Capítulo 37
Era verão de 2008 e Claire tinha 25 anos. Ela namorava com Juan Carlos, um espanhol de 26 anos, lindo, moreno de olhos escuros, que era modelo em Barcelona. Ela e Tiffany haviam conseguido tirar uma semana de férias para curtirem por lá, pois Tiffany estava ficando com um dos amigos modelos de Juan. As duas amigas amavam aquela cidade e sempre se divertiam muito lá.
Elas estavam deitadas no sol, torrando a pele e bebendo jarras de sangria na piscina no terraço do hotel que sempre ficavam ali, com vista para o mar. Estavam um pouco alegres por conta da bebida e tagarelavam em espanhol com todo mundo que se aproximasse delas.
– Meu Deus. Eu poderia ficar aqui minha vida inteira. Tomando essa sangria española todos os dias! Comendo tapas e admirando os espanhóis gatos que sempre ficam de olho nas britânicas branquelas. – Disse Tiffany, ajeitando o óculos de sol e fazendo Claire gargalhar.
– Chicas muy guapas! Hermosas! – Disse Claire, falando em espanhol.
– Que pasa, chico? Venga acá! – Tif falava e as duas não paravam de rir.
– Donde estás Juan? Donde estás Garcia? Eu vou ligar para eles. – Claire pegou seu telefone e ligou para Juan.
Ele estava terminando uma sessão de fotos e Garcia estava com ele. Combinaram de se encontrar no hotel delas, algumas horas mais tarde para irem jantar juntos, os quatro.
– Ótimo que eles não estão aqui ainda. – Tiffany sorriu e deu acenou com a mão para dois homens que estavam do outro lado da piscina. – Quero conhecer aquele moreno com o braço tatuado.
– Aiiii! O amigo dele é outro gato. – Claire disse olhando para eles. – Ai meu Deus, eles estão vindo aqui. Sua vaca! Por que os chamou? – Elas riam sem parar.
– Ai que delícia, adoro fazer amizades. – Tif se ajeitou na cadeira e eles chegaram até elas.
Eram espanhóis da região de Oviedo e os quatro ficaram conversando durante muito tempo. Outras jarras de sangria foram servidas e elas perderam a hora.
– Nossa, Tiffany! Estamos atrasadas. – Claire disse, olhando a hora em seu celular. – Precisamos ir, rapazes. Foi um prazer conhecê-los. – Ela foi se levantando da cadeira e Tif a acompanhou.
– Nos vemos amanhã, rapazes. Temos um compromisso hoje. – Disse Tif, com a voz um pouco mole. – Tenham uma boa noite.
Elas pegaram suas coisas e Tif se enganchou no braço de Claire e elas foram indo para dentro do hotel. Entraram rindo muito e falando palavras aleatórias em espanhol, rindo muito.
Claire parou de rir quando viu Juan, encostado no balcão do bar, com a pior cara que poderia ter. Ele estava parecendo um touro das touradas espanholas. Seus olhos fuzilavam Claire e Tif demorou um tempo para perceber que ele estava ali sozinho.
– Oi Juan. Está aí há muito tempo? – Só então Tif viu Juan.
– Tempo suficiente para me irritar com o comportamento de vocês. – Juan disse com a voz alta e engolindo uma palavra após a outra. Claire logo percebeu que ele havia usado alguma coisa e tentou permanecer calma.
– Onde está o Garciaaaa, Juanito querido? – Disse Tiffany dando risada. Ele a olhou com ódio e Claire ficou apreensiva com isso.
– Está nos esperando para irmos jantar, se lembra? – Ele disse entre dentes, como se fosse latir e morder as duas.
– Ai meu Deus. Onde ele está? Vou encontrá-lo. Deixar o casal mais à vontade. – Tif piscou para Claire e foi caminhando sem destino.
Claire a chamou pelo nome e tentou caminhar em sua direção, mas Juan a segurou forte pelo braço e eles se olharam por alguns segundos.
– Deixa ela ir. – Ele a puxou para si e lhe beijou forte nos lábios. Ela estava incomodada com as atitudes dele e percebeu que iria precisar tomar um pouco de cuidado. – Vamos para seu quarto. Vamos tomar um banho.
Mesmo apreensiva, ela segurou na mão dele e foram para o quarto dela. Ele sorría e contava como tinha sido a sessão de fotos para a revista Hola! e o cérebro de Claire tentava expulsar o álcool para conseguir entender melhor o que fazer naquela situação.
