Capítulo 32

Claire estava organizando tudo, conversando com todas as pessoas que conhecia. E não eram poucas. Jornalistas de revistas de música, repórteres de canais especializados em música e alguns cantores da gravadora que Claire e Rose fizeram questão de convidar. Tudo para aumentar o prestígio do show que era para ajudar no início da carreira de Alex e Juliette.

Acomodou os pais e a amiga no camarote com visão perfeita para o palco e foi trabalhar, em cima do salto e logo começou a sentir seus pés reclamarem. Mas nada disso importava. Ela estava radiante de felicidade em saber que tudo estava correndo bem e que a carreira de Alex iria receber o pontapé inicial.

Encontrou Matthew que estava sozinho. Conversaram por poucos segundos e logo Claire teve que ir conversar com britânico James Blunt. Posaram para fotos e conversaram sobre brevemente sobre os dois artistas do show. James queria fazer uma parceria com Juliette.

Algum tempo depois, Rose e Claire se viram quase sozinhas e já estava na hora do show de Juliette. Claire havia passado no camarim de Alex e o ajudou a escolher a roupa. Ele estava indeciso. A opção foi uma camisa branca e jeans azul escuro. Depois ele iria trocar por uma camiseta azul e um chapéu Panamá cinza escuro. Ele iria ficar trocando de instrumentos entre as músicas. Em algumas iria usar o violão e em outras, guitarra.

Juliette surpreendeu a todos com a qualidade da sua voz ao vivo. O combinado era não usar playback e ela fora espetacular. Sua voz era melódica e tinha poder quando ela queria usar. Quando subia o tom, não desafinou nenhuma vez. Quando fez o cover de “Tears dry on my own” da Amy Winehouse, de “At Last” da Etta James e “Rolling in the deep” da Adele, a plateia foi ao delírio. Claire estava orgulhosa demais de ter descoberto aquela preciosidade e percebeu o quanto Rose estava emocionada.

Contratar Claire foi a última tentativa de reerguer a gravadora de Rose. Se essa contratação não acontecesse ou não funcionasse, Rose iria fechar a gravadora. Mas diversos contratos foram fechados depois que Claire apareceu e a London Records voltou a ser bem conceituada no mercado fonográfico.

Quando o show de Juliette acabou, Rose que foi falar com ela, pois Claire tinha que responder algumas perguntas para uma jornalista da revista Songlines.

– Claire, você não ficou com medo de abandonar sua carreira sólida em New York e voltar para Londres? – Perguntou a jornalista, gravando a entrevista em um gravador de mão.

– Não. Eu já estava com saudade de me sentir em casa. Viajo o mundo todo por conta do meu trabalho e tudo o que eu queria era trabalhar do jeito que estou trabalhando, perto da minha família, dos meus amigos de infância e da minha cidade.

– Você imaginava que conseguiria tirar a gravadora London da crise que estava?

– Olha, eles não estavam na crise que todos estavam falando. Mas com certeza eu sabia que iria conseguir melhorar o fluxo da gravadora e lançar ótimos artistas e de qualidade altíssima, como os dois que estamos lançando hoje aqui. E também sabia que muitos artistas iriam vir comigo, caso eu deixasse New York. Foi o que aconteceu.

– É verdade que você descobriu Alex Robinson cantando nas ruas de Londres? – A jornalista perguntou sorrindo e o rosto de Claire se iluminou quando lembrou daquele dia em que escutou Alex cantando pela primeira vez.

– Sim. É verdade. Ele me encantou antes mesmo que eu pudesse olhar para ele, pois escutei a música de longe. Alex é um artista que merece todo o reconhecimento, pois ele é completo.

– Além de ser lindo, né? Aqui entre nós. Eu escutei boatos que ele já tem uma namorada. Você sabe quem é a sortuda? – A jornalista perguntou e Claire sentiu seu rosto ficar vermelho. Ela não sabia o que responder.

– É… – Ela fez uma pausa. – A sortuda sou eu. – Disse Claire, timidamente. Ela odiava expor sua vida pessoal em veículos de mídia. A jornalista sorriu torto.

– Nossa! Então você não está mais namorando com o compositor Matthew Jamesen?

