Capítulo 4
Após o trabalho, naquele mesmo dia, Claire encontrou sua mãe e ela a levou até uma grande loja de móveis perto da Oxford. Claire estava com o e-mail de todas as medidas do apartamento e queria comprar tudo certo para a decoração de sua nova casa.
O primeiro item de sua lista de compras era uma cama, a maior possível. Seu quarto seria grande e pretendia preencher da melhor maneira possível todos os cantos. Comprou uma cama enorme e também diversos conjuntos de lençol e edredons fofos e macios para a cama enorme. Sua mãe era boa em decoração e a ajudou a combinar tudo que fosse possível.
Claire conseguiu comprar os sofás, tapetes, mesa de jantar, poltronas, mesa para seu futuro escritório e diversos itens de decoração como abajur, vasos e prateleiras. Duas horas depois, estava exausta e ainda tinha muito mais para comprar. Como iria se mudar entre os próximos dias e suas compras demorariam por volta de 2 dias para serem entregues, ela desistiu de continuar. Queria voltar para seu hotel e descansar. O dia estava corrido e ela não havia descansado um minuto.
– Mamãe, obrigada por ter vindo comigo. Acho que o principal dessa loja em já comprei. Vou procurar algumas coisas pela internet. Talvez eu consiga achar televisão e outros eletrônicos por sites. Acho que será mais fácil. – Elas estavam chegando até o carro de Jane, que estava no estacionamento da loja.
– Acho que o principal você já comprou mesmo. O mais graúdo. Agora precisa comprar os detalhes. Seu closet tem prateleiras? – Perguntou Jane, enquanto dava a partida no carro.
– Não vou precisar fazer nada no closet. Apenas limpá-lo e enchê-lo de roupas. – Claire sorriu. – Aliás, a senhora ainda tem aquela moça que limpava sua casa? Qual era mesmo o nome dela?
– Mary. A Mary ainda vai até minha casa. Quer que eu ligue para ela e veja se tem algum dia disponível para ir limpar o apartamento pra você?
– Quero! Pode ligar para ela agora? Se ela pudesse ir amanhã, seria perfeito. – Claire cruzou os dedos, querendo sorte para que Mary estivesse com horário vago no dia seguinte.
– Acho que tenho o telefone dela aqui no celular. – Jane pegou o celular e passou para Claire. – Procure e ligue para ela. Veja se ela tem.
Claire procurou o nome de Mary na lista de contatos e ligou. Conversou por poucos segundos com ela e combinaram a limpeza do apartamento para quinta-feira. Infelizmente, ela já estava com a quarta-feira ocupada. Mas como pretendia se mudar no final de semana, estava tranquila. Claire não queria fazer nada às pressas para que saísse algo errado.
Sua mãe a deixou no hotel e ela correu para tomar um banho. Estava cansada mentalmente. Estava triste por ter conseguido achar apenas uma banda entre todas as 35 avaliações que fez aquele dia. Tinha contado e havia mais 368 Cds para avaliar. Tinha trabalho para a semana toda. Ela queria achar pelo menos 10 entre todos esses. Quanto mais entrevistas eles marcassem, era melhor. Queria dar oportunidades e chances para as pessoas que tinham o sonho de se tornarem famosos. Mas claro, ela queria dar essa chance para quem realmente tinha o talento, não queria fazer isso só por piedade. Tinha que ser por merecimento também.
Depois de um belo banho, Claire ficou deitada em sua cama jantando um cheeseburguer com batatas fritas que havia pedido para o jantar. Ficou assistindo televisão por alguns minutos, mas como sempre, se irritou e logo desligou o aparelho.
– Não sei porque quero comprar uma televisão, sendo que nem consigo assistir mais que 5 minutos dessas porcarias que passam. – Ela pegou seu notebook e ficou navegando pelos sites de eletrônicos para comprar pela internet tudo o que ainda faltava, ou pelo menos uma parte.
