Capítulo 40

Três dias se passaram e Claire foi desentubada, reduziram os níveis de sedação e a transferiram para um quarto, onde alguém poderia ficar com ela. Como Alex ficava o tempo todo no hospital, saindo apenas de noite para dormir, ele estava lá quando ela foi para o quarto e ele pode ficar com ela nessa nova fase da recuperação.

– Talvez ela acorde. Já estávamos reduzindo a sedação há dois dias. Ela está bem, estável, talvez daqui a pouco ela acorde. – A enfermeira disse e Alex apenas sorriu, sentado na poltrona que ficava ao lado da cama onde ela estava. – É como se ela estivesse dormindo agora. Então, logo mais ela acordará. – Dizendo isso ela foi embora e Alex ficou sozinho com Claire.

Ele ligou para os pais dela, para Tiffany e para Rose, contando a todos sobre a boa notícia. Ele estava feliz, radiante. Não conseguia parar de olhar para ela e desejando que ela abrisse os olhos a qualquer momento.

– Será que você está num estado “Princesas da Disney”? Se eu te der um beijo, será que você acorda? – Alex sorriu sozinho. – Mas aí, se eu der o beijo e você não acordar, vou achar que não sou seu amor verdadeiro. – Ele deu risada falando sozinho.

Claire estava acordando seu corpo de dentro para fora, aos poucos. Durante todos os dias em que ficou sedada não sentiu dor alguma, mas escutou tudo o que falavam ao lado dela. A sensação de não conseguir se mexer era péssima. O tubo que estava em sua garganta incomodava e ela pensou que, se não estivesse sob efeitos de drogas medicinais pesadas, iria sentir vontade de vomitar o tempo todo.

Dormiu a maioria do tempo, mas acordava quando escutava as vozes familiares de seus pais, Alex, Tiffany e de Rose. Escutava tudo o que eles falavam e inclusive o segredo que Tiffany contou em seu ouvido, dizendo que tinha acabado de descobrir que estava grávida de Tommy, seu namorado holandês e que não iria contar para mais ninguém até que ela acordasse, mesmo para o próprio Tommy. Ele teria que esperar a recuperação de sua amiga. Claire queria pular em cima dela, mas seu corpo não se mexia e ela sentia um peso enorme na região do seu peito, na região da cirurgia.

Não conseguia esquecer que sua melhor amiga estava grávida e queria acordar logo para soltar um grito de felicidade. Então, continuou tentando acordar seu corpo e a voz de Alex a ajudava nisso. Ele estava falando algo sobre um jogo de futebol que estava assistindo na televisão, entre Chelsea e Manchester United, se ela tinha entendido bem. Ela sabia que Alex torcia para o Manchester e eles sempre entravam em rivalidade, pois ela torcia para o Chelsea.

– Mas que bosta! Seu time acabou de fazer um gol em cima do meu time, amor.

Ela fez um pequeno barulho na garganta e Alex a olhou imediatamente.

Ela queria ter força suficiente para abrir seus olhos e mexer seus músculos, mas tudo estava mais difícil do que pensara ser. Estava ficando um pouco desesperada por não conseguir fazer isso. Pensou que seria mais fácil começar pelos dedos. Então levou sua concentração para seus dedos dos pés e sentiu que aos poucos eles estavam se mexendo bem devagar e quase imperceptível.

Alex estava a olhando no rosto, pressentindo que ela iria abrir os olhos a qualquer momento. Ele mal sabia a luta interna que ela estava travando com ela mesma. Seu único desejo era que ela acordasse.

– Eu estou aqui, meu amor. Estou bem aqui… Do seu lado. E não tenho planos de mudar isso. – Ele segurou a mão de Claire e continuava a olhá-la.

Ao sentir o toque de Alex, Claire sentiu como se fossem choques elétricos percorrendo sua pele, como se tudo ali estivesse acordando, voltando a receber os impulsos dos nervos de seu corpo. Ela focou sua atenção naquela mão esquerda e mexeu seus dedos com movimentos delicados e sensíveis. Alex sentiu esse mover de dedos e olhou para suas mãos unidas. Ele sorriu, sabendo que ela estava acordada, tendo a certeza de que ela estava o ouvindo e principalmente, o sentindo.