– Não. Desde que vim para cá, não estamos mais juntos. – Claire disse, seca. Odiando o rumo da entrevista. – Podemos voltar a falar sobre a Juliette e sobre o Alex?

Quando Claire disse isso, Rose surgiu e as luzes se apagaram.

– O show vai começar, querida! – Rose gritou de tão empolgada.

A jornalista agradeceu e saiu de perto. Claire sentiu suas pernas ficarem moles e borboletas voando pela sua barriga. Respirou fundo e foi até seu lugar, onde tinha visão perfeita do palco e estava bem perto. Imaginou que conseguiria sentir o cheiro do perfume dele de lá.

As pessoas estavam gritando o nome dele e Claire sorriu. Sentiu a mão de sua mãe apertando a sua e quando a olhou, deixou escapar uma lágrima de emoção. Jane sorriu e beijou o rosto da filha. Tiffany segurou a outra mão e piscou para Claire, beliscando o nariz dela.

Os primeiros acordes do violão de Alex se fizeram presente e aos poucos as luzes foram acendendo, conforme a música ia pegando o ritmo. A primeira música seria “Sempre será o amor” e aos poucos a música foi surgindo e Alex apareceu no palco, sob alguns holofotes e a plateia foi ao delírio, gritando.

Alex estava sorrindo demais, pulando e tocava o violão de forma agressiva. Quando abriu a boca para começar a cantar, todo mundo gritava e voz dele estava perfeita. Todo mundo pulava, dançava e sorria para Alex.

Claire não demonstrou reação nenhuma. Estava atônita. Era como se seu corpo estivesse concretado por completo e não conseguia mover músculo nenhum. Não se deu conta de que não estava respirando, até que sentiu seus pulmões arderem, gritando por oxigênio.

O fantasma estava ali. Novamente.

Ela se inclinou para frente, apoiando as mãos na parede, para não despencar lá de cima. Mas por um segundo, achou que cair daquela altura, fosse menos doloroso. Ela já não escutava mais nada, não via mais nada. Mas seus olhos estavam varrendo a multidão que cantava e pulava com Alex. Apenas uma pessoa ali no meio, não estava pulando. Ela fixou o olhar nessa pessoa e quando sua visão clareou, ela viu que essa pessoa, estava olhando para ela também. Demorou alguns segundos para identificar.

Dylan. Sorrindo. Olhando para ela com aquele ar de vitorioso. Sorrindo como o diabo sorriria ao ver alguém cometendo alguma atrocidade. Claire entendeu tudo o que não queria entender no mesmo instante e sentiu tudo dentro dela se revirar e querer explodir. Ela se levantou bruscamente e foi correndo para o banheiro mais próximo. Chegou a tempo de deixar sua garganta explodir, jogando tudo o que tinha no estômago, dentro do vaso sanitário. Ela caiu de joelhos, se curvando e colocando tudo para fora. Até mesmo quando já não tinha mais nada para colocar para fora, sentia as contrações de seu estômago, violentas dentro de si. Tantas outras coisas queriam sair de dentro dela, mas tudo era confuso e ela não sabia o que pensar. Se levantou com dificuldade e foi lavar as mãos e a boca.

Então começou a chorar. Soluçava desesperadamente e ao fundo escutava a primeira música do show de Alex acabar. Sua cabeça estava um turbilhão e não conseguia parar de chorar.

– Como ele pôde fazer isso? Como ele pôde fazer isso? COMO ELE PÔDE FAZER ISSO? – Ela gritou e bateu os punhos cerrados na pia do banheiro. A força foi tamanha, que ela escutou alguma coisa caindo debaixo da pia.

– Obrigado! Obrigado, Londres! Vocês estão se divertindo? – Alex gritava no palco e cada palavra que ele falava, era como se Claire estivesse sendo atingida por lanças de cristal, por todo seu corpo. A sua dor era quase insuportável. – Essa próxima música, se chama “Perdão em memórias”. Espero que gostem. – E todos gritavam. Claro que os gritos predominantes eram os femininos.