Assim que passaram pela porta do quarto dela, ele a agarrou com força e a beijou de um jeito que jamais tinha feito. Claire estava perdida na situação e não sabia como reagir, estava se sentindo vulnerável. Ele a virou de costas e beijou seu pescoço e sua nuca, com agressividade. Ela definitivamente não estava gostando disso. Tentou se afastar, mas ele era forte e a segurava com os dois braços. Ela se sentiu presa e um certo desespero começou a tomar conta. Ele passou um braço pelo pescoço dela e começou a apertar com força, prendendo a respiração dela.
– Juan! Estás me asfixiando. – Ela disse com a voz igualmente presa, em espanhol para que ele entendesse bem o que ela queria dizer.
Mas ele não parou e em poucos segundos, Claire não enxergava mais nada e sentiu seu corpo amolecendo nos braços daquele homem que ela já não mais sabia quem era. Sua visão sumiu e ela simplesmente, apagou.
Não sabe ao certo quanto tempo ficou desacordada, mas quando retomou a consciência, estava com os pés e as mãos amarradas e uma mordaça na boca. Ela começou a se mexer e gritar com a boca amordaçada. Ela estava desesperada e procurou olhando pelo quarto e não viu onde Juan estava. Escutou alguns barulhos de coisas caindo vindo do banheiro. Ela estava apavorada e lágrimas de medo e desespero escorriam por seus olhos. Rolou da cama e caiu no chão, batendo suas costas com força, pois a cama era alta. Ele voltou ao quarto e ela tentou se afastar, se arrastando no chão.
– Ahhh! Acordou Bela Adormecida? – Ele ría e ela se arrastava de maneira desajeitada no chão, chorando e tentando fazer barulho para que alguém a escutasse. Ele chegou perto dela, pisou com força em suas costas e a puxou pelo cabelo. Ela sentiu a dor e chorou mais. – Venha aqui. Você precisa receber um castigo. – Ele a puxou para cima e a jogou na cama. Pulou por cima dela e amarrou seus braços na parte de cima da cama.
Claire chorava desesperadamente. Sua cabeça estava um turbilhão e ela não sabia o que iria acontecer. Estava rezando para que Tiffany entrasse logo no quarto, mas então se deu conta de que provavelmente Garcia estava fazendo o mesmo com ela. Eles poderiam ter combinado isso antes mesmo de eles terem se encontrado na piscina do hotel. Claire tentava falar e gritar, isso estava irritando Juan.
– CALA A BOCA, CLAIRE! – Ele gritou e lhe deu um tapa fortíssimo no rosto. – Cala a boca. – Ele abaixou o tom da voz.
Ela sentiu seu rosto arder e parecia que o tapa havia descolado sua pele do rosto. Ela chorou ainda mais e sentiu todas suas forças desaparecerem.
– Vou te dar uma coisa. Mas é segredo, ok? Não conte pra ninguém que eu te dei isso. – Ele tirou de seu bolso uma seringa nova e sorriu. – Uma seringa nova especialmente para você, Claire. – Ela tentava enxergar através das lágrimas que minavam de seus olhos, mas era difícil. Ela viu algo que ele colocou na seringa, um líquido branco. Ela não sabia exatamente o que era, mas imaginou que era cocaína que ele dissolvera para injetar. – Você trabalha com isso, Claire. Você precisa experimentar.
Ele olhou para os braços dela, amarrados e viu que devido a força que estava fazendo, seus vasos sanguíneos estavam todos saltados e marcados sob a pele. Ele sorriu e percebeu que não teria dificuldade alguma para fazer o que queria fazer.
– Nem vou precisar te amarrar mais. – Ele disse, sorrindo. Claire tentava gritar e não parava de se mexer. Ele estava se irritando e a segurou pelo pescoço, apertando-a com apenas uma mão. – Cala a boca e para de se mexer. – Ele disse de maneira ríspida, mas ela continuava tentando se soltar. Ele a apertou mais e ela imitiu um grito de dor vindo do fundo de sua garganta sufocada, chorando muito. Não acreditando que isso estava acontecendo. – Se você não parar de se mexer, eu vou te machucar, Claire. – Ele soltou o seu pescoço e acariciou seu rosto ainda vermelho por conta do tapa que ele havia dado há pouco tempo.