Aos poucos, ela decidiu focar sua atenção em seus olhos. Ela queria muito olhar para o Alex e achou que abrindo os olhos, todo o resto seria mais fácil para acordar. Sentiu sua garganta arder de sede e estava sonhando com um copo de água bem fresco para se saciar. Segundo a segundo, seu corpo estava acordando e ela começou a notar a claridade do quarto que estava.

Piscava seus olhos fechados, lentamente, sem pressa. Quando sentiu que eles estava se mexendo com mais facilidade, decidiu que precisava arriscar abri-los.

– Gol! – Alex gritou, olhando para a televisão por um segundo, apenas para ver quem tinha feito o gol. Olhou de novo para Claire. – Empatamos!

Claire queria falar para ele calar a boca, pois o time dela era mil vezes melhor que o dele. Ela estava rindo por dentro. Agora tinha que acordar o quanto antes para discutir o jogo com ele. Ela tentou respirar o mais fundo que conseguia e aos poucos, foi afastando suas pálpebras. Ao receber a luz do quarto bem em cima de suas pupilas, a fazendo sentir uma dor chata nos olhos e os fechou de novo. Ela conseguiu emitir um gemido de dor que Alex entendeu perfeitamente e correu para apagar a luz que estava em cima da cabeça de Claire.

Ela notou que a claridade havia se reduzido e tentou mais uma vez. Dessa vez conseguiu e Alex viu, cada milímetro de seus olhos aparecendo novamente, como se nascessem de novo. Ela estava conseguindo focalizar aos poucos, todas as formas que havia no teto do quarto. Queria mexer seu pescoço para olhar para Alex, mas ele parecia estar concretado.

Alex apertou sua mão e ficou em pé, colocando a sua cabeça no campo de visão de Claire. Ela o viu. Instantaneamente um sorriso nasceu em seus lábios. Realmente, Alex era o melhor estímulo para acordar todo o corpo de Claire.

– Meu amor. Como é bom ver a cor dos seus olhos de novo. – Alex estava sorrindo muito e se emocionou. Ele colocou a mão no rosto de Claire e ela ainda sorria.

Ela queria dizer alguma coisa para ele, mas sua garganta estava arranhado demais e seca demais. Ela queria dizer que o amava, que estava com saudades, mas a única coisa que sua voz fraca conseguiu dizer foi:

– Água. – Ela disse, bem baixinho.

Ele sorriu e ela também. Ele encostou seus lábios nos dela e apertou o botão da enfermeira. Em segundos ela chegou ao quarto de Claire e providenciou um pouco de água para Claire beber, através de um canudinho, depois que sua cama foi ajustada para que ela ficasse com melhor visão do quarto. Ela sorriu quando viu a quantidade de flores que havia espalhada pelo seu quarto.

– Olha, eu tenho que admitir que alguns desses arranjos me deixaram com um certo ciúme. A Rose fez o favor de contar sobre o acidente com quase todo mundo, então… Tem até flor do Brandon Flowers. E eu sei que você já ficou com ele. – Alex disse dando de ombros e Claire sorriu, ainda com o canudinho na boca.

– Quer mais um pouco ou está bom? – Perguntou a enfermeira. Claire havia bebido quase toda a água que tinha no copo.

Claire ainda estava zonza e achou que a água já era suficiente para aquele momento e acenou levemente com a cabeça, indicando que já estava bom.

– Qualquer problema, é só me chamar. – Ela sorriu e saiu do quarto.

– Vou pegar os cartões para você ler, ok?

– Não, não. – Ela disse baixinho e ele se aproximou dela. – Fica aqui comigo um pouco. – Ela falava com dificuldade.

Ela já sentia que seu corpo estava quase acordado por completo. Sentia os impulsos nervosos correndo pela sua pele, pelo seu sangue e abraçando todas as células do seu corpo. Ele se sentou na beira da cama dela e segurou suas duas mãos com força.

– Estou aqui com você. Não te deixei um só instante.

– Eu sei… Eu sei… – Ela sentiu a garganta arder novamente. – Eu estou me sentindo muito fraca… O que aconteceu? Eu só lembro do tiro, mas… Lembro de outras coisas, da dor… Eu senti minha alma indo embora e voltando depois… Me conta o que aconteceu. Por favor. – Ela falava lenta e calmamente.

