Capítulo 33
Após terminar de cantar a música T.N.T, fazendo um cover da banda AC/DC, Alex sai do palco, fazendo aquela firula que todo artista faz, para minutos depois voltar e cantar mais algumas músicas.
Claire analisa a reação da plateia e percebe que seu trabalho com Alex foi concluído com sucesso. As meninas estavam gritando histéricas por ele e todos batiam palmas. O show realmente tinha sido fantástico. Alex era um artista nato e apesar de tudo o que havia acontecido, Claire estava feliz com o resultado. Ela estava sentada, apenas observando a reação do público lá de cima. Sua mente estava quase vazia. Apenas uma lembrança reverberava pelos labirintos de seu cérebro. Sentiu uma mão apertando seu ombro e olhou para ver quem era. Rose se sentava ao seu lado. Antes de dizer qualquer coisa, ela analisou o rosto de Claire e logo notou os olhos levemente inchados e as bochechas rosadas mais que o normal.
– Claire querida… Eu sinto muito pelo o que aconteceu. – Rose disse, num tom suave, como se quisesse que suas palavras fizessem carinho no rosto de Claire.
– Você também percebeu? – Claire perguntou com uma voz vazia.
– Trabalhamos com isso, não é?! – Rose respondeu e Claire abaixou a cabeça, olhando para suas mãos unidas em cima de suas coxas. – Mas vamos tentar pensar como ele. Não podemos julgá-lo agora. Você viu o show maravilhoso que esse rapaz fez. Independente do que ele tenha usado antes, ele nasceu para estar lá em cima do palco. E agora que ele já viu que pode fazer isso sem problema algum, talvez ele não use mais nada. Talvez tenha sido apenas um momento de fraqueza que ele sucumbiu.
– Pode ser que ele não use nunca mais. Mas meu maior medo é que ele volte a usá-la como muleta. Se isso acontecer, eu perco o Alex. Todos nós perderemos o Alex. – Os olhos de Claire brilharam entre lágrimas novamente. – O histórico dele é pesado, Rose. Ele quase morreu algumas vezes. Ele não vai ficar nessa de “só para aliviar a ansiedade, o estresse”. Não! Ele vai voltar a usar tudo o que usava antes. O inferno da vida dele vai voltar e será pior, porque agora ele terá mais dinheiro e mais “amigos” usuários à sua volta. Se ele sucumbir, não terá mais volta. – Uma lágrima pequenina caiu do olho de Claire e Rose apertou sua mão.
– Vamos conversar com ele. Tentar entender o porquê disso. Mas não o abandone agora.
Todos voltaram a gritar e as luzes se acenderam novamente. Era a volta de Alex e ele iria cantar mais um cover, agora da música “Black Dog” do Led Zeppelin e seu primeiro sucesso “Minha escolha é sempre você”.
– Eu não posso passar por cima dos meus princípios, Rose. Se ele quer ficar com aquela merda, ele não vai ficar comigo. – Claire se levantou e ao ver que ele já estava cantando, voltou a olhar para Rose. – Você pode dar um recado a ele por mim? – Rose balançou a cabeça. – Diga que o show foi quase perfeito. Quase. – E pegou sua bolsa que estava ao lado de sua cadeira.
– Você vai embora? – Perguntou Rose, num tom alto por conta da música. Tiffany escutou e olhou para Claire.
– Eu não consigo mais ficar aqui, Rose. Me desculpe. – Claire olhou para Tiffany, mexeu dentro de sua bolsa e jogou a chave de seu carro para ela pegar. Se aproximou da amiga. – Por favor, leva meus pais para a casa deles. Diga que eu tive que ficar por aqui e que eu vou embora mais tarde. Depois leva o carro pra minha casa, por favor.
– Pra onde você vai, Claire? – Perguntou Tiffany.
– Vou embora. Não sei para onde. Se eu não estiver em casa ainda, pode deixar a chave no vaso daquela planta gigante que está na minha porta. Se eles quiserem comer, para com eles em algum lugar saudável, por favor. – Claire deu um beijo na amiga, que estava um pouco sem reação e olhou para Rose, que a abraçou.
