a guardar suas coisas e colocou as mãos na cintura. – A voz dele era uma mistura de Jim Morrison com John Mayer. Você não faz ideia da delícia que era ouvir a voz dele. Eu queria me derreter e entrar nas notas que ele estava cantando.
– Espera, Claire. Não estou entendendo nada! O cara estava cantando perto da ponte e você deu seu cartão pra ele e mesmo assim, ele continuou arredio?
– Parecia que eu tinha dado um cartão da Blockbuster para ele. Ele nem se tocou. – Claire jogou com força uma blusa que estava amassando na mão, dentro da mala e balançou a cabeça, mordendo os lábios. – Eu preciso daquele cara. Preciso da voz dele tocando nas rádios do mundo todo! Preciso que ele seja meu.
– Opa, opa! – Tiffany deu risada. – Humm, precisa que ele seja seu. Que delícia! – Ela deu mais risada e Claire percebeu o que havia acabado de falar.
– Você não faz ideia do quanto ele é lindo. Olhos verdes, cabelo desgrenhado e comprido, barba por fazer e um sorriso de deixar qualquer mulher perdida. – Claire falava olhando para o nada. – Mas eu preciso da voz dele! Da voz! Não dele como homem! Ahh, você me entendeu Tif.
– Entendi… Entendi tudo perfeitamente. – Tif voltou a dobrar as roupas de Claire delicadamente. – Esse brilho nos seus olhos já me fez entender tudo. Fique tranquila, porque não precisa me falar mais nada.
– Tiffany! E se eu vencê-lo pelo cansaço? Posso ficar insistindo até que ele aceite. Ou até que ele me jogue dentro do rio. – Ela pega mais uma blusa e dobra de qualquer jeito. Tif se aproxima dela e segura suas mãos.
– Amiga, vá buscar seus cremes no banheiro. Eu termino de dobrar suas blusas, senão você não terá nenhuma roupa quando abrir novamente essas malas. – Claire assentiu e foi para o banheiro.
– Eu quero que ele aceite, amiga. Não vou conseguir viver direito enquanto ele não aceitar! – Gritou Claire de dentro do banheiro e Tiffany dava risada do desespero da amiga.
– Alguém está ficando obcecada! – Tif gritou de volta. Claire sai do banheiro com os braços cheios de potes e tubos de produtos de beleza.
– Não estou! É que você não o conheceu. Se tivesse o conhecido, iria me dar razão. – Claire solta tudo dentro da mala vazia que ela guardava apenas os produtos de beleza e escuta um som de vidro quebrar. – Merda! – Ela se abaixa para procurar o que quebrou. – Ahh, que legal. Agora minha mala vai ficar cheirando Light Blue pro resto da minha vida. – Ela se referia ao frasco de perfume que quebrou dentro da mala.
– Meu Deus, Claire! Respira. Volte pro eixo! Volte pra Terra! – Tif segurava a amiga pelos braços e a balançava para frente e para trás. – Nunca te vi tão transtornada!
– Acho que é porque nunca tinha passado por uma situação como essa. – Claire mordeu os lábios. – Esse cara mexeu comigo.
– Está na cara que ele mexeu, mas você não pode fazer nada agora. Precisa se concentrar na sua mudança. Pode fazer isso? – Tif levantou uma sobrancelha e sorriu para a amiga.
– Posso, posso! – Claire deu risada. – Surtei levemente.
– Levemente?
– Vou sonhar com esse cara, pro resto da minha vida. – Claire vai caminhando de volta ao banheiro e Tif só dá risada da amiga.
Depois de arrumar tudo, Claire fecha a conta no hotel e parte com Tiffany, para sua nova casa. Estava com as chaves do apartamento e ansiosa para dormir em sua cama novinha.
Ela ficou lembrando da bagunça que fez quando comprou seu primeiro apartamento em Londres, com apenas 23 anos. Estava tudo bem diferente. Claire só queria curtir seu cantinho e descansar. Cuidar do seu novo jardim e de todas as coisas novas que tinha comprado para a casa. Era como se estivesse começando uma vida nova. Tudo era novo, tudo mesmo. Mas ao mesmo tempo, era tudo familiar, com gosto de família. Tinha os amigos por perto, os pais por perto e estava na cidade em que nasceu. Não poderia ser mais perfeito.
