Capítulo 30

Semanas se passaram e finalmente o disco de Alex ficou pronto.

14 músicas com tocadas empolgantes de um rock mais romântico e otimista. Todas as músicas do álbum foram escritas ou por ele, ou por Claire, ou pelos dois. Letras apaixonadas e cheias de esperança na vida.

Claire havia conseguido um lugar pequeno chamado Koko, para que ele fizesse seu primeiro show. Sua primeira música estava para ser lançada e todo o trabalho de divulgação estava voltado para esse primeiro single. A música escolhida para ser a primeira a emplacar, era a “Minha escolha é sempre você”, a primeira música que eles escreveram juntos.

Muitos detalhes ainda precisavam ser acertados, a banda de Alex estava sendo treinada e eles estavam escolhendo algumas músicas para ele fazer cover durante o show, além de cantar 9 músicas de seu disco.

Alex estava na sala de Claire, pensando em músicas que poderia fazer um cover, músicas que ele gostava muito e que seria fácil para cantar. Sua ansiedade estava bem alta, pois a casa comportava cerca de 3 mil pessoas e essa ideia o fazia estremecer por dentro. O medo de errar, o medo de falhar o consumia e Claire nem fazia ideia do que estava passando na cabeça dele.

Ela estava com sua agenda cheia de compromissos e a gravadora estava produzindo muita coisa boa, muita música boa. Eles estavam cuidando dos artistas que já estavam no catálogo, então Claire não estava caçando.

Juliette abriria o show de Alex. O seu disco também estava quase pronto e as composições de Matthew eram ótimas. A voz de Juliette fazia Claire agradecer por ter audição.

Claire estava enviando dezenas de e-mails, respondendo artistas na verdade. Muitos entravam em contato por e-mail. Ela estava completamente sobrecarregada e não estava com muito tempo para cuidar pessoalmente dos detalhes finais do disco de Alex e Juliette, mas tudo passava por seu crivo.

– Eu precisava ter alguns dias da semana com 30h. – Disse ela, se espreguiçando em sua cadeira e esticando os braços. – Nunca trabalhei tanto na minha vida.

– Eu não duvido. – Ele sorriu. – Acho que terminei a lista. Tem um minuto para me ajudar a escolher?

– Claro, amor. – Ela esticou a mão e pegou a lista de Alex. – Acho que seu show precisa ter duas entradas, no famoso “bis” você pode cantar essa aqui do Led Zeppelin, Black Dog, e finalizar com a “Minha escolha é sempre você”. Para abrir o show, podemos usar o seu segundo single, que será a “Sempre será o amor”, que é romântica, mas agitada, vai animar. – Ela dizia tudo isso, rabiscando no papel. Já montando o playlist do show dele. – Seguir com “Perdão em memórias”, – ela olhou para ele, pois era a música que ele havia escrito pedindo desculpas à ela por ter sido um idiota enquanto estava viajando em Berlin – e nesse momento, você pode tocar a “Make you feel my love”. Eu amo você cantando essa música. – Ele sorri para ela.

– Confesso que quando cantei aquele dia no estúdio para vocês a primeira vez, eu já estava me apaixonando. Por mais que eu não quisesse aceitar. – Ele disse docemente e ela sorriu, como sempre ficava, abobalhada por ele.

– Lindo! – Ela voltou para a lista. – “Liberdade aos pés”, “Amor sem amarras” e mais um cover. “93 million miles”, que é a sua música e não pode faltar. “Agradecer”, “Claridade à vida”, “Apenas uma vez” e mais um cover “Madness”, que eu particularmente acho uma das melhores músicas que existem! “A cor da paz” e encerra a primeira parte com “T.N.T.” do AC/DC. Eu amo essa banda e essa música. Vai agitar. E na volta você emenda “Black Dog” e fecha com “Minha escolha é sempre você”. – Ela termina de escrever no papel e olha para ele. – O que acha?

– Eu acho quase perfeito… – Ele sorriu.

– Por quê? Quer colocar qual outra? Ou mudar a ordem?

– Quero muito cantar “Waiting for a girl like you”. Em um ritmo que case com meu estilo. Tenho na minha cabeça. Posso passar para a banda. A letra dessa música… – Ele não completou a frase, pois não precisava. Claire já sabia tudo o que ele queria dizer.

– Eu vou amar que cante essa música. Coloque-a onde quiser. O show é seu. – Claire devolveu o papel rabiscado para Alex e ainda estava sorrindo.