– Eu cuido de tudo. Vá para casa. Nos falamos amanhã, ou segunda. Descanse. Descanse sua mente. – Rose deu um beijo na bochecha de Claire.
– Obrigada, Rose.
E Claire foi embora, sem que seus pais a vissem saindo. Estava tranquila, pois sabia que Tiffany cuidaria de tudo. Rose cuidaria do resto e com certeza, ela iria conversar com Alex após o show.
Naquele momento, Claire queria apenas sair correndo para longe dali. Até que tinha aguentado bastante. Ela saiu do local, tentando olhar para o chão e não encontrar ninguém conhecido. A estratégia funcionou e logo, ela estava em um táxi, pedindo que ele a levasse para a região de City of London. Perto de seu trabalho, centro financeiro de Londres. Perto de onde ela viu Alex pela primeira vez.
Ao caminhar lentamente ao lado do Rio Tâmisa, ela ergueu a gola de seu trench coat preto e deixou que o vento soprasse por seus cabelos. Ela precisava sentir aquele frio, para esfriar sua cabeça.
Ela não sabia o que fazer. Amava Alex mais do que sua própria vontade de amar e estava com o coração completamente estilhaçado. Perdida, confusa e desnorteada. Ela parou e se apoiou na parede de concreto que separava aquele caminho do rio. Ela olhou para a água se movendo para todos os lados e depois olhou para a linda catedral de St. Paul, iluminada e completamente absoluta não muito longe dali.
Não sabia o que iria fazer quando ele fosse atrás dela. Então já tinha desligado seu celular, logo que entrara no táxi.
A única coisa que desejava naquele momento, é que aquele maldito fantasma das lembranças dolorosas, sumissem de sua mente, para que ela pudesse pensar corretamente no que fazer, em como agir com Alex. Mas não iria conseguir fazer isso naquele momento.
– Dane-se o trabalho. É final de semana. Quero um pouco de paz. – Ela balançava a cabeça e falava sozinha. Algumas lágrimas se acumularam em seus olhos e ela já não aguentava mais chorar. – Chega de chorar, Claire. Chega. – Ela respirou fundo, passou as mãos em seu rosto e olhou à sua volta.
Havia poucas pessoas caminhando por ali. De noite, aquela região ficava quase deserta.
Ela voltou a caminhar e logo seus pensamentos voltaram a borbulhar. O que ela poderia fazer? Como iria confiar em Alex novamente? Ela deveria lhe dar mais uma chance? Será que ele amava mais a droga do que ela? Ele voltaria a usar? Será que ele já havia usado antes, mesmo dizendo que não?
Tantas perguntas que precisavam de respostas. Mas naquele momento, ela só tinha uma única certeza. A de que precisava sumir um pouco. Mesmo que fosse por um final de semana.
***
Alex estava dentro de seu camarim, desesperado, ligando sem parar para Claire. Andava de um lado para o outro, já havia deixado 3 mensagens de voz na caixa postal dela. Ele tinha certeza de que ela estava sem bateria e não queria pensar que ela havia desligado o celular de propósito, para não falar com ninguém. Ele lembrava segundo após segundo, do rosto triste de Claire e puxava os cabelos com a mão que não segurava o celular.
– Não. Não. Não. Não. Volta pra mim, Claire. – Ele dizia repetidamente, quase que como um mantra agressivo, desejando que aquilo se materializasse.
Escutou baterem na porta e correu para abrir. Ao ver que era Rose, ele murchou como uma flor sedenta por água.