Seu Skype estava ligado e assim que iniciou uma compra de um belo home theater, Matthew ligou para ela. Assim que viu sua chamada, o coração de Claire se acelerou. Ela não havia respondido a mensagem estúpida que ele havia mandado e não sabia se queria falar com ele. Demorou alguns segundos, mas acabou aceitando a ligação. Assim que se conectaram, a imagem dele apareceu enorme em sua frente e ela teve que se controlar muito para não cair aos prantos.
– Claire! – Matthew disse com a voz mais suave possível. – Como você está?
– Como eu estou? – Ela repetiu a pergunta e pensou que poderia estar melhor, se não fosse pelo fato de ele ter terminado tudo com ela, virtualmente. – Estou bem, Matthew. Bem cansada, mas estou bem. Acho que poderia estar melhor.
– Eu sei. Me desculpe por ter escrito aquela mensagem à você. Eu fui frio, indelicado e um babaca. – Ele mordeu os lábios. – Me desculpe. Não queria que tivesse acontecido desse jeito.
– Mas não pensou duas vezes em terminar tudo. Você nem ao menos cogitou a ideia de vir conhecer minha cidade, meus pais, meus amigos… Nada! Você simplesmente decidiu e nem discutiu as possibilidades comigo. – Claire sentiu seus olhos ficando um pouco úmidos.
– Eu sei, eu sei disso. Você está certa. Eu fui um cara muito idiota. Mas passei essas últimas horas pensando e acho que podemos conversar sobre uma possível volta. O que acha? – Matthew ergueu as sobrancelhas e Claire balançou a cabeça.
– Não Matthew. Agora eu não vou conseguir fazer isso. Estou muito magoada e se voltarmos agora, não vai mais ser a mesma coisa. Preciso de um tempo sozinha aqui. Para organizar minha mente, organizar minha vida, organizar meu coração… – Ela olhou para baixo e puxou o ar pelo nariz, fazendo um barulho de entupido. – Nossas últimas brigas foram absurdamente dolorosas, Matthew. Você não economizou em despejar defeitos sobre tudo. Sobre Londres, sobre o futuro da minha carreira e até mesmo, sobre minha inteligência. Nada disso foi legal. Me senti um lixo!
– Eu sei, eu sei! Eu acho você a mulher mais inteligente do mundo e a mais dedicada no que faz. Foi apenas um apelo desesperado para que você ficasse. Mas não funcionou. Perdi você assim que entrou naquele avião, voltando para sua casa.
– Talvez você tenha perdido mesmo, Mat. E posso ficar com minha consciência tranquila, porque tentei tudo o que foi possível para que ficássemos juntos. Você foi irredutível e não quis tentar nada. – Claire deixou escapar uma lágrima sentida, pelo canto de seu olho e Matthew a olhava pela tela do computador, sem dizer nada. Ele sabia que ela estava machucada e que ele havia feito com que ela se sentisse dessa forma. Talvez ele nunca fosse se perdoar por isso.
– Claire, se você descobrir algum jeito que eu possa consertar tudo isso, me avise. Eu o farei sem pensar duas vezes. – Matthew mordeu os lábios de novo, esperando o que Claire iria dizer.
– Tudo bem… Se um dia eu descobrir isso, eu te falo. – O celular de Claire começou a tocar ao seu lado. Era Tiffany. – Preciso desligar. Nos falamos outro dia.
– Tudo bem. Se cuida. Um beijão. – Ela apenas sorriu e lhe mandou um beijo, depois desligando a conexão. Em seguida, atendeu a ligação de sua querida amiga.
– Claire! Estou em um pub na Carnaby Street! Vem pra cá! Venha tomar uma cerveja comigo! Isso é uma ordem! – Tiffany gargalhava ao telefone e Claire a acompanhou. Talvez fosse exatamente o que ela precisava, ao invés de dormir mais cedo.