Claire se lembrou da letra dessa música, se lembrou de como ela foi escrita. Foi no dia em que ela estava em Berlim e ele havia se mudado para o apartamento. Eles brigaram porque ele estava na casa de Dylan, bêbado. Ela fechou os olhos com força e soluçou novamente. Queria que tudo aquilo fosse um pesadelo e desejava acordar, deitada em sua cama, com ele perfeito ao seu lado. Aquele Alex forte e limpo, que ela amava. Soluçou mais.

– Claire? Você está aqui? – Tiffany falando, abrindo de leve a porta do banheiro. Claire não conseguiu falar nada. Tiffany correu até ela quando viu o estado da amiga. – Meu Deus, Claire! O que aconteceu? – Claire abraçou a amiga e não conseguia dizer nada.

Tif não sabia o que estava acontecendo, mas ficou ali, sendo molhada pelas lágrimas da amiga e esperando que ela se acalmasse, até ter condições de dizer alguma coisa. Isso levou alguns minutos.

– Será que você pode me dizer o que está acontecendo, Claire? – Perguntou Tif.

Claire se afastou da amiga e abriu a torneira para lavar o rosto. Antes analisou seu reflexo no espelho. Maquiagem borrada e olhos vermelhos, levemente inchados. Tiffany estava esperando ainda.

– Ele sucumbiu. – Claire disse, com a voz ainda um pouco soluçante.

– Quem? Sucumbiu a quê?

– O Alex subiu ao palco drogado. Eu tenho certeza de que ele usou cocaína antes de subir ao palco. Eu vi o sorriso do Dylan. Eu sei como as pessoas ficam, reconheço isso de longe. E o Alex… – Claire mordeu os lábios e balançou a cabeça, voltando a chorar. Era como se seu mundo estivesse despencando e ela não pudesse fazer nada para segurá-lo.

– Você tem certeza, amiga?

– Sim. – Disse Claire. Elas ficaram em silêncio.

“Quero simplesmente te amar. Se eu pudesse voltar no tempo, faria apenas uma coisa. Agarrar você para minha vida e não largar nunca mais.” Escutaram os versos finais da música e os últimos acordes. Os gritos voltaram.

– Claire… Nem sei o que te dizer. – Tif estava arrasada de imaginar como a amiga estava se sentindo. Estilhaçada.

– Não tem nada para dizer. – Claire passava o papel no rosto e ajeitou o cabelo com as mãos.

– Você vai embora? – Tif perguntou, com cuidado.

– Minha vontade era de estar na minha cama, tentando dormir e acordar desse pesadelo. Mas não posso. Preciso voltar para lá. Já devem estar sentindo minha falta.

– A Rose me pediu para vir ver onde você estava. – Disse Tiffany, enquanto Claire caminhava para a porta. Tif a segurou pelo braço. – O que vai fazer, Claire? – Perguntou. Claire respirou fundo e seu nariz fez aquele barulho de entupido.

– Não tenho a mínima ideia. Mas ele precisa saber que eu sei o que ele fez.

– Amiga. Eu me preocupo tanto com você… – Tif disse, baixinho.

– Eu não vou deixar que tudo se repita, Tiffany. Não vou mesmo.

Quando chegou novamente em seu lugar, todos estavam em pé, escutando Alex cantar seu primeiro cover da noite “Make you feel my love”. Claire se lembrou de quando ele cantou essa música na gravadora, no primeiro dia que foi até lá. Aquelas lanças voltaram a perfurá-la e ela se segurou para não chorar novamente. Ela olhava para ele, completamente perdida. Ele já estava mais tranquilo e aquela euforia que do começo do show, havia desaparecido. Mas ela ainda estava desinibido de um jeito que Claire jamais vira.

– Onde você estava, querida? – Perguntou Rose, algumas cadeiras ao lado.

– Banheiro. – Respondeu Claire. E foi o suficiente para encerrar a conversa.

Ela queria disfarçar seu rosto choroso. Por sorte, ninguém percebeu. Todos estavam ocupados admirando Alex cantar e tocar o violão, sentado numa cadeira. Quando ele terminou de cantar a música, olhou para cima, obviamente procurando por Claire. Estava escuro, mas ele sabia onde ela estaria. Ele sorriu para a direção de onde ela estava.