– Posso entrar? – Rose perguntou. Ele apenas se afastou e voltou a discar o número dela. Rose fechou a porta atrás dela e analisou Alex. Logo notou seu desespero. – Ela desligou o celular, Alex. Mas pediu que eu lhe desse um recado.- Ele se virou para ela e paralisou. – Ela disse que o show foi quase perfeito. Quase. – Rose fez uma pausa e Alex continuou imóvel. – Deixe-a sozinha por um tempo. Ela precisa digerir tudo o que aconteceu hoje. Dê um tempo para que ela o procure. – Alex não sabia o que responder e depois de alguns segundos de silêncio, ela voltou a falar. – Seu show foi um dos melhores que eu já vi. E olha que eu já vi muitos shows. – Ela sorriu e ele parecia não estar ouvindo nada. – Alex! – Ela o chamou e ele a olhou.
Sua única reação, foi se sentar no sofá para não cair no chão, pois sentira que o mesmo havia desaparecido debaixo de seus pés. Rose se manteve em silêncio, até que percebeu que ele não iria falar nada.
– Alex, vamos comemorar seu show. O jantar com todas as pessoas que irão ajudar a alavancar sua carreira está marcado para daqui a pouco. Venha. Precisamos ir.
– Eu não vou. – Alex disse, seco, olhando para Rose. – Isso não tem mais sentido algum. Não tem sentido sem ela aqui.
– Alex, não vá estragar ainda mais a sua noite. Você sabe que ela quer que você seja um sucesso. Ela apenas não está aqui, porque não estava se sentindo muito bem. Você sabe como ela é sensível e ver você lá… Ela percebeu no mesmo segundo.
– Eu a decepcionei. Eu a perdi, Rose. – Alex cobriu o rosto com as duas mãos desabando e Rose passou a mão no cabelo, não sabendo como controlar tudo isso. – Nada disso tem sentido sem ela aqui.
– Alex, querido. – Rose se abaixou na sua frente, apertando suas mãos a fazendo com que ele a olhasse. – Preste atenção no que vou te dizer. Ela te ama. E por te amar tanto, que ela foi embora. Dê um tempo à ela. Ela precisa ficar sozinha um pouco, para ter forças novamente para poder conversar com você. Você a conhece a pouco tempo, mas ela é assim. É como se fosse uma tartaruga, que ao menor sinal de perigo, se encolhe para dentro do casco. Ela é assim. Então, não se desespere. Vocês ainda vão conversar, ainda vão se ver e tenho certeza que vão saber contornar tudo isso.
– Eu sei que a conheço a pouco tempo, mas já sei que ela não vai mais confiar em mim. – Alex estava desolado. – Eu só usei isso… – Ele se engasgou com as palavras e explodiram mais lágrimas de seus olhos. – Eu estava desesperado, com medo de fazer alguma merda lá em cima do palco. Eu fiquei completamente perdido e aquilo… Me dá uma sensação de invencibilidade. Eu só queria fazer tudo sem errar. Porra, foi meu primeiro show! – Agora ele estava gritando. – Até alguns meses atrás eu era apenas um homem que não tinha onde morar e nem o que comer.
– Todos nós sabemos disso, querido. É muita informação para você administrar. Por isso estou te dizendo, dê um tempo. Ela vai conversar com você. Fique calmo agora, ok? – Um silêncio seguiu e Alex balançou a cabeça. – Estamos aqui para te ajudar, te dar todo o suporte que precisar. Estamos fazendo isso desde o começo e isso, você não pode negar.
– Claro que não. Vocês duas foram sempre fantásticas comigo. Eu que fui um idiota e fraco. Fraco! – Ele apertou com força uma mão na outra, como se quisesse quebrar seus dedos.
– Você não é fraco, Alex. Isso que aconteceu hoje, foi um momento de fraqueza. Mas isso não quer significar que você seja fraco o tempo todo. Não é qualquer pessoa que passa por tudo que você passou e continua aqui, viva e com oportunidades. Então, não desperdice isso tudo que a vida está lhe dando.
Alex ficou quieto, pensando nas palavras de Rose. Se levantou, pegou seu violão e sua guitarra. Guardou tudo sem dizer uma palavra. Em poucos segundos estava com um case em cada mão.
– Podemos ir. Não vou desapontar ainda mais a Claire.
– Ótimo. Assim que se fala, meu querido. Vamos.