Capítulo 6
Claire pulou da cama na manhã seguinte. Ficou na festa por algum tempo e quando era por volta das 3 horas da manhã, já estava de volta no hotel. Estava ansiosa e não sabia o porquê. Mas sentia que precisava começar a fazer o que ela fazia de melhor: caçar pessoas talentosas, onde quer que elas estivessem.
Como iria sair do hotel apenas no final da tarde para ir para seu apartamento, ela decidiu sair para caminhar por Londres. Precisava ver o que havia mudado durante o tempo que havia ficado longe.
Era sábado e o sol brilhando num céu com poucas nuvens. Estava calor e Claire escolheu vestir uma camiseta branca com uma saia florida e sandálias baixas no pé, pois pretendia caminhar muito.
Passou na sorveteria Scoop e pediu um delicioso sorvete sabor tiramisu para adoçar seu dia. Foi até a região de Covent Garden e assistiu a espetáculos de dança na rua. Mas ninguém estava cantando, e esse era o seu foco.
Caminhou um pouco mais e chegou até a estação de metro de Tottenham Court Road. Tinha apenas um homem de idade, tocando um saxofone de maneira única. Ela ficou escutando por um tempo e depois jogou algumas moedas para o senhor.
Resolveu mudar seu caminho e foi para a região de Bankside, onde fica o escritório da gravadora onde estava trabalhando. Lá havia uma ponte chamada Millenium e geralmente ficavam alguns artistas, tanto na parte de cima quanto na parte de baixo.
Ela caminhou por toda a extensão da ponte e chegando ao final dela, escutou alguns acordes de violão familiares. Era uma música que ela conhecia bem e gostava muito. Aos poucos, passo a passo, foi se aproximando de onde vinha a música. Segundos depois, uma voz masculina começou a cantar a letra da música. Claire parou de caminhar no mesmo instante, com seu coração se acelerando. A música que estavam cantando, era “93 milions miles”. Ela respirou fundo e sabia o que aquela sensação significava. Voltou a caminhar e foi seguindo o som da voz do homem, que estava no final da ponte, de costas para a direção onde ela estava.
Aos poucos ela foi se aproximando e antes que pudesse chegar até ele, parou de caminhar novamente. Observou o rapaz e viu que ele era alto, usava um chapéu na cabeça e seus cabelos eram compridos e escuros. Ele estava com uma camiseta verde e uma calça jeans aparentemente velha, pois estava surrada. Ele tocava um violão e estava em pé, se balançando de um lado para o outro, ao ritmo da música. Parecia que ele estava sentindo a música com todas as partes de seu corpo.
Ela voltou a caminhar e, sem tirar os olhos dele, desceu da ponte e passou para ficar de frente para ele. Então ficou completamente sem ar, mas não entendeu o porquê. Talvez pelo fato de que ele fosse incrivelmente lindo ou talvez pelo fato de ele estar cantando uma das músicas favoritas de Claire, maravilhosamente bem. Seus olhares se cruzaram e ele sorriu para ela. Com certeza ele fazia isso para todos, mas aqueles olhos verdes cintilaram para ela.
A voz dele era incrível. Ela se sentiu hipnotizada por aquele homem e não conseguia nem descrever o talento dele. Era formidável. Palavra por palavra, ele ia embalando Claire com os pensamentos que pipocavam em sua mente. Ela não conseguia se mexer e ele ficou sem entender o porquê que ela estava daquele jeito, parecendo uma estátua parada na frente dele. Então ele apenas sorriu e terminou a canção. Ela era a única pessoa que estava ouvindo o que ele estava cantando. Passou um homem no espaço que havia entre eles e jogou uma nota dentro da caixa do violão dele. Eles ficaram se olhando por mais alguns segundos e ele resolveu puxar assunto, para saber se ela estava viva ainda.
– Gostou da minha música? – Ele disse, dando risada. Claire balançou a cabeça e as mãos, saindo do estado hipnótico em que se encontrava. Respirou fundo e continuou olhando para ele.
– Você não faz ideia. – Ela disse, soltando o ar que havia em seus pulmões.
– Que bom que tenha gostado. – Ele se sentou no chão e mexeu nas moedas e notas que haviam dentro de sua caixa e contou mentalmente a quantia que havia ali. Claire se apressou em enfiar a mão dentro de sua bolsa e pegar todas as moedas que estava soltas. Encheu a mão e se aproximou para dar as moedas na mão dele, que olhou para ela e sorriu novamente. – Obrigado pela gentileza. – Claire estava se sentindo um pouco tonta.
– Ééé… Qual é o seu nome? – Ela perguntou, cruzando os braços.
– Alex. Muito prazer. – Ele esticou o braço e deu a mão para que Claire a apertasse. Ela encontrou a mão dele e se cumprimentaram. Ele deu de ombros, como quem perguntava o nome dela também. Ela sorriu e rolou os olhos.
– Me chamo Claire.
– Belo nome. Belo como a dona. – Alex sorriu e voltou a olhar para as moedas que estavam em sua mão. Claire sentiu que ficou com o rosto completamente vermelho.