Claire parou de se mexer e o olhou bem fundo nos olhos. Ela já não conhecia mais aquele homem que estava ali, fazendo aquilo com ela. Ela não tinha como escapar daquilo. Achou melhor ficar quieta e aceitar que estava completamente nas mãos dele. As lágrimas não paravam de escorrer em seu rosto e ele as beijava, como num ritual macabro. Ela estava imóvel e se corroendo de nojo por dentro. Soluços brotavam de dentro de Claire.
– Não vai doer nada. – Ele declarou.
E picou uma veia do braço de Claire, injetando um pouco daquele líquido que estava lá dentro da seringa. Claire sentiu aquele líquido queimar em seu braço e chorou ainda mais. Ela jamais havia usado nada daquilo. Não sabia quais seriam as reações em seu corpo. Mesmo sabendo identificar as pessoas que estavam usando só de bater o olho, ela não sabia o que aconteceria com ela.
Juan ficou olhando para ela e injetou o resto do líquido em seu braço. Fechou os olhos sentindo aquilo e sorriu. Ele se deitou na cama, curtindo a sensação que aquilo provocava nele.
Claire estava ficando com sua respiração acelerada e sentiu seu coração bater tão forte e tão acelerado, que parecia que iria explodir a qualquer momento. Ela sentiu toda a dopamina que seu cérebro estava liberando, tomar conta de seu corpo. Era uma sensação estranhamente gostosa, mas ela sabia que nada daquilo era saudável ou natural e ela queria matar Juan por ter feito aquilo com ela.
Ela percebeu que seus pés estavam amarrados unidos, mas não estavam amarrados em nada, então ela podia mexer as pernas. Cerrou os olhos e ficou esperando que ele se levantasse da cama. O que não demorou muito. Ela se posicionou usando toda sua força abdominal e das pernas e assim que ele levantou a cabeça, ela o chutou com toda sua força, que parecia ser maior naquele momento. O chute foi tão forte que ele rolou para fora da cama. Ela respirava ofegante e fez força com as pernas e os braços para aproximar a sua boca de seus dedos, amarrados acima de sua cabeça. Com muita dificuldade, ela conseguiu tirar a mordaça apertada que estava em sua boca e sentiu um gosto de sangue na língua. Logo, percebera que os cantos de sua boca estavam machucados.
– AAAAAAAHHHHHHHHH! – Ela gritou, não tão alto quanto queria, mas foi o suficiente para que Juan se levantasse do chão, a olhando com ódio. Ela mostrou os dentes para ele, grunhindo como se fosse uma felina presa em uma jaula, pronta para o ataque. Ele subiu de novo na cama e ela tentou chutá-lo, mas ele segurou suas pernas unidas antes que elas pudessem atingí-lo.
– Você me chutou na cabeça, Claire. – Ele disse, calmamente.
– Você me drogou, seu maldito de merda! Me desamarre agora, seu desgraçado, filho da puta! Eu odeio você. Você vai pagar por isso. – Ela cuspia cada palavra na cara dele, que apenas a olhava. – ME SOLTE AGORA, SEU DESGRAÇADO!
Ele se aproximou dela e tentou colocar a mordaça novamente, mas ela cravou os dentes na sua mão e mordeu com toda sua força. Ele soltou um grito e ela sentiu um gosto de sangue novamente em sua boca, mas agora era o sangue dele. Ele puxou com força sua mão da boca dela e viu que se ela continuasse, iria arrancar um pedaço de sua mão com os dentes. Ele olhou sua mão cheia de sangue e furioso olhou para Claire, que estava com a boca cheia de sangue. Ela cuspiu o sangue dele no lençol e mostrou os dentes de novo, como se o convidasse a chegar perto dela novamente, para receber outra mordida.
– Vem! Vem, desgraçado. Deixa eu arrancar um pedaço de você. – Ela disse, com os lábios vermelhos e o gosto de ferrugem espalhado por toda sua boca.
– Eu vou matar você, sua vadia. – Ele disse com fúria.
Ele foi se aproximando dela, mas ela se defendia com as pernas amarradas e continuava puxando suas mãos da amarra que ele fez. Sentia o tecido da corda cortar sua pele dos punhos, mas não parava e aos poucos ela sentia que o nó estava cedendo. Mas parou de puxar quando todas suas forças se foram novamente, no momento em que ele acertou um soco em sua boca.
– Me morde de novo agora, Claire! Morde! Me morde, sua vadia.
