Capítulo 34
Uma ligação para os pais dizendo que estava bem e outra ligação para a amiga, pedindo que ela passasse o final de semana em seu apartamento, para fazer companhia aos seus bichinhos. Claire estava com uma mala pequena no porta-malas do carro, ia pegar um voo noturno que achou rápido em um site que vendia passagens aéreas. O destino? Interlaken, na Suíça. Seu avião desceria na capital do país, Berna e de lá, ela poderia pegar um trem ou alugar um carro para Interlaken.
Interlaken era um dos destinos favoritos de Claire, durante o frio, quando ainda morava em Londres. A cidade é conhecida por suas opções de esportes radicais e também por ser tranquila, segura e com visuais perfeitos. Era exatamente isso que Claire precisava naquele momento.
Em nenhum momento, ela deixou de querer Alex ao lado dela. Queria ter lhe dado um forte abraço após o show, queria ter visto o final do show, queria que ele estivesse ali ao seu lado, saindo do país pela primeira vez e indo conhecer um dos destinos que ela mais gostava.
Cochilou durante as poucas horas de voo e chegando à Suíça, ela decidiu alugar um carro. Melhor do que ficar esperando até a manhã para pegar um trem. E era bem perto, menos de uma hora para chegar lá de carro.
Chegou em Interlaken com o dia amanhecendo. Olhou tudo a sua volta e percebeu o quanto estava com saudade daquela cidade. Sorriu. Chegando à porta do Hotel Interlaken, respirou fundo, deixando que todo o cheiro da cidade invadisse seus pulmões. Ela conseguira o que tanto queria. Paz. Estava em paz e mesmo que estivesse triste, estar ali sozinha, era como um elixir para tudo que acontecera na noite anterior.
Chegou e descansou. Dormiu até quase 11h da manhã. Não foi muito, mas foi o suficiente para recuperar a energia que precisava. Pediu o café no quarto, enquanto se preparava para explorar a cidade.
Ela tinha um grande amigo suíço que morava lá na cidade. Ele era instrutor de alguns dos esportes radicais que havia para serem feitos lá e ela lembrava onde ele morava. Depois de almoçar num pub irlandês delicioso, ela foi caminhando até a rua da casa de Klaus. A cidade estava gelada como um freezer e deveria fazer por volta de 3oC. Mas com o vento, a sensação térmica era menor, com toda a certeza.
Analisou a frente da casa dele e viu que tinha uma luz acesa lá dentro. Apertou a campainha e esperou. Uma simpática senhora de cabelos brancos surgiu na janela e ao reconhecer Claire, sorriu e acenou de lá de dentro. Claire se encheu de felicidade ao ver que a senhora a reconhecera. Em poucos segundos, ela estava abrindo o portão e abraçando forte Claire.
– Claire! Há quanto tempo você não vem aqui, menina! – Norma a olhou sorrindo. – E como você está bonita! Cada dia mais linda, Claire!
– Norma! Que saudade de você. É muito bom estar aqui.
– Cadê sua amiga, Tiffany era o nome dela, certo?
– Sim, Tiffany. Na verdade, eu meio que fugi para cá, para passar o final de semana e descansar. Ninguém sabe que estou aqui. – Claire deu risada e Norma a acompanhou.
– Ótimo lugar para se esconder. Venha, vou preparar um chocolate quente para você. Está muito frio aqui.
– Eu estou procurando o Klaus. Ele está aí ou está trabalhando?
– Ele está trabalhando. Está trabalhando na estação do Jungfraujoch. Lá no topo da Europa. – Norma sorriu. – Ele costuma voltar só de noite. E… – Norma olhou para o relógio. – Acho que já está tarde para você ir até lá. É um passeio que precisa se feito durante todo o dia.
– É, eu sei. Bom, então neste caso, eu aceito o chocolate quente. – Elas derem risada e entraram para a casa de Norma.
Foi uma tarde agradável e elas conversaram muito sobre tudo. Claire queria saber sobre a filha dela, Bella, e Norma disse que ela havia se casado com um espanhol de Málaga e desde então, estava morando lá.
– Nossa, como tenho saudade dela. Com minhas pernas ruins fica terrível para pegar um avião e ir até lá. Ela sempre vem para cá, mas não tê-la por perto é um vazio enorme. Sei o que seus pais sentiram durante o tempo que você passou em New York e viajando por aí.
– Eu sei. Mas acho que meus pais sempre se acostumaram com a minha ausência. Claro que agora eles estão mais felizes. Até voltaram a se entender e estão juntos de novo. – Claire deu risada e Norma quase se engasgou com o chocolate.
