Capítulo 38

Quando Claire terminou de contar sua história, Alex estava tenso, apertando uma mão na outra e seus nós dos dedos estavam brancos, de tanto que estavam sendo apertados uns contra os outros. Ele queria sair daquela sala e procurar esse tal de Juan para bater nele até a morte. Mas tentou parecer calmo e não tão chocado com a história de Claire.

– E o que aconteceu depois? – Ele perguntou, engolindo seco.

– Eu fui para o hospital, tive uma fratura parcial da mandíbula e cuidaram dos meus machucados. Mas o soco que ele me deu na boca, deixou minha cabeça um pouco sensível, por um tempo. Tinha dores de cabeça absurdas e demorei para voltar a dormir tranquila.

– Você falou com a polícia? Ele foi preso?

– Um dia depois, a polícia foi até o hospital me interrogar. Contei tudo e algumas horas depois, eles já tinham o endereço do Juan e foram até a casa dele. Mas ao chegar lá, eles o encontraram sem vida. Ele teve uma overdose de cocaína. O caso foi arquivado, eu retirei a queixa e guardei segredo disso até hoje. A única pessoa que sabia de tudo, era a Tiffany. Mas depois do que aconteceu sexta… Eu precisava pensar para decidir se eu te contava ou não, para que você pudesse entender… – Ela respirou fundo para tentar desengasgar as palavras que estavam em sua garganta. – Para que você entendesse o porquê da minha aversão tão grande a isso. – Sentiu seus olhos ficarem úmidos e Alex lhe segurou as mãos. – Eu sei que você fez aquilo porque estava com medo, inseguro… Eu sei a sensação que isso dá. Foi uma espécie de muleta para você ter mais coragem de arriscar. Mas você é uma pessoa incrível, um artista de verdade, não precisa disso para nada. – Ela escondeu o rosto entre as mãos e chorou.

Alex a puxou para si e a apertou intensamente. Ele queria ser capaz de tirar todos os traumas de Claire, mas como isso não seria possível, ele tinha certeza de que o motivo certo para se manter afastado definitivamente das drogas que ele tanto procurava, havia acabado de se fazer presente a ele.

– Meu amor. Está tudo bem agora. Eu entendi tudo o que você passou e eu prefiro ser executado por metralhadoras do que fazer você passar por isso novamente. – Ele fez uma pausa e ela tentava se acalmar, respirando fundo. – E se esse cara não estivesse morto, eu teria que matá-lo. – Claire sorriu e voltou a olhar para ele. Alex passou os dedos no rosto dela, secando suas lágrimas. – Está tudo bem agora, Claire.

– Eu sei que está. Eu acredito que… – Ela olhou para suas unhas pintadas de rosa escuro enquanto escolhia as palavras certas. – Eu acredito que nosso amor é mais forte que qualquer coisa.

Alex apenas sorriu. Ele também tinha aquela certeza. Acolheu o rosto de Claire entre suas mãos e colou seus lábios gentilmente nos dela. Era o beijo que Claire queria receber para que todos seus fantasmas, voltassem para a gaveta trancada de seu cérebro, para caírem no esquecimento novamente.

– Vamos esquecer esse assunto? – Ela disse. Era o que ambos mais queriam, para que tudo voltasse a ser como antes.

– Eu esqueço se você esquecer. – Ele disse. Ela sorriu torto e ele segurou suas mãos novamente. – Se eu precisava de um motivo para não usar nada nunca mais, esse motivo está aqui, bem na minha frente. – Claire respirou aliviada e o abraçou. – Não vou te deixar ir embora. Nunca mais. – Eles riram.

– É o que eu mais quero. Não me deixe ir embora nunca mais. – Eles sorriram e se beijaram novamente. – Quando você se muda?

– Pedi um caminhão para amanhã de manhã. Por isso tudo está arrumado agora. Amanhã bem cedo eles virão buscar minhas coisas.

– Ótimo. – Claire sorria. – Estou muito feliz que você vai embora daqui.

– Vou pagar a multa do contrato, mas vai ser melhor assim.

– Com certeza. Vamos para minha casa? Quero te mostrar umas coisas.

– O que quer me mostrar?

– Segredo. – Ela deu risada e o beijou novamente. – Te trago aqui amanhã cedo para a chegada do caminhão. – Ela se levantou e o puxou pela mão. – Vem, vamos. Eu trouxe um moooonte de chocolate lá da Suíça. – Eles deram risada.