– Eu quero cantar uma música agora, que é outro cover. Quero dedicá-la à uma pessoa muito especial. Na verdade, a pessoa mais especial da minha vida. Sem ela, eu jamais teria conseguido chegar aqui. Ela acreditou em mim desde o começo. – Ao dizer isso, Alex sentiu uma pontada de arrependimento por ter feito o que fez e sentiu as palavras engasgarem em sua garganta. Seus olhos ficaram úmidos e as pessoas bateram palmas. – Eu só tenho que te agradecer, Claire. – Todos gritaram e Claire deixou as lágrimas escorrerem por seu rosto sem esboçar reação. Tif segurou forte sua mão e Claire abaixou a cabeça. – Eu te amo, baby. Essa é para você.

Ele começa a cantar a música “Waiting for a girl like you” da banda Foreigner. Claire se senta em sua cadeira e cobre os olhos com suas mãos. Tif se senta ao seu lado e passa o braço por seus ombros. Claire volta a soluçar. Sua mãe não entende e seu pai cantava a música de maneira engraçada.

– Nossa! Que declaração de amor! Essa música é linda. – Disse Steve, sorrindo e cantando.

– Claire. Está tudo bem? – Perguntou Jane. Claire balançou a cabeça e uma das mãos, sem mostrar seu rosto. Tif olhou para Jane.

– É emoção, Dona Jane. Muita emoção. – Disse Tif, tentando disfarçar.

Jane voltou a olhar para Alex e cantar a música, Steve sorriu e cantou para Jane, que o abraçou, sorrindo. Claire queria sair correndo dali. Sentia que seus ouvidos poderiam estar sangrando, assim como todo o resto do seu corpo.

“Você é tão boa, quando fazemos amor pode-se entender. É mais que um toque ou uma palavra que dizemos, somente em sonhos isto poderia ser desta forma. Quando você ama alguém, sim. Eu realmente amo alguém.” Ela escutava ele cantando e todo o coro das pessoas cantando junto.

– Eu preciso aguentar. Não posso fazer isso. Não posso desabar assim. – Claire disse e levantou a cabeça, enxugando as lágrimas com as mãos.

– Você não precisa fazer nada. Você já fez muito mais do que deveria para ele. Se quiser ir embora, você pode ir. – Disse Tif, que estava com raiva de Alex, por ele ter sido fraco e caído. Consequentemente, deixando sua amiga arrasada. – Isso foi uma opção dele. Única e exclusiva dele. Você não deve nada a ele.

– Você está certa. Mas não posso ir embora. – Claire se levantou e escutou Alex terminando de cantar a música. Todos gritavam e batiam palmas. – Eu não sei o que vou fazer, mas não vou embora agora.

Tiffany apenas sorriu para a amiga.

Claire viu Alex sorrindo e procurando por ela. Muitas luzes estavam acesas em cima da platéia e ele conseguiu vê-la. Mesmo ao longe, ele percebeu que ela estava séria, sem sorrir. Por um segundo, ele achou que ela estava triste. O que não era o objetivo. Ela deveria estava chorando de emoção por ele ter dedicado aquela música para ela. A menos que… E ele pensou.

“- Eu sei de longe quando uma pessoa está sob efeitos de drogas. Convivi quase que minha vida inteira com músicos que sempre estavam loucos. Posso até adivinhar qual droga a pessoa usou.”

Ele se lembrou em segundos da frase dela, em um dia de conversa dos dois.

E ele já sabia. Ela sabia. Ela já sabia o que ele havia feito. Ele começou a se sentir um imbecil por ter feito aquilo.

Ele tentou voltar ao show, olhou para o papel colado no chão e viu a próxima música. E começou a tocar, puxando as palmas da plateia. Mas tudo o que ele via, era o olhar triste de Claire. Tentando esquecer a grande burrada que havia feito. Apenas por ter sido fraco.

1 Comentários

    • max -

    • 29 de dezembro de 2018 at 16:45 pm

    Muito bom o conteúdo deste site…
    Visite o meu novo empregos no japão

    To fazendo um de viagens tb… abs

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