– Não acredito. Eles voltaram a ficar juntos?
– Acredite. E estão lindos juntos. – Claire deu risada. – Sem brigas, sem desavenças. Estão fofos e apaixonados.
– Nossa! Isso sim é uma notícia boa. – E você? Não está namorando? Klaus havia me dito que você estava namorando com um compositor americano.
– Eu estava. Mas terminamos quando eu vim para cá. – Claire fez uma pausa ao lembrar de Alex, para conter a dorzinha chata que ficava cutucando seu coração. – Mas estou namorando sim, pelo menos eu acho que ainda tenho um namorado. – Claire sorriu sem graça e olhou para sua xícara.
– Vocês brigaram e é por isso que você está aqui, certo? – Norma era bem esperta.
– Mais ou menos… Não chegamos a brigar, eu fugi antes. É uma longa história.
– Temos bastante tempo, se quiser, pode contar para mim. – Disse Norma.
E Claire contou tudo sobre Alex. Norma escutara tudo com atenção e logo percebeu o quanto Claire amava Alex.
– Então, para esfriar a cabeça, digerir tudo e pensar no que vou fazer, vim para cá. Um dos meus lugares favoritos no mundo. Se eu ficasse lá e o encontrasse agora, acho que não teríamos mais conserto. Com certeza eu iria fazer ou dizer alguma besteira e me arrepender depois.
– Você agiu certo. Além de tudo isso, você está se preservando, se protegendo. Às vezes precisamos sair de cena um pouco. Para evitar maiores feridas. – Norma sorriu e Claire sorriu também, bebendo mais um gole do delicioso chocolate quente suíço que Norma preparara para elas. – Sabe Claire, manter um relacionamento não é nada fácil. É preciso abrir mão de algumas coisas, matar um dragão todo dia no dente. Mas quando encontramos a pessoa certa, isso fica um pouco mais fácil. Quando o Klaus pai estava doente e todos nós sabíamos que ele iria nos deixar, nós dois nos olhávamos e um sabia o que o outro queria dizer. Ele com certeza foi o grande amor da minha vida e não tenho dúvidas de que eu fui o amor dele também. Acima de qualquer coisa, tínhamos respeito e carinho um pelo o outro. E algumas horas antes de morrer, enquanto eu lhe dava um banho de leito, porque quando a doença se alastrou ele quis ficar aqui e sem médicos ou enfermeiras por perto, ele me disse o seguinte “Norma, sempre achei que quando estivesse perto da morte, todas as certezas da minha vida iriam aparecer. Hoje eu percebo que a minha única certeza, é que eu te amei e vou te amar para sempre. Você sempre foi o colorido dos meus dias e eu só tenho que te agradecer por isso”. – Claire estava com os olhos cheios de lágrimas escutando Norma, que estava olhando para algum lugar e sorrindo com saudade. – Já faz 6 anos que ele nos deixou e eu ainda posso sentir na minha pele como era ser abraçada por ele. – Norma voltou a olhar para Claire e sorriu para a juventude dela. – O amor é assim, Claire. O amor que dá o colorido para os nossos dias. E se o que você sente por esse rapaz for amor, não deixe que isso se coloque entre vocês. Isso será apenas um dragão um pouco maior que vocês dois precisarão matar, juntos.
Claire não sabia mais o que dizer. Norma estava completamente com a razão e Claire sabia que tinha muita coisa para resolver quando voltasse para Londres. Ela passou a mão vazia no rosto para enxugar as lágrimas e Norma percebeu que havia conseguido o que queria.
– Você tem alguma coisa para fazer agora? – Norma perguntou para Claire, bebendo o último gole do seu chocolate.
– Não. – Claire respondeu com a voz embargada. – Estou livre como pássaro.
– Então venha. Vou te levar para um lugar que aposto que faz muito tempo que você não vai. – Norma se levantou da cadeira e Claire olhou para o relógio. Sorriu para Norma.
– Só se for agora. – Elas deram risada.
As duas entraram no carro de Norma, aquela senhora descomplicada que parecia ter dado uma injeção de ânimo em Claire. Pegaram a estrada e foram até o lago Thunersee. Claire já estava sorrindo. O céu estava limpo, mesmo que a temperatura estivesse bem baixa e ventasse, o sol estava caindo devagar e as duas sabiam o que iriam ver em poucos minutos.