– Ah! Claro. Você gosta pouco de chocolate, não é?!

Eles estavam abraçados e conversando animadamente enquanto saiam do prédio de Alex. Quando começaram a caminhar em direção ao carro de Claire, escutaram alguém batendo palmas atrás deles. Quando se viraram para olhar, viram Dylan, dando risada e os encarando. Alex, num impulso natural de proteção, passou Claire para trás com um braço e se postou em frente a ela.

– O amor é lindo, não é mesmo? – Disse Dylan, com puro sarcasmo na voz.

– O que você quer, Dylan? – Perguntou Alex.

– Porra cara, eu te procurei o final de semana todo. Eu sabia que você estava no apartamento, mas estava se escondendo de mim. Tudo isso é medo de cair de novo? – Dylan gargalhou.

– Não é medo de cair novamente, é evitar que eu arrebente sua cara. – Alex disse, se irritando. Claire colocou a mão no ombro de Alex e o puxou de leve, indicando para irem embora. – Eu tenho mais o que fazer Dylan, me esquece!

– Ah, isso vai ser meio difícil de fazer. – Dylan colocou a mão atrás de sua calça e puxou de lá, um revólver. Ele era prateado e ofuscou a vista de Claire e Alex quando Dylan o apontou para eles.

Eles foram inundados por uma sensação de medo e desespero. Dylan estava notoriamente alterado e poderia ser capaz de fazer qualquer coisa contra eles. Claire prendeu a respiração e puxou Alex.

– CLAIRE! – Dylan gritou. – Eu nunca vou te perdoar por ter me feito perder aquele trabalho. Eu adorava comer todas as menininhas que trabalhavam lá e você estragou tudo. Eu adorava manipular aquela imbecil da Rose e também adorava colocar aquela gravadora cada vez mais para baixo. Mas você chegou e pôs tudo a perder. Você é uma desgraçada.

Claire conseguiu sair de trás de Alex e Dylan a tinha na mira. Alex tentou puxá-la novamente, mas ela o olhou como se suplicasse que ele a deixasse falar. Olhou novamente para Dylan.

– Você é um ótimo produtor, Dylan. Não precisa de nada disso para vencer na vida. Você pode ser o que quiser. Não precisa ir por esse caminho, pois ele somente te levará ao buraco. Você não precisa disso. – Claire tentava acalmar Dylan e Alex tentava protegê-la como conseguia. Dylan começou a gargalhar.

– Então é isso? Vai tentar me converter à bondade como se fosse um padre tentando levar um fiel para sua igreja? – Dylan sorria ainda mais. – Você precisa ser melhor que isso, Claire. – Ele disse ficando sério de repente.

Alex previu o que iria acontecer e ao escutar o som seco do revólver sendo disparado, tentou evitar que algo acontecesse com Claire e se jogou em cima dela.

O som da bala se espalhou por toda a rua e várias pessoas que estavam ali perto, olharam para ver o que tinha acontecido.

Dylan ficou imóvel ao ver Claire e Alex caindo no chão daquela calçada e não sabia ao certo se tinha acertado algum deles. Como se voltasse a consciência, ele guardou a arma, olhou a sua volta e entrou correndo em seu prédio, desparecendo pela porta.

Alex estava sentindo uma dor em seu cotovelo, pois o bateu no chão quando caiu por cima de Claire. Ele demorou alguns segundos para se afastar e analisar se a bala acertara Claire ou ele mesmo.

O casaco de Claire estava manchado de vermelho e ela tentava respirar com dificuldade. Alex procurou o local onde ela havia sido atingida e abriu o casaco dela com força. A bala a acertara no peito. Alex sentiu que seu mundo estava completamente desmoronado e a pegou em seus braços, colocando a mão para tentar estancar o sangue que jorrava do ferimento.

– SOCORRO! ALGUÉM CHAME UMA AMBULÂNCIA, POR FAVOR! – Alex gritou e viu algumas pessoas no celular. Tinha certeza de que alguém chamaria a ambulância e a polícia. Essas mesmas pessoas chegaram perto dele e disseram que eles estavam a caminho.

Alex sentia as lágrimas escorrendo por seu rosto e Claire olhava para o nada, tentando respirar e cada vez com mais dificuldade. Ele passou a mão nos cabelos dela e a segurava em seus braços com a força que conseguia.