Alex lhe contou tudo. Disse também, que seria necessário ela ir até a delegacia para depor contra Dylan. Ele já estava preso desde o dia do acidente e não iria mais ficar em liberdade. Foi acusado de tentativa de homicídio, porte ilegal de armas e de tráfico, por conta da quantidade e variedade de drogas que fora encontrada em seu apartamento.

Claire escutou tudo atenciosamente, mas não quis dizer nada sobre isso. Estava acordada há apenas minutos e já se sentia exausta. Sem olhos estavam ficando pesados e ela sentia o sono querendo lhe dominar.

– Eu preciso dormir mais um pouco. – Ela disse e Alex lhe acariciou o rosto e a cabeça.

– Descanse mais, meu amor. Estarei aqui quando acordar. Provavelmente seus pais e amigos também. – Ele sorriu.

Ela conseguiu sorrir para ele antes que adormecesse novamente. Os medicamentos que estava tomando eram fortes e enquanto eles não saíssem de seu corpo, ela iria se sentir assim, controlada por eles.

***

Claire ficou adormecida por algumas horas. Antes de abrir os olhos, identificou todas as vozes que falavam baixinho em seu quarto. Alex, seus pais, Tiffany, Tommy, Rose e duas vozes masculinas que não conseguiu identificar. Abriu os olhos, estava deitada de lado e Alex estava sentado na poltrona, conversando com Steve. Percebeu logo que ela havia acordado e sorriu. Seu pai a olhou e seus olhos se encheram de lágrimas.

– Filha! Você acordou. – A frase de Steve chamou a atenção de todos, que se aproximaram dela.

Alex levantou novamente sua cama e ela conseguiu ver todos que estavam ali. Estava conseguindo se mexer mais facilmente e a garganta ardia um pouco menos. Olhou para todo mundo e viu que as vozes masculinas eram de Russel e Sebastian, os produtores da gravadora. Jane se aproximou da filha e grudou um beijo demorado em sua bochecha, fazendo Claire dar risada.

– Estou bem, mãe. – Ela disse baixinho ainda. – Está tudo bem agora.

– Eu não quero nem pensar se algo acontecesse com você. – Jane disse, entre lágrimas de emoção. – Tenho que cumprir todas as promessas que fiz agora. – Claire riu.

– Vai ter que cumprir sim, senhora! – Claire olhou para todos e se demorou em Tiffany. Ela compartilharam um sorriso de cumplicidade. – Eu posso conversar um pouquinho com a Tiffany? – Ela disse e todos ficaram sem entender muita coisa, mas Tiffany sabia exatamente o que a amiga queria e já começou a chorar. Alex sorriu.

– Vamos tomar um café e já voltamos. – Alex piscou para Steve, que puxou Jane e Tommy deu um beijo na testa de Tiffany antes de sair com todos.

Tiffany e Claire sorriam uma para a outra e Tif de aproximou da cama da amiga, lhe deu um beijo na testa e se sentou na beira da cama.

– Eu não estava sonhando e nem dormindo. Eu me lembro de tudo o que você me disse. Eu estava em coma, mas me lembro de tudo o que ouvia quando estava consciente. Você está grávida, Tif! – Claire estava sorrindo muito e falava pausadamente. Tif abaixou a cabeça sorrindo e seus olhos se inundaram. Depois olhou de volta para Claire.

– Estou, amiga. Estou grávida de 4 semanas. Fiz o teste de farmácia no dia do seu acidente e peguei o resultado do exame de sangue ontem. Positivo. Estou super grávida. – Tif estava radiante, seus olhos brilhavam.

– Estou muito feliz por você, minha amiga. Muito feliz. – Claire estava com um sorriso estampado no rosto e Tif apertava sua mão. – Vai sair um bebê lindo. Vocês dois formam um casal incrível de tão lindo.

– O Tommy é o homem da minha vida. Eu o amo demais. Tudo aconteceu tão depressa… Mas acho que era exatamente assim que deveria acontecer. Se eu parasse para pensar, nada disso teria acontecido e eu nem estaria namorando com ele.

– Você já contou para alguém?

– Não. Só para você. Mantive minha promessa. Agora que você acordou, contarei para o Tommy hoje de noite. Ele quer ir jantar no restaurante do Gordon Ramsay.

– Todo mundo ama o restaurante do Gordon. Se ele estiver por lá, diga que recebi o e-mail semana passada, mas que levei um tiro e não consegui responder. – Claire disse, tentando se ajeitar melhor na cama.