Claire ficou completamente zonza com a força do soco e sentiu que seus dentes ficaram frouxos em sua boca e uma dor terrível tomou conta de toda sua cabeça. Por instantes ela não sabia nem quem era, onde estava e nem o que estava acontecendo. Sentiu seu nariz arder e escorrer algo de lá de dentro, provavelmente era sangue. Juan dava risada.
– Você é tão fraca. Eu posso fazer o que eu quiser com você agora. Você é minha. Entendeu? Minha! Você é minha! – Ele gritou na cara dela, que ainda estava zonza.
Ele analisou aquela cena. Ela estava com o rosto sangrando e imóvel, tentando recobrar seus sentidos. Ele mordeu os lábios e começou a abrir botão por botão da saída de piscina preta que ela estava vestida por cima do biquíni.
– Você é uma vadia, mas eu acho seu corpo enlouquecedor, Claire. – Ele disse, como se elogiava um pedaço de carne pendurado num gancho, no açougue.
Em segundos ela recobrou a consciência e voltou a se mexer, tentando sair de perto dele.
– Saia de perto de mim, seu nojento. – Ela gritou. – Não encoste em mim! – Ela deu um último puxão nas mãos e o nó cedeu com tamanha força que ela fizera. Ao sentir que suas mãos haviam se soltado, mesmo que ainda estivessem unidas, ela levou todo o resto de suas forças para mãos e deu um soco na cabeça de Juan, que caiu para trás.
Ela conseguiu rolar para fora da cama e caiu de costas no chão de novo. Sentia seu corpo inteiro doer, mas mesmo assim, fez força para ficar de pé e foi pulando em direção a porta do quarto. Enquanto tentava abrir a maçaneta da porta com suas mãos amarradas, ela sentiu que Juan passou a mão por baixo de seu cabelo e a puxou para longe da porta, a jogando no chão. Ela gritou quando seu corpo atingiu o chão, rolando para longe da porta e a dor aumentou sua intensidade. Começou a chorar, ali no chão. Ela queria acordar daquele pesadelo. Ele puxou seus pés e queria continuar abrindo o vestido que ela estava.
– Chega Juan, chega. – Ela chorava. – Por favor, me deixe em paz. – Ela gritou.
– Não! Eu quero você agora. – Ele terminou de abrir o vestido e o corpo de Claire ficou exposto, apenas com seu biquíni. Ele tirou a camiseta que estava vestindo e começou a beijar todo o corpo de Claire. – Você é linda demais.
Claire chorava e quase vomitava de tanto nojo que estava sentindo.
De repente, escutou alguém batendo forte na porta. Juan parou no mesmo instante e seus olhos ficaram alarmados, como se voltasse a consciência. Mais batidas e um grito.
– Claireeee! Abre a porta! Estou morrendo de dor de barriga. Preciso ir ao banheiro! – Tiffany gritava do lado de fora da porta.
Juan e Claire se olharam. Claire não pensou duas vezes.
– SOCOOORROOO, TIFFANY! ELE VAI ME… – E Juan tampou a boca de Claire com força com suas mãos. Mas o silêncio do lado de fora do quarto foi o necessário para fazer com que ele se preocupasse. A voz de Claire não era num tom de brincadeira e com certeza, Tiffany havia entendido o recado.
– Eu vou vir atrás de você ainda. É melhor tomar muito cuidado. – Juan beijou Claire, que virou o rosto e depois cuspiu na cara dele.
Ele quis lhe dar outro tapa, mas o rosto inchado e machucado de Claire, já era o suficiente para ela saber que ele não era uma pessoa que gostava de brincadeiras. Ele se levantou, abriu a porta e foi embora, batendo a porta.
Claire começou a chorar desesperadamente, largada no chão. Machucada, com dor e com sua alma na lama. Ela ainda sentia a euforia que a droga estava proporcionando, mas aquilo não era para ela. Poucos segundos depois, Tiffany abriu a porta com o gerente do hotel lhe acompanhando. Ao ver a amiga no chão, todo aquele sangue e seu rosto completamente machucado, ela abraçou a amiga, a levantando do chão.
– Meu Deus, Claire! O que esse monstro fez com você? – Tif perguntou, mas Claire não conseguia falar. O gerente do hotel falou algumas coisas num rádio, chamando alguém da área médica e depois alertando os seguranças para não deixar que Juan saísse do hotel, enquanto Tiffany acariciava os cabelos de Claire.
– Obrigada por estar aqui, amiga. Você me salvou. – Foi o que Claire conseguiu dizer.