Capítulo 39
Tiffany passou pela porta do hospital London Bridge correndo e procurou pelo local onde Alex havia dito que estava. Ela chorava e não sabia muito bem como havia chegado ali e nem se havia dado o dinheiro certo ao taxista. Em pouco segundos de busca, encontrou Alex sentado sozinho numa sala fria com poucas cadeiras. Ela parou e percebeu que precisava respirar. Ele estava com os cabelos soltos e com a cabeça baixa, apoiada entre suas mãos. Tiffany chorou mais ao ver algumas marcas de sangue na roupa dele e Alex a ouviu. Ao se verem, ela correu até ele e o abraçou, soluçando.
– O que aconteceu? – Ela perguntou entre os soluços.
Quando ele ia começar a falar, Steve e Jane chegaram na sala e Jane chorava. Alex os abraçou e Jane se demorou no abraço.
– Como está a minha menina? – Perguntou Jane.
– Os médicos me disseram que seria preciso fazer uma cirurgia para retirar a bala. Ela teve sorte que o coração não foi atingido e não houve sérios danos no pulmão. – Alex falava de maneira exausta e meio perdido. – Não me disseram mais nada e eu estou aqui esperando há horas.
– Mas você nos ligou agora a pouco! Que horas isso aconteceu? – Perguntou Jane, chorando.
– Me desculpem por ter demorado para ligar. Eu não estava conseguindo pensar e nem me acalmar para poder falar. Desculpem. – Ele se sentou, pois sentia dor em todo seu corpo. Era como se ele tivesse sido atropelado por um trem. Jane se sentou ao lado dele e lhe segurou a mão.
– Quem fez isso, Alex? – Perguntou Steve.
– Aquele produtor que morava no meu prédio, que ela despediu da gravadora alguns meses atrás. Ele estava com raiva dela por ter feito isso e queria se vingar. Ele estava completamente fora de si. – Alex falava olhando para o chão. – Nós havíamos brigado por causa dele e ela tinha ido até lá para que a gente pudesse conversar. – Alex mordeu os lábios e fechou os olhos, tentando evitar que as lágrimas escorressem por seu rosto. – Estávamos indo para a casa dela quando ele apareceu e a discussão começou. – Alex olhou para Steve, depois para Tiffany e por último para Jane, ao seu lado. – Eu tentei entrar na frente mas… – E ele se despencou em lágrimas. Jane passou o braço por ele e apoiou sua testa em seu ombro e chorou também.
– Ela vai ficar bem. – Steve disse, tentando se manter calmo e se sentando ao lado de Jane.
– A culpa não é sua, Alex. – Tiffany disse e Alex a olhou. – Não pense que é sua.
Mais algumas horas se passaram até que um médico entrou na sala e todos se levantaram em um pulo.
– Calma, gente. Eu trago boas notícias sobre o estado da Claire. – O médico sorriu e todos voltaram a respirar aliviados. – A cirurgia foi um sucesso e conseguimos fazer tudo o que era preciso. Ela precisou tomar sangue, mas está bem, estável e a bala foi retirada. Ainda vamos mantê-la sedada, pois precisamos ver como o pulmão dela vai reagir, portanto a respiração mecânica vai continuar por mais algum tempo. Não sabemos bem ao certo, tudo vai depender da recuperação dela. Mas estamos esperançosos, pois tudo correu como deveria correr.
– Podemos vê-la? – Perguntou Alex.
– Ela sofreu uma grande cirurgia, está entubada. Acho melhor vocês irem para casa e voltarem amanhã para visitá-la. Ela está bem. Eu garanto que ela está bem.
– Por favor, eu quero muito ver minha filha. – Disse Jane, quase suplicando ao médico, que ficou pensativo.
– Tudo bem, mas apenas dois de vocês.
Steve olhou para Jane, que olhou para Alex e Tiffany se sentou, já desistindo de tentar sabendo que não iria conseguir passar por cima dos pais dela ou do amor de Alex.
– Podem ir vocês dois. – Steve disse, falando para Jane e Alex.
– Não Steve, pode ir com a Jane. Eu espero até amanhã. – Alex disse, mas era mentira, pois se ele não entrasse, tinha decidido que dormiria no hospital.
– Alex, pode ir com a Jane. Não quero ver minha filha nesse estado. Meu coração ainda está se recuperando do infarto. – Steve disse, se sentando ao lado de Tiffany. – Eu espero vocês aqui, fazendo companhia para a Tiffany.
– Dê um beijo nela por nós. – Tif disse e sorriu sem mostrar os dentes.