No rádio do táxi começa a tocar a música que ela ouviu Alex cantando naquela manhã e inevitavelmente, ela volta a pensar nele. Queria entender porque estava tão intrigada por ele, porque tinha se abalado tanto. Ela nem o conhecia, ele era uma pessoa completamente estranha, mas ao mesmo tempo, era uma pessoa que havia chamado totalmente sua atenção. Ela estava perdida nos seus pensamentos, até que recebeu uma cotovelada de Tiffany.
– Chegamos! – Gritou Tif.
Claire sorriu ao abrir a porta da sua nova casa, com todas suas malas. Estava muito feliz e acreditava que seu coração poderia explodir de tanta felicidade. Respirou fundo e puxou para dentro todos os cheiros que havia ali. Cheiro de limpeza, cheiro de madeira nova, de tudo novo. Ela olhou à volta e viu que tudo estava arrumado como ela queria, como ela havia pedido. Não poderia estar mais feliz e seus olhos se encheram de lágrimas. Lágrimas de emoção.
– Tudo novo, amiga. Tem que ser tudo novo! – Disse Claire para Tif, que estava ao seu lado, olhando para o apartamento. – Você pode vir dormir aqui quando quiser e também trazer os namorados.
– Nossa! No plural mesmo? – Tif deu risada e Claire assentiu.
– No plural. Você é linda e tem mais é que namorar bastante. – Claire puxou pela alça duas malas para dentro do seu apartamento.
– Por falar nisso… Eu vi o beijo que o Sam te deu ontem. Gostou dele? Ele está apaixonado por você. – Disse Tif enquanto também puxava outra mala para dentro.
– Gostei, ele é um querido. Mas não me senti muito balançada. Vamos levando, vamos ver o que acontece.
– Faça isso. Se dê uma chance de conhecer pessoas novas. Quem sabe aquele louco do Matthew não volta atrás na decisão e resolve vir para cá. – Disse Tif, fechando a porta do apartamento.
– Ah, não quero mais. Pelo menos por enquanto, eu não quero saber dele. Estou muito magoada e disse isso para ele outro dia. Não quero nem saber. – O celular de Claire começa a tocar e ela o busca pela grande bolsa e sorri quando vê quem estava lhe ligando. – Quer atender? – Ela mostra o celular para Tiffany que quase morre. Era Brandon que estava ligando para Claire.
***
Claire acordou tarde no domingo. Se espreguiçou e sorriu muito, mesmo de olhos fechados. Estava feliz por estar acordando na sua cama nova, dentro do seu quarto novo e no seu apartamento novo. Depois do jantar com Brandon, na noite passada, ele queria dormir com ela. Mas nada iria atrapalhar sua primeira noite sozinha em sua vida nova. Dispensou o rapaz assim que o táxi chegou na porta de sua casa, o deixando com olhos de cachorrinho pidão. Ele queria ficar mais tempo com ela.
O sol estava lindo e ela olhou para o relógio. Eram 10:25. Tarde para quem está acostumada a acordar por volta das 7h da manhã. Ainda tinha detalhes para fazer no seu apartamento, mas tudo já estava bem parecido com o resultado final que ela esperava. Ela foi até a janela e olhou para fora, olhou as pessoas correndo pelo Hyde Park, deitadas na grama ou passeando com seus cachorros.
Ela foi até sua cozinha nova e encheu uma caneca com suco de laranja e cortou um pedaço de queijo para comer. Com a caneca em uma mão e o pedaço enorme de queijo no outra, ela foi até sua sala e se jogou no sofá. Segurou o queijo entre os dentes e ligou a televisão. Para variar, não demorou 5 minutos e ela desligou o aparelho e voltou para a cozinha, pegando uma banana e voltou para seu quarto. Pretendia tomar banho e sair para aproveitar o sol.
Assim que saiu de casa, teve que se policiar para não ir atrás de Alex. Ela queria desesperadamente saber se ele tinha pensado no que iria fazer. Se ele iria aceitar o convite dela e agendar uma entrevista. Ela pensou que talvez ele pudesse estar com vergonha, por não ter uma casa, talvez não tivesse roupas. Ela ficaria muito feliz em ajudá-lo.