Alex sabia exatamente o que faria quando fosse cantar essa música e em qual momento cantaria.

– Quer ir assistir a gravação de hoje do Stone Sour? – Claire perguntou, já se levantando da cadeira.

– Não posso. Tenho que encontrar o cara que vai fazer a arte do disco. – Ele também se levantou da cadeira.

– Rose vai com você. Eu não posso faltar nessa gravação, queria poder ir com vocês. – Eles se aproximam e ele passa as mãos pela cintura dela e se abraçam. – Queria ter clones de Claire. Estou me desdobrando aqui. Nunca pensei que essa gravadora comportasse essa demanda de trabalho. Mas até que estamos dando conta. – Ela sorriu e se beijaram. – Vai pra minha casa hoje?

– Você não disse que precisava ver a Tiffany?

– Ai! Verdade! Vamos jantar hoje. Eu já estava esquecendo. Ela está louca para me ver, disse que ando muito relapsa com nossa amizade e que eu só penso em passar meu tempo livre com você. – Eles deram risada.

– Bom, não deixa de ser uma bela verdade. – Alex disse. – Nos vemos amanhã.

– Tudo bem. Eu te ligo quando chegar em casa depois do jantar. – Se beijaram novamente e ao sair da sala de Claire, se abraçaram novamente.

Juliette estava saindo da sala de Rose, com um sorriso enorme e acenou para Claire e Alex. Rose saiu na sequência e logo gritou o nome deles.

– Vamos logo, meu querido. Estamos quase em cima da hora marcada no estúdio do Flinch. Claire, querida. Qualquer problema me avisa, ok? Mas acho que você, Sebastian e o Russel, darão conta da gravação.

– O novato está fazendo um trabalho impecável. Não se preocupe. Tenho que correr. Eles já chegaram. – Ela se despede de Rose e beija Alex. – Falo mais tarde com vocês dois. – Ela deu risada e saiu correndo para o estúdio de gravação.

– Alex, você precisa levantar as mãos ao céu e agradecer todos os dias por ter uma mulher como ela apaixonada por você. E acredite, eu já disse a mesma coisa para ela. – Rose disse para Alex, enquanto enganchava seu braço no dele, para saírem do prédio.

***

– Amiga, eu juro. Estou trabalhando demais. Você não tem ideia. Produção de dezenas de discos, compor músicas, escolher playlists para show, organizar os shows, achar casas para apresentações. Céus! Pelo menos não estou caçando. Se eu caçar qualquer outra coisa, não daremos conta.

Claire e Tiffany estavam sentadas no balcão de um pub na Saint James, chamado The White Lion, um dos mais famosos pubs de Londres. Era um dos favoritos delas e conheciam bem as pessoas mais antigas que trabalhavam no local. Estavam esperando pelos seus sanduíches, bebendo um pint de cerveja.

– Gata, não esquenta. Eu só coloquei uma pressão para a gente se ver, porque sabia que você estava precisando se distrair, que o trabalho estava te consumindo. A partir do momento que começou a demorar para responder no Whatsapp ou escrever pouco no Facebook, percebi que precisava atuar para te tirar um pouco da rotina.

– Exatamente. Ai, você me conhece até quando está longe.

– Muitos anos juntas, praticamente um casamento! – Tif deu risada e bateu na perna de Claire. – E não se esqueça que, se um dia você casar, seu pai entra enroscado em um braço e eu no outro. – Claire gargalhou.

– Ahh! Mas eu não tenho dúvidas disso!

– E como seu pai está? Melhorou?

– Sim! Com a ditadura da Sra. Jane, impossível ele não entrar na linha agora. Obrigada de novo por você ter ido visitá-lo no hospital.

– Nada de agradecer. Você faria o mesmo por mim. – Disse Tif, piscando para Claire enquanto bebia mais um gole de sua cerveja. Claire apenas sorriu e balançou positivamente a cabeça, bebendo também sua cerveja. – E o seu grande Alex? Continua graaaande? – Claire quase se engasgou e começou a rir com a boca cheia de cerveja. Tif deu risada.

– Quase te dei um banho de Heineken, sua animal! – Claire dava risada. – Sim, ele continua graaaande! – As duas gargalharam. – Ele continua me surpreendendo a cada dia. Aquela preocupação de que ele poderia se envolver nas bagunças do Dylan, passou. Já correu o tempo e ele continua firme.