– Pode deixar que darei o recado. – Elas ficaram se olhando em silêncio.

– Você será uma grávida linda, Tiffany… Se eu não for a madrinha deste bebê e a madrinha do casamento, irei criar alguns tipos de bomba especialmente para detonar perto de você. – Elas deram risada e Tif beijou o rosto de Claire, deixando escapar uma pequena lágrima no canto do olho.

– Vou pensar no seu caso. – Tif enxugou a lágrima com um dos dedos e Claire ainda sentia a garganta incomodar.

– Amiga, me passe aquele copo com água, por favor.

Minutos depois todos voltaram para perto de Claire, mas logo Rose foi embora com os produtores. Eles contaram as novidades de Alex e Claire se encheu de orgulho, queria ficar boa logo para ajudar em tudo isso.

Tif estava um pouco enjoada, então foi embora com Tommy. Jane e Steve estavam cansados, em pouco tempo foram embora também. Mais flores chegavam e Alex iria passar a noite com ela no hospital.

– Quer ler os cartões agora? – Perguntou Alex, enrolado em um cobertor felpudo que o hospital disponibilizava para os acompanhantes dos internados.

– Quero. Quero muito. – Claire estava sentada na cama, confortavelmente. Olhou para todos os arranjos de flores e escolheu. – Quero aquele de orquídeas brancas. – Disse, apontando. Alex foi buscar e entregou na mão dela. Não queria quebrar sua privacidade. Ela leu em voz alta.

“Querida Claire. Fico feliz que esteja se recuperando desse acidente horrível, mas também fico feliz por saber que esse bandido irá apodrecer na cadeia. Estou torcendo por você. Um beijo. Rihanna”.

– Que honra. – Alex disse e eles deram risada. – Quer mais? – Ela acenou com a cabeça e apontou para outros tantos arranjos.

Foram 18 cartões ao todo. Artistas, familiares e amigos. Claire estava se sentindo muito amada e querida por todos. Todas as palavras que leu, foram apenas um combustível a mais para que ela não desistisse de nada. Até mesmo Matthew lhe enviou tulipas vermelhas, as flores favoritas de Claire, para que houvesse uma agulhada de ciúme no ego de Alex.

Por volta das 21 horas, Claire pediu a ajuda de Alex para tomar banho. Eles não sabiam se iriam levar bronca da equipe de enfermagem, mas quiseram arriscar mesmo assim. Ela se demorou na frente do espelho, nua, e pode ver as marcas em seu corpo, feitas pela cirurgia. Um grande hematoma se espalhava por toda a extensão de seu peito e havia curativos na área onde ela fora operada. Em apenas quatro dias internada, ela pode perceber que já havia emagrecido alguns quilos, devido a imobilidade do coma que se encontrava.

– Ele queria ter me matado, Alex. – Claire disse, enquanto ainda se olhava no espelho. Alex, que estava ajustando a temperatura da água no chuveiro, se aproximou e a abraçou pelas costas, lhe beijando o topo da cabeça.

– Ele queria, mas não matou. Você está aqui. Vai ficar tudo bem agora. Ele está preso e de lá, você sabe que ele não sai. – Alex disse. Claire apenas confirmou com a cabeça. Começou a sorrir olhando para os olhos claros de seu amor e ele lhe mordeu a ponta a orelha. – Por que está rindo?

– Royal Albert Hall? – Ela perguntou e eles sorriram juntos.

– Pois é. Acho que você fez um bom trabalho comigo.

– Meu trabalho não valeria de nada, caso você não fosse bom de verdade. – Ela se virou para ele e o olhou intensamente nos olhos. – Já pensou se eu não tivesse voltado até aquela ponte e lhe entregado outro cartão? Afinal… O primeiro você jogou no rio. – Ela deu de ombros.

– Ainda bem que você voltou. – Ele arrumou os cabelos soltos dela atrás das orelhas e segurou seu rosto entre suas mãos. – Se não tivesse voltado, eu jamais saberia a sensação de se ter a coisa mais preciosa de sua vida, entre suas mãos. Como tenho neste momento.

Eles sorriram e se beijaram delicadamente.

Suas vidas estavam predestinadas a serem compartilhadas uma com a outra. O amor que sentiam era maior do que a compreensão possível de suas mentes. Eles sabiam o quão forte era, pois sentiam isso. Mas era algo impossível de ser explicado.

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