– Me dê alguns minutos que logo estarei aí. – Disse Claire, escutando a amiga gritando do outro lado da linha para as pessoas que a acompanhava “Ela veeeeem” e Claire deu mais risada.
– Estamos te esperando, gata! Um beijo.
Claire olhou no relógio e viu que era perto das 21 horas da noite. Deu de ombros e fechou o notebook, pulando para fora da cama e indo se arrumar para uma noite de risadas e cervejas em algum pub. Estava feliz.
***
– Escutem, escutem. Essa mulher, – disse Tiffany, passando o braço pelo pescoço de Claire – é a melhor mulher que eu conheço. Além de linda, é disputada com unhas e dentes pelas gravadoras do mundo todo! E para onde ela escolheu voltar? Para a melhor cidade do universo! – Tiffany estava visivelmente embriagada e Claire ria da amiga, mas também se corava de vergonha pelo discurso dela, como se Tif quisesse vender a amiga para algum daqueles seus amigos bonitos e que pareciam muito receptivos. – Ela não é para o bico de vocês, por isso já estou avisando. Tirem o olho! – Tiffany passou o braço pela cintura de Claire e a levou para longe dos rapazes que estava em seu grupo de amigos. Todos estavam babando por Claire.
– Tif, sua louca! O que você está fazendo? Para onde está me levando? Quero pegar uma cerveja, caramba! – Claire parou no meio do pub e as duas davam risada. Claire estava se divertindo com a amiga.
– Estou valorizando seu passe, amiga! Ou você acha que eles não estão babando por você. – Tiffany olhou por cima dos ombros de Claire e viu que todos os 5 rapazes estavam olhando para elas, deu risada. – Viu só?! Todos estão olhando para nós e pode ter certeza de que não estão olhando para mim.
– Para de loucura e vamos para o bar, quero pedir uma cerveja. Preciso muito beber hoje. Pelo menos tentar beber, para relaxar. – As duas voltaram para o grupo de amigos de Tif.
Não demorou muito tempo para que um dos rapazes, obviamente o mais corajoso, puxasse papo com Claire. Ela não estava muito empolgada, mas conversou animadamente com o rapaz, respondendo educadamente a todas as perguntas que ele fazia sobre seu trabalho.
Ela não estava com a intenção de paquerar ninguém e muito menos de ser paquerada, quando saiu do hotel. Mas estava se sentindo bem ao ser o centro das atenções entre homens bonitos e aparentemente interessantes. Sempre gostou de fazer novas amizades e ela estava precisando se distrair. Estava com receio de ter alguma recaída caso permanecesse sozinha no hotel. Tinha até pensado em aceitar a salada de frutas do pai, mas sair para beber foi bem melhor. Davam risada e Claire se divertia com a amiga, que há muito tempo não via embriagada.
– Acho que vou preferir que você me leve para casa, amiga. – Disse Tif, colocando as mãos e depois o queixo em cima do ombro de Claire, que ainda estava conversando com Sam. – Sam, eu preciso ir embora, amanhã vou acordar muito cedo. E tenho certeza que vou acordar de ressaca. Maldita ressaca!
– Tif, eu te levaria numa boa. Mas você esqueceu que eu voltei pra cidade ontem? Ainda não tenho carro, baby. – Claire puxou a amiga para se sentar no seu colo.
– Eu levo vocês. Sem problema nenhum. – Disse Sam, abrindo um sorriso e olhando para Claire. – Querem ir agora?
– Pooooor favor! Eu preciso ir embora agora. Talvez eu vomite mais tarde, então quero estar na minha casa. – Os dois riram de Tiffany e Claire revirou os olhos.
Em poucos minutos já estavam os três dentro do carro de Sam e Tif havia praticamente empurrado Claire para se sentar na frente com ele, alegando que precisava deitar no banco de trás inteiro.
Como estavam na Carnaby Street, Tiffany foi a primeira a ser deixada, pois estavam perto de sua casa. Ela desceu cambaleando do carro, deu um abraço e um beijo na amiga pela janela do carro e alertou Sam.