Quando Norma estacionou o carro, Claire se encheu completamente da energia daquele lugar e percebeu o quanto sentia falta. Respirou fundo quando desceu do carro e olhou para o sol. O céu estava azul brilhante e os raios solares cintilavam por toda parte, refletindo na água do lago e fazendo com que ele parecesse ser feito de cristais reluzentes. Aquela luz amarela já fraca do sol se pondo, banhava todas as árvores em volta do lago e alguns pássaros batiam suas asas despreocupadamente. Claire conseguiu esquecer seus problemas e tristezas por alguns minutos. Norma a observava sorrindo, tentando imaginar o que passava na mente daquela jovem tão linda.
– Vamos nos sentar lá na beira do lago? O pôr do sol aqui ainda continua sendo um dos mais lindos do mundo. – Norma sorriu para Claire.
Claire não disse nada. Apenas sorriu e segurou a mão de Norma, a puxando num abraço e foram caminhando para mais perto do lago.
***
“O show de estréia do cantor britânico Alex Robinson foi um sucesso. O show foi entusiasmante, cheio de energia e mesmo com as baladas mais românticas, ninguém conseguia ficar parado. As músicas escolhidas para os covers, foram ótimas e clássicas. Alex tem uma desenvoltura marcante no palco e sua voz encanta a todos. Seu disco já está sendo vendido nas lojas e sua música de estreia “Minha escolha é sempre você” está entre as 10 mais baixadas da internet na Europa. Alex tem talento extravazando por seus poros e com certeza, você ainda vai escutar muito o nome dele pelos cantos do mundo.”
Alex estava lendo o jornal de sábado, deitado em sua cama e não conseguiu esboçar nenhum sorriso ao ler a crítica positiva sobre seu show da noite anterior.
Tudo o que ele havia sonhado e esperado, estava acontecendo mais rápido do que ele imaginava. Mas com certeza, nada daquilo fazia mais sentido. Ele se sentia vazio, ainda lembrando dos detalhes daquela noite, do rosto triste de Claire. Era a única coisa que ele tinha na mente e se sentia muito culpado por ter causado tanta dor à ela.
Ele jogou o jornal no chão e pegou seu celular novamente. Sem mensagens, sem um sinal dela, que estava com o celular desligado desde a noite anterior. Ele não sabia onde ela estava, não sabia o que ela estava sentindo e muito menos, o que ela estava pensando.
Ficou encarando o teto de seu apartamento repassando seu diálogo com Dylan, assim que chegou em seu prédio na noite passada.
– E então o nosso astro detonou no show! – Dylan gritava, segurando uma garrafa de vodka na mão, sentado no chão e encostado na porta do apartamento de Alex. – Seu show foi estupendo, bro. – Alex subia as escadas e ao ver Dylan, fechou as mãos com vontade de arrebentar a cara dele. Ele já sabia que havia sido ele que entregara a caixa com cocaína. – Você gostou do meu presente de estreia? – Dylan gargalhava e Alex o olhava com raiva e ódio.
– Gostei. Gostei muito. Muito obrigado pelo presente. – Disse Alex com sarcasmo.
– Há! Eu sabia que você iria gostar. – Dylan se levantou do chão e cambaleou para frente, dando risada. – Eu achei que você fosse precisar de uma ajuda para conter o nervosismo pré show. E você precisou mesmo! – Dylan gargalhou. Alex cerrou os olhos.
Alex tirou o pacote da droga de seu bolso e o apertou na mão. Num impulso descontrolado, ele bateu com força no rosto de Dylan com a mesma mão fechada que a droga estava. Nas condições que estava, Dylan caiu no chão e a garrafa de vodka se quebrou ao lado dele. Alex abriu o pacote da droga e virou todo o restante em cima do rosto de Dylan.
– Espero que o sabor dela seja tão bom quanto quando a aspiramos. – Alex gritou e Dylan não estava entendendo nada.
– Ahhhh! Seu maldito! Minha garrafa quebrou. – Dylan rolou no chão, passando a mão de maneira desajeitada no rosto, tirando o pó branco que Alex havia derrubado. – Aaaaalex, seu desgraçado! Minha vodka!
Alex simplesmente o deixou deitado no chão com a boca sangrando e entrou no seu apartamento, trancando a porta e ainda escutando Dylan gritar alguma coisa sobre a vodka dele.
Alex já havia decidido fazer a mudança daquele apartamento, pagar as multas contratuais e se afastar do alcance de Dylan.
Olhou para o relógio e percebeu que precisava tomar banho e se arrumar, pois tinha outro jantar naquela noite e mais uma vez, Rose o acompanharia, já que Claire havia sumido. Ele não estava com vontade de fazer nada, mas precisava ocupar sua cabeça para não enlouquecer na espera por notícias dela.