– Fica comigo, meu amor. Por favor, fica comigo. Não vai embora. Fica comigo. – Uma lágrima de Alex caiu no rosto de Claire e ela olhou para Alex, esboçou um sorriso. Alex sorriu de volta para ela e chorou mais. – Fica comigo, isso, fica olhando para mim. Eu te amo. Eu te amo, Claire. Me perdoa por tudo isso. Fica comigo. – Ele soluçou chorando e fechou os olhos.

A respiração de Claire estava a cada segundo mais difícil. Uma lágrima escorreu do canto do olho dela, a dor era grande, mas Claire sentia que sua alma estava se descolando de seu corpo e isso aliviava a dor. Ela puxou uma respiração mais profunda, outra e outra. Alex escutou ao longe sirenes de ambulância. Mais uma respiração funda. Alex a olhou e ela estava com os olhos fixos nele. Ela não queria ir embora, não queria deixar de viver tudo o que ainda queria viver com ele. Tinha muita coisa para fazer em sua vida ainda, mas não estava conseguindo manter sua alma presa ao seu corpo.

Mais uma respiração longa e profunda. As sirenes estavam mais próximas.

– Eles estão chegando, amor. Aguenta mais um pouco, só mais um pouco. – Alex disse, chorando, ainda passando a mão nos cabelos dela.

Claire piscou os olhos de forma lenta e ainda olhava para Alex. Ela estava perdendo muito sangue, as mãos de Alex estavam completamente sujas de vermelho.

Agora as sirenes estavam muito perto e em segundos eles estavam estacionando perto de onde eles estavam. Algumas pessoas gritavam e apontavam para onde Alex estava com Claire em seus braços.

Mais uma respiração e então, Claire parou. Alex parou junto com ela.

***

Claire sentiu algo puxando sua alma de volta ao seu corpo e isso queimava em sua pele, a fazendo pular sem que pudesse controlar. Ela puxou o ar para dentro de seus pulmões paralisados e tentou abrir os olhos. O ar passou por suas vias respiratórias como se fosse feito de fogo. Ela tinha voltado. Abriu os olhos devagar e identificou um desfibrilador, uma maca sendo colocada ao seu lado, três pessoas mexendo nela e uma delas lhe aplicou uma injeção no braço. Viu Alex enxugando seu rosto com as mãos vermelhas e olhando para ela, bem perto dali. A dor que ela estava sentindo, aos poucos foi sendo controlada e ela dormiu de novo, mas agora ela não estava sentindo sua alma indo embora. Sua alma estava colada no seu corpo novamente.

Alex viu sua amada sendo colocada na maca e a entubaram assim que ela entrou na ambulância. Ele escutou as outras sirenes chegando e agora era a polícia. Estacionaram rapidamente, cantando pneus no asfalto. Alex falou com eles contando rapidamente o que havia acontecido e disse onde Dylan estaria. Outras pessoas falavam umas em cima das outras, contando como Dylan havia atirado em Claire. Os policiais passaram correndo para dentro do prédio com suas armas nas mãos. Alex voltou para a ambulância e viu eles fazerem mais alguns procedimentos de emergência com Claire.

– Precisamos levá-la imediatamente ao hospital. Você está com os documentos dela? – Uma enfermeira perguntou.

– Estão aqui. – Alex estava com a pequena bolsa de Claire na mão e tinha certeza de que ali dentro havia tudo o que precisava para a internação de Claire, incluindo o cartão do seu convênio e o celular para ligar para seus pais mais tarde, quando tudo se acalmasse.

– Você vem com a gente ou vai de carro nos seguindo?

Ele escutou os gritos de Dylan, dizendo que era inocente. Alex o viu saindo do prédio, arrastado pelos policiais e as pessoas gritaram na cara dele. O ódio tomou conta de Alex e ele correu na direção de Dylan e sem pensar duas vezes, fechou a mão e lhe deu um soco no rosto. Um policial o afastou e disse alguma coisa que Alex não entendeu.

– SE ELA MORRER, EU VOU TE MATAR COM MINHAS PRÓPRIAS MÃOS! – Alex gritou e o policial continuou o afastando e dizendo para ele manter a calma.

– Nós assumimos daqui pra frente. Você será chamado para depor e ela também, quando ficar em melhores condições. Mas enquanto isso, ele ficará preso. – O policial disse.

Alex não disse nada, voltou para a ambulância e pulou lá dentro, para ir acompanhando Claire. Ele se sentou num banco ao lado dela e fecharam as portas. Ele segurou a mão dela e não a soltou em nenhum momento.

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