– Mas é sempre bom manter distância. Não o deixe mudar de ideia e ficar lá mais que o tempo de 3 meses do contrato. Nunca se sabe…

– Sim! Claro! Eu já falei com ele. Na verdade, dependendo de como acontecerem as coisas para na carreira dele, ele quer comprar ou alugar algum lugar para que a gente possa… – Claire ficou tímida e balançou a cabeça.

– Não acredito! Ele quer morar com você? – Perguntou Tif, animada.

– Quer. Comigo e com meus bichos. – Claire deu risada e Tif a abraçou sorrindo.

– Que notícia boa, amiga! Fico muito, muito feliz por vocês. Mas eu já sabia que isso iria acontecer e não iria demorar. – Elas deram risada. – Um amor como o de vocês, é sempre urgente.

– Sim. É exatamente assim que me sinto. Com urgência de Alex. Eu nunca me senti assim na vida. Na verdade, fico até com um pouco de medo. Estou tão ligada a ele, que tenho medo do vazio que sobrará se um dia nós dois nos separarmos. Me dá um frio na barriga ruim só de pensar. Claro que não vou morrer, mas vou sofrer muito. Eu o amo demais, sou louca por ele. Não consigo mais enxergar minha vida sem estar perto dele.

– Claire… – Tif torceu os lábios num sorriso desajeitado. Seus olhos brilhavam. – Isso é lindo. E não pense que isso irá acontecer. Se um dia acontecer, será quando vocês dois perderem a admiração um pelo o outro, então não será tão sofrido assim. Acredite que o amor de vocês irá transpor tudo isso.

– Eu acredito. Não duvido. Enfim, um brinde ao amor. – Elas brindam e bebem. – Me conte de você, quero saber todas as novidades.

– Ah, Claire. O movimento anda bem fraco. Na verdade, eu estava saindo com um rapaz holandês. O nome dele é Tommy. – Claire não aguentou e deu risada. – Sim, ele era de morrer de tão lindo. Pode falar.

– Estou quieta. Só dei risada.

– Palhaça! Lembrou da nossa viagem para Amsterdam e Haarlem. – Claire dava mais risada. – Sim, tenho um karma com holandeses, vou fazer o que? Sorte a minha, não?!

– Muita sorte! – Claire levantou seu copo ao ar e bebeu de novo.

– Pare de me interromper. – Elas riram. – Estávamos saindo, nos falando todos os dias. Eu estava me envolvendo. – Claire arregalou os olhos. – Verdade! Eu estava. Olha que coisa maluca. Eu estava… Gostando dele!

– Não acredito. – Disse Claire, incrédula.

– Eu juro, Claire! Aqueles olhos azuis me conquistaram. E eu acho que ele também estava gostando. Estávamos indo no mesmo ritmo.

– E o que aconteceu que toda essa história está no tempo verbal do passado?

– Ele teve que voltar para Rotterdam. Ele estava aqui apenas por poucas semanas por causa do trabalho. – Tif ficou triste. – A gente continua se falando todo dia, estamos com saudade um do outro. Mas agora ele está longe.

– Tif, a Holanda está à 2 horas de trem daqui. Não é o fim do mundo. Vocês ainda podem se ver. Claro que não com a mesma frequência de quem mora na mesma cidade, mas não é tão difícil assim.

– Eu sei. Ele me mandou um voucher de trem para Amsterdam, para sábado. Vou passar o final de semana com ele lá. – Os olhos de Tif brilhavam e Claire sorriu ao perceber que a amiga estava mesmo apaixonada.

– Vá e curta muito. Claro que não vai curtir taaaanto quanto curtiu comigo e com os cavalos roxos, mas… – Agora foi a vez de Tif engasgar com a cerveja ao rir. – Vai aproveitar.

– Cavalos roxos, coelhos flutuantes de uma pata só, bruxas que voavam em enceradeiras e cachorros com dentes de tubarão. – Elas gargalhavam ao lembrar das besteiras faladas na viagem.

– Polvos gigantes de 10 tentáculos, plantas carnívoras que comiam alface, gatos com unhas de ursos, ursos vermelhos com topete do Elvis, chocolate com gosto de abobrinha e macaco com a cara da Shakira.

– Céus! O macaco que o cara tinha desenhado era mesmo a cara da Shakira. – Elas gargalhavam tanto que escorria lágrimas pelos seus olhos e a barriga doía de tanto rir.

– Trabalho escravo na Coffee Shop. – Disse Claire, levantando o copo novamente. Tif ria muito.