Não pensou duas vezes. Pegou um táxi e ao invés de ficar deitada no sol, sem fazer nada, na grama do Hyde Park, ela foi direto para Bankside para saber se ele estava lá.
Percorreu toda a extensão da ponte praticamente correndo. Mas diminuiu o passo quando não escutou música e também não o viu. Começou a olhar em volta para ver se ele estava por lá. Ela desceu alguns degraus e caminhou olhando para os lados, decepcionada. Por alguns segundos, achou que jamais iria encontrá-lo novamente.
– Está procurando por mim, Claire? – Perguntou Alex, que estava sentado no chão, ajustando as cordas de seu violão.
Ela se virou em um pulo e ao vê-lo, com a mesma calça do dia anterior, ela sorriu.
– Na verdade não… Estava fazendo uma caminhada. – Ela se aproximou dele e percebeu que seu coração estava ligeiramente acelerado. – Pensou na minha proposta?
– Claire… – Ele deu risada. – Você é uma pessoa bem insistente, não é?
– Um pouco. Sou insistente nas coisas que acho que preciso ser. – Ela se sentou ao lado dele e ele a olhou com surpresa. Poucas pessoas teriam feito aquilo. – Alex, preciso saber qual seria o seu problema em aceitar minha proposta. Não estou te mandando para a guilhotina! Muito pelo contrário.
– Eu sei que não está, Claire. – Claire estava começando a gostar de ouvir seu nome saindo da boca daquele homem. – Mas preciso pensar um pouco mais ainda. – Ele queria enrolá-la até seu limite. Esgotar o seu estoque de desculpas.
– Você precisa do que? De roupas? Sapatos? Eu posso conseguir isso para você.
– Não duvido que possa mesmo. Mas veja bem, eu não estou interessado em gravadoras. Por mais que você pareça ser uma pessoa de boa índole, não acho que consigo fazer isso.
– Alex, eu te ajudo no que for necessário. Mas por favor, pelo menos agende uma entrevista. Quero muito que você conheça minha chefe. Ela vai ficar louca por você, assim como eu fiquei. Você tem ideia que estou pensando em você desde ontem, sem parar?
– Nossa! Pensando coisas boas, coisas ruins ou coisas quentes? – Alex começou a rir e Claire abriu a boca, não esperava aquele tipo de comentário.
– Pensando na sua música, na sua voz. – Claire disse para ele, com os olhos cerrados. – Pare de tentar me distrair, Alex! Você não vai conseguir fazer isso, nem que me olhe com esses olhos da maneira mais envolvente que puder. – Eles ficaram se olhando por alguns segundos, mas logo ela desviou o olhar e balançou a cabeça. – Pare de me distrair! – Ela começou a rir, olhando para o chão.
– Foi você que se sentou ao meu lado. Estou quieto, na minha. – Ele levantou as mãos, dando risada.
– Você vai me ligar? Por favor, me ligue amanhã! Ou me ligue durante essa semana. Por favor, pense direito. Isso pode mudar sua vida.
– E se eu não quiser que minha vida mude? Se eu quiser que tudo continue exatamente como está? – Ele disse, sério e Claire respirou fundo. Aquele homem estava conseguindo deixá-la muitas vezes sem ar.
– Não pode querer que sua vida continue assim. Você tem um dom. E confesso que jamais corri atrás de alguém como estou correndo atrás de você. As pessoas poderiam matar umas as outras, para terem a minha indicação. Eu estou querendo lhe dar uma das melhores indicações da minha vida e você não quer, está jogando fora. Você sabe quantas pessoas queriam receber um cartão meu? – Ela pegou um cartão na bolsa e passou na ponta do nariz dele. – Muitas! Milhares de pessoas, Alex!
– Eu não duvido. – Ele começou a rir, se lembrando que havia jogado fora um cartão tão precioso e ela com certeza, iria querer matá-lo por ter feito isso.
– Do que você está rindo?
– É que… Ontem, depois que você foi embora… Eu… – Ele mordeu os lábios. – Perdi o cartão. Não sei onde coloquei. – Ele achou melhor mentir. Sabia que sua cabeça poderia rolar caso ela descobrisse a verdade.