– Alex. Eu… – Ela começou a falar e precisou parar para organizar as palavras que queria falar. – Eu trabalho na London Records. Você conhece? – Ele parou de contar e segundos depois levantou a cabeça, olhando para ela com ar sério.
– Já ouvi falar. – Ele disse num tom seco, como se aquele assunto tivesse mudado seu humor.
– Pois é. Uma grande gravadora. Eu sou a headhunter deles. Todas as pessoas que eles produzem, precisam ser aprovadas por mim.
– Que bom para você. Acho que é bom para eles também. – Ele disse, despreocupadamente e sem parar de contar as moedas. – Onde quer chegar com essa conversa, Claire headhunter? – Uma ponta de sarcasmo na voz dele e Claire desconfiou.
– Gostei do que ouvi de você. Sua voz é linda. Gostaria de marcar uma entrevista para você. – Disse Claire, com sinceridade para Alex. Ele abaixou a cabeça e deu risada. Depois voltou a olhar para ela.
– Veja bem, Claire. Eu sou uma pessoa que não tem casa, não tenho família e muito menos, pretensão de chegar a algum lugar nessa vida. Minha fonte de sonhos já secou há muito tempo. O que você quer com uma pessoa como eu?
Ela escutava todas as palavras que ele estava dizendo, mas tinha que ser focada para não se perder na beleza daquele rosto. Para uma pessoa que não tinha casa, ele estava com a barba por fazer muito bem cuidada. E o sorriso dele era branco como leite.
– Alex, não estou te prometendo nada. Mas com a minha aprovação, já é metade do caminho andado. Por favor, se dê uma oportunidade.
– Eu já me dei uma oportunidade, alguns anos atrás. Fui enganado e ainda roubaram uma das minhas composições que foi vendida para um grupo de rock e que nem sabia que estava cantando uma música escrita por um sem teto. – Ele sorriu, mas tinha raiva no seu sorriso. Ele mordeu os lábios e balançou a cabeça. – Me desculpe, Claire. Mas não vai ser hoje que você vai conseguir me caçar. – Ele voltou para as moedas, guardando algumas dentro de um pequeno saco vermelho de dinheiro.
Claire não sabia mais o que falar para ele. Geralmente, as reações das pessoas quando ela os abordava, era de emoção e felicidade. Mas Alex tinha raiva. Ela jamais havia visto uma reação daquela e sentiu que talvez pudesse ir embora, mas tentar novamente outro dia. Ela tirou um cartão de dentro da sua bolsa e se abaixou na frente dele. Seus olhares se cruzaram mais uma vez e olhando aquele rosto de tão perto, ela sentiu um frio percorrer por todo seu corpo e pensou que talvez não fosse conseguir falar com ele o que queria falar. Mordeu os lábios e respirou fundo.
– Olha Alex, vou deixar um cartão meu com você. Caso mude de ideia, o que vou torcer para que mude, me ligue ou ligue na gravadora direto. Eles agendarão uma entrevista com você. E não se preocupe com o fato de você não ter uma casa, ou qualquer outra coisa. Eu posso te ajudar muito, basta você querer. – Ela deixou o cartão dentro da caixa dela, lentamente, como se estivesse com medo que ele a mordesse, como um cachorro raivoso. Sem tirar os olhos um do outro.
– Obrigado pela insistência, Claire. Vou pensar e tentar levar isso em consideração. – Disse Alex, sorrindo para ela. – Ficaram se olhando por mais alguns segundos, até que ela respirou fundo e se levantou.
– Bom, obrigada pela atenção, Alex. Pense com carinho. Por favor! – Ela uniu as duas mãos na frente do peito, como se rezasse para que ele mudasse de ideia e a procurasse, em breve.
– Vou pensar. Fique tranquila, mas não com muita esperança. – Ele piscou para ela, que abaixou os ombros, desapontada.
– Não vou desistir de você. – Ela devolveu a piscada e sorriu. – Vou deixar você continuar trabalhando. Até mais, Alex.
– Até mais, Claire.
Ela deu alguns passos para trás e depois foi embora, caminhando em direção ao Tate Museum. Olhou para trás e ele estava olhando para ela. Sorriram e ela se foi, com o coração apertado, achando que ele jamais a procuraria e pensando também que ele era um diamante bruto pronto para ser lapidado. Enquanto caminhava, totalmente sem rumo, ela lembrava de cada tom da voz dele e tinha certeza de que não iria conseguir esquecê-lo tão cedo. Teria que voltar mais vezes para convencê-lo de que precisava aceitar o convite dela.
Ele ficou observando enquanto aquela mulher linda se afastava e pensou que seria bom demais que tudo aquilo pudesse ser verdade. Mas como achava que não tinha merecimento de nada daquilo, ele não poderia fazer outra coisa. Se levantou com o cartão nas mãos, apoiando os cotovelos no muro que dava vista para o rio Tâmisa. Respirou fundo e soltou o cartão, deixando que ele caísse dentro do rio.