Jane segurou no braço de Alex e eles foram acompanhando o médico. Tiveram que passar por uma sala para vestirem roupas especiais e máscaras para entrar na UTI do hospital. Passaram por outras portas até chegar em um lugar gelado, que cheirava sofrimento. Se não fosse pelo bipe dos aparelhos, aquele seria um lugar silencioso. As pessoas que trabalhavam ali eram quietas e quando falavam, era em um tom muito baixo, quase um sussurro.
Ao ver Claire de longe, Alex sentiu suas pernas ficarem adormecidas e Jane se apoiou ainda mais em seu braço. O médico parou ao lado da maca de Claire e ficou olhando para o aparelho de ventilação mecânica, ajustou alguma coisa e olhou para Claire.
– Ela está bem. Mas vai ficar nessa situação por alguns dias, até termos certeza de que a cirurgia realmente foi efetiva, até os seus níveis ficarem bons novamente. Ela perdeu muito sangue, a bala quase acertou o coração. Enfim… Podem ficar aqui com ela por alguns minutos. Vou até ali fazer algumas anotações e já volto para acompanhá-los. – E o médico saiu.
Jane se soltou do braço de Alex e deu um passo a frente, segurando na barra da maca que ela estava. Olhava a filha com desespero e queria ser capaz de trocar de lugar com ela. Mas ficou consolada ao saber que ela estava bem, apesar de estar sedada.
Alex caminhou em volta da maca e foi até perto de Claire, não sabia se podia colocar a mão nela, olhou em sua volta e não viu ninguém por ali. Ele a olhou e passou delicadamente a mão nos cabelos dela, que agora estavam presos. Ele se abaixou e ficou bem perto do ouvido dela. Disse bem baixinho para que somente ela escutasse.
– Amor, você vai ficar bem e eu vou ficar por aqui, esperando você acordar. Eu sei que está me ouvindo, então trate de ficar bem logo, ok?! Eu te amo muito. – E se aproximou dela, lhe dando um leve beijo no rosto.
– Olha, Alex. – Jane apontou para o aparelho que marcava os batimentos cardiácos dela e perceberam que eles tinham subido ligeiramente enquanto ele falava com ela e mais ainda, quando ele a beijou no rosto. Alex olhou para Jane e sorriram. – Ela te escutou. Filha, você escutou o Alex, está me escutando também. – Jane foi para o outro lado da maca e acariciou o rosto de Claire. – Nós te amamos muito, minha filha linda. – Jane se emocionou e voltou a chorar. Não conseguiu dizer mais nada.
– Nós te amamos muito. Seu pai e Tiffany estão lá fora e te mandaram um beijo. Eles virão te visitar amanhã. Hoje eles não podem entrar. Claire, vai dar tudo certo. Você vai voltar para nós logo. – Alex sorriu e se abaixou para falar baixinho no ouvido dela de novo. – Eu te amo, te amo, te amo, te amo, te amo.
Ele pode ver que os olhos dela estavam tremendo de leve e uma pequenina lágrima escorreu do canto de seu olho. Ele sorriu por ter certeza de que ela estava os ouvindo e sentindo tudo o que sentiria se não estivesse sedada.
– Já a viram? – Disse o médico surgindo do nada e assustando os dois, quebrando o encanto do momento.
– Sim, sim. Vamos, Alex? – Jane disse.
Alex deu uma última olhada para Claire e sorriu, segurando sua mão e apertando, para que ela pudesse sentir seu toque.
– Tchau, filha. Até amanhã. – Disse Jane saindo de perto da maca.
– Amanhã estamos aqui de novo. Descanse bem, meu amor. – Alex soltou a mão de Claire com um grande pesar, pois não queria sair dali até que ela acordasse.
– Amanhã ela estará melhor, podem ter certeza. – O médico disse, dando um tapinha nas costas de Alex e os acompanhando até a saída.
Alex estava sentindo como se tivessem tirado um elefante das costas, sabendo que ela estava reagindo e que estava estável. Ele ficou feliz por saber que as chances de perdê-la haviam diminuído.
Jane abraçou Steve forte quando chegou na sala, sorrindo.
– Ela reagiu quando o Alex falou com ela, quando eu falei com ela. Vai dar tudo certo e ela vai voltar. Ela vai voltar para nós, Steve. – Jane afundou seu rosto no peito de Steve e chorou de emoção.
Tiffany respirou fundo e olhou para Alex. Eles trocaram um olhar cúmplice e não precisaram dizer nada um pro outro, para saberem que compartilhavam do mesmo sentimento de alívio. Alex apenas assentiu com a cabeça e Tiffany sorriu. Ela sabia que a amiga estava nas melhores mãos que poderia estar. Ela viu o amor que reluzia nos olhos dele e tinha a certeza de que aquilo era verdadeiro.