– Não perca mais! Nunca mais! – Ela rolou os olhos e lhe entregou outro cartão, afundando-o com força na palma da mão dele. Ele sorriu enquanto sentia o toque da mão dela e guardou no bolso. – Se você perder novamente, nem sei o que farei!
– Se eu perder de novo, sei que você voltará aqui. Bom, pensando por esse lado, acho que posso perder mais alguns cartões. – Ele a fez perder o ar novamente.
– Não ouse. – Ela disse, olhando-o nos olhos.
– Não ousarei. – Ele sorriu. – Posso cantar uma música para você?
– É… – Foi pega de surpresa. Ela não esperava por aquela pergunta. – Claro. – Ela disse sorrindo, sentindo que seu coração estava cada vez mais acelerado.
– Veja se conhece essa.
Ele começou a tocar alguns acordes e logo Claire identificou a música e sentiu seu corpo todo se derreter. Era “Better Together” do Jack Johnson. À cada segundo ela se encantava ainda mais com aquele homem intrigante e misterioso. Ele parecia uma muralha, mas ela sabia que estava no caminho certo para ganhar a confiança dele e derrubar todas as pedras. Ela se sentiu feliz, muito feliz de estar ali, ao lado dele, tendo o privilégio de escutá-lo cantar. Sentia seu coração parar de bater, cada vez que ele a olhava. Queria entender o que estava acontecendo. Por que ele estava a deixando tão descompensada? Enquanto escutava a música, era como se não existisse mais ninguém no mundo, somente os dois e a música.
– Seu repertório é fabuloso, Alex. – Ela escutou o celular tocando dentro da bolsa e o procurou. – Você escreve também? – Ela pegou o celular e viu que era Tiffany. – Eu ligo para ela depois. Me diga, você escreve também?
– Sim. Rabisco algumas coisas só. Nada muito sério ou profissional.
– Entendo. – Ela olhou para o relógio. – Eu preciso ir, combinei de almoçar com minha mãe, na minha casa nova. Ela quer cozinhar pra mim. – Ela sorriu e ele a acompanhou. – Quer vir comigo? A comida da minha mãe é boa demais. Acho que ela vai fazer algum prato italiano.
– Obrigado pelo convite, mas hoje não. Quem sabe um outro dia. – Ele piscou para ela.
– Você só me diz não. Sempre não. Tudo não. – Ela ia se levantar, mas ele a segurou pela mão e eles voltaram a se olhar com intensidade. Ela perdeu o ar outra vez.
– Prometo que vou pensar com carinho. Eu ligo para você. Nem que seja para dizer que não vou aceitar, mas vou ligar. – Ele também estava sentindo seu coração bater mais forte e estava gostando de sentir isso. Era estranho, mas era uma sensação boa. Claire estava mexendo com ele também.
– Eu vou esperar. – Foi tudo que ela conseguiu dizer. Não estava conseguindo pensar direito com aqueles olhos tão brilhantes olhando para ela com tamanha intensidade. Ele pegou a mão dela que estava segurando e levou até a boca, dando um beijo delicado e sentindo o cheiro da pele dela. Ela sentiu todos os seus ossos trincarem dentro de seu corpo.
– Nos veremos mais vezes. Bom almoço com sua mãe.
– Obrigada. – Ela se levantou com uma certa dificuldade porque não estava sentindo seu corpo muito bem. Suas pernas estavam bambas. – Bom trabalho, Alex.
Ele piscou para ela e a mesma cena de repetiu. Ela indo embora, ainda mais desconcertada por ele e os dois se olhando conforme ela se afastava. Ele sentiu uma vontade repentina de correr até ela e abraçá-la, mas balançou a cabeça como quem quer dissipar pensamentos da mente. Ele se entristeceu ao pensar que nunca daria certo. Pegou o cartão dela e observou todos os detalhes, atentamente, se encostando na parede do muro que estava atrás dele.
– Claire Thompson. Headhunter. – Ele virou para olhá-la, mas ela já havia sumido. – Você está querendo mirar muito alto, Alex.
Alex guardou o violão na caixa e resolveu ir embora. Não queria mais cantar naquele dia. Queria ir para algum parque, deitar no sol e ficar pensando em Claire. Pensando também, se deve acreditar nela, pensar se deve tentar mais uma vez.