– Trabalho escravo na Coffee Shop. – E brindaram, rindo muito.

Os lanches enormes chegaram e elas devoravam tudo em minutos, estavam famintas e o lanche era delicioso.

Enquanto comiam batatas fritas, Tif olhou na porta e torceu os lábios. Claire estava tão concentrada nas batatas que nem percebeu a amiga mudar o olhar.

– Droga. Era só isso que faltava mesmo. – Disse Tif e então, ela teve a atenção de Claire, que mastigava alguns palitos de batata ao mesmo tempo, estava com a boca cheia. Ela seguiu os olhos de Tif e viu o que a amiga estava vendo. E tratou de engolir logo as batatas. – Esse cara deve ter visto o check-in que eu fiz e veio aqui encher o saco.

– Olá meninas, que surpresa encontrar vocês aqui. – Disse Sam, sorridente. Nenhuma das duas estava sorrindo.

– Pois é, surpresa mesmo. – Disse Tif, seca. – Veio aqui sozinho ou algum dos rapazes vem com você?

– Sozinho. Estava passando e resolvi parar para beber algo. – Ele estava sem jeito.

– Sozinho? – Tif perguntou, novamente seca.

– Sim. Ou a Claire vai querer me bater de novo? – Ele olhou para Claire, que estava o fuzilando com o olhar.

– Se você merecer, farei de novo com todo o prazer. – Ela disse, sarcástica.

– Não que você não tenha merecido ouvir tudo o que eu disse para você naquele maldito restaurante, mas… – Claire não deixou que ele terminasse a frase e bateu a mão no balcão, fazendo um barulho alto o suficiente para que ele parasse de falar e chamar a atenção de algumas pessoas ao redor deles. Claire se levantou. Estava de salto bem alto e ficou praticamente da altura dele. O encarou bem de perto, com a raiva saltando para fora de olhos.

– De repente, Tiffany, o ar neste pub ficou irrespirável. – Claire disse entre dentes, ainda o encarando.

– Concordo. – Tif pegou sua bolsa e a bolsa de Claire. – Acho que podemos ir para outro pub. – Tif também encarou Sam, que se viu cercado por duas mulheres enfurecidas.

– Tudo bem, tudo bem. Não precisam ir embora. Eu vou. – Ele deu um passo para trás e elas ainda o encaravam. – Foi bom ver vocês. – E ele deu alguns passos cambaleantes para trás e sumiu como um raio.

As duas se olharam e começaram a rir de novo, ao se sentar na cadeira. Ficaram rindo, gargalhando por alguns minutos, sem conseguir pronunciar uma palavra.

– Eu acho que dá próxima vez que ele nos encontrar, vai bater continência e abaixar a cabeça com medo de tomar tapa na cara. – Disse Claire, enxugando as lágrimas de riso do seu rosto.

– Eu daria uma unha do pé para ter visto esse babaca apanhar de você aquele dia. – Tif disse, ofegante de tanto rir.

– Bati com gosto. Não deixei Alex encostar a mão nele, mas eu arrebentei aquele filho da puta. – Claire ria demais.

– Juro. Vou ter que contar para os meninos. Agora. Eles alopram demais esse Sam babaca. Vão aloprar mais ainda.

– Justo. Com muita razão. Ele precisa ser aloprado todos os dias para ver se deixar de ser tão pretensioso e hipócrita.

Enquanto Tif digitava a mensagem para seus amigos, Claire pensava em Alex, pensando no que ele poderia estar fazendo.

“Saudades. O Sam otário apareceu aqui e dessa vez quase apanhou de duas, hahaha.”

“Hahaha, merecido. Ele ainda vai apanhar de mim. Está tudo bem?”

“Sim, tudo muito bem. Bebendo, acabamos de comer e logo mais iremos para casa. E você?”

“Enrolando na cama. Estou com sono, mas não quero dormir agora.”

“Quer que eu vá te buscar saindo daqui?”

“Não precisa. Vou tentar dormir. Me avisa quando chegar em casa?”

“Sim. Já te aviso. Beijos.”

Claire não sabia a luta diária que Alex estava travando contra si mesmo, ainda evitando cair, ainda se lembrando daquele dia fatídico. Mas ele estava se sentindo forte o suficiente para não se desprezar e entregar os pontos. Sua ansiedade era constante. Mas ele estava vivendo um dia de cada vez.

Um dia de cada vez.

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