***
Alex dormiu no seu apartamento e logo de manhã esperou o pessoal que iria fazer a mudança para Wembley Park. Depois de tudo resolvido, pegou o carro de Claire e o levou para o lugar onde deveria ficar, no prédio dela. De lá, ele pegou um táxi e foi para a gravadora, pois precisava falar com Rose sobre o que havia acontecido. Ela com certeza já havia tentando ligar no celular de Claire, mas ele estava com Alex e a bateria havia acabado durante a madrugada.
Entrou na gravadora e foi direto procurar Rose, que estava saindo da sala de Claire e quando viu Alex, abriu os braços.
– Onde está a Claire, Alex querido? – Rose disse, num tom ardido de voz.
– Preciso falar com você, Rose. Aconteceu uma coisa ontem de noite.
Foram para a sala de Rose e Alex lhe contou tudo. A reconciliação, a felicidade por ele mudar de apartamento, o encontro com Dylan, a discussão com ele, o disparo, a prisão dele, a parada de Claire, a operação, a melhora no quadro dela e a reação quando Alex falou em seu ouvido. Rose ficou em estado de choque, caminhando pela sua sala e extremamente nervosa, queria sair correndo para ir ao hospital no mesmo momento.
– A visita é só mais tarde, Rose. Mas ela continua sedada, não vai adiantar muito você ir até lá. – Alex tentou acalmá-la. – Ela vai melhorar, o médico disse que ela vai melhorar. Nós teremos nossa Claire de volta aqui.
– Esse Dylan merece apodrecer na cadeia. Menino desgraçado, maldito. Eu sempre desconfiei que havia algo de errado nele, mas nunca pensei que pudesse ser algo assim, tão macabro, tão tenebroso. Ele é um criminoso.
– Sim, e como todos os criminosos, ele vai ficar preso. Muitas pessoas testemunharam tudo, dessa vez ele não vai conseguir escapar.
– Se ele escapar, eu o mato com minhas próprias mãos. – Rose fez um gesto como se estivesse esmagando algo entre suas mãos. Alex sorriu.
– Ele vai precisar de algumas vidas, pois você não é a única que o mata se ele escapar disso.
– Espero que não seja a única mesmo. – Rose se sentou em sua cadeira e ficou pensando por alguns segundos. – Você recebeu seu primeiro pedido de show. Querem gravar um show seu, no Royal Albert Hall. – Rose disse e Alex arregalou os olhos. – Mas eu não posso dar sequência em nada disso enquanto a Claire estiver hospitalizada.
– Onde? – Alex não estava acreditando.
– No Royal Albert Hall. Quase 9 mil pessoas te escutando. Depois do sucesso do seu show de sexta, uma empresa de eventos quer promover seu show lá. Eles acham que vai ser ótimo e todos nós iremos ganhar dinheiro. Na verdade não é só isso. Recebi muitos e-mails sobre você durante o final de semana. Entrevistas em talk shows, entrevistas para revistas de músicas, sites, jornais, etc. É muita coisa e você vai precisar fazer isso sem fraquejar, ok?!
– Eu farei tudo o que aparecer. Mas não vou fazer nada enquanto ela estiver lá.
– Tudo bem. Entendo perfeitamente. Vou avisar a todos que vai haver um atraso para tudo isso e ficamos em stand by, esperando a melhora dela.
– Royal Albert Hall? Mesmo? – Ele sorriu e ainda não acreditava.
– Siiiiim, Alex. Não me faça repetir. – Rose sorriu. – Você está caminhando para o sucesso. Ah! Olha o que eu já achei no Facebook. – Ela virou a tela do computador para ele e mostrou uma página para os fãs de Alex Robinson.
– Eu tenho um fã clube? – Ele deu risada.
– Sim. Bem que a Claire disse que você iria dar trabalho com as mulheres. Lindo do jeito que você é e com essa voz… A Claire vai precisar ser muito paciente.
– Não existe outra mulher no mundo pra mim. Ela tem tudo que eu preciso. Não tenho motivo para sair procurando outras mulheres. – Alex disse e seus olhos brilharam. Rose sorriu.
– Eu sei disso. Nunca duvidei que seria diferente.
– Royal Albert Hall? – Alex deu risada e Rose revirou os olhos sorrindo.
– Se você me perguntar mais uma vez, vou jogar meu sapato na sua cabeça, ok?!