– Leve-a direto para o hotel e sem gracinhas! Já disse que ela não é para seu bico. – Claire cobriu os olhos dando risada da amiga e Tiffany foi tentar abrir a porta de seu prédio. Depois de algumas tentativas, ela conseguiu abrir e acenou para os dois, sumindo para dentro segundos depois. Sam e Claire se olharam e sorriram.
– Me diga onde você está hospedada, para que eu possa te levar direto e sem gracinhas. – Os dois deram risada.
– Estou no Savoy. Sabe onde é?
– Claro. É perto daqui também. – Ele foi saindo com o carro. – Então, você estava me contando sobre aquele trabalho em Dubai quando saímos do pub. E você conseguiu convencer os pais das meninas?
– Infelizmente não. Elas eram tão talentosas que me partiu o coração. Elas queriam muito tentar, eu já tinha gravadora para levá-las… Mas os pais não deixaram. Questão de religião, costumes. Eles são extremamente rígidos.
– Eu imagino. Fui para Dubai algumas vezes a trabalho e confesso que fiquei me policiando muito, para não cometer nada que eles pudessem considerar como crime. – Eles riram.
– É verdade. É bem assim que eu me sentia. Ficava com medo até de tomar um sorvete na rua. Eu pensava “Será que é permitido? Será que eu preciso voltar para a sorveteria?”
– Exatamente! – Sam deu risada e eles se olharam novamente. – Como seu namorado não quis te acompanhar? Ele tem algum problema? Não se deixa uma mulher tão linda assim, solta pelo mundo. – Sam sorriu e Claire mordeu os lábios. Tif havia contado para Sam que ela tinha levado um fora e que ele deveria animá-la. Claire fez uma nota mental de que deveria puxar a orelha da amiga do dia seguinte, sem piedade, mesmo que ela estivesse na pior ressaca já registrada.
– Ah! – Claire balançou a cabeça. – Ele tem a vida dele em New York, seria um erro que ele viesse para cá. E eu estava querendo muito arranjar um bom pretexto para voltar. Já morei muito tempo fora, já conheci o mundo e está na hora de sossegar um pouco. Quem sabe daqui uns anos eu volte a querer sair por aí, conhecendo lugares que nunca fui. Mas agora, quero ficar aqui. Quero curtir minha família, amigos. Recomeçar minha vida aqui.
– Eu te entendo e fico feliz que queira permanecer em Londres. Mais fácil para poder te encontrar novamente qualquer dia desses. – Eles sorriram e alguns segundos depois, Sam estacionou o carro na frente do hotel de Claire.
– Obrigada pela carona, Sam. Vamos nos ver novamente, com certeza.
Claire sorriu e se aproximou para dar um beijo no rosto de Sam. Ele a abraçou forte e deu um beijo demorado em sua bochecha. Ele aproveitou para respirar mais perto da pele de Claire e sentir o cheiro de seu perfume. Depois se afastaram e ele deixou o braço sob os ombros de Claire. Se olharam por alguns segundos.
– Até mais, Sam. – Ela sorriu e se afastou, abrindo a porta do carro. Ele segurou a mão dela.
– Quero muito te ver de novo, Claire. De verdade. – Sam disse, de modo honesto e ela apenas sorriu para ele e assentiu, sem dizer nada. Saiu do carro e foi caminhando para dentro do hotel. Ao passar pela porta, olhou para trás e viu que Sam ainda estava olhando para ela.
Claire se jogou na cama, olhando para o teto de seu quarto. Tinha se divertido muito naquela noite, mas acima de tudo, estava gostando de voltar a se sentir desejada. Era uma sensação boa para tentar começar tudo de novo. Por mais que ela estivesse cansada de sempre começar, sabia que as coisas iriam acontecer na hora certa.
Ela ainda estava esperando por aquele sentimento avassalador que nunca havia sentido. Ou pelo menos, achava que nunca tinha sentido.