Capítulo 3
– Meu Deus! Que cena maravilhosa! Por favor, tirem fotos dessa mulher fabulosa entrando aqui! – Gritava Rose, enquanto Claire passava pela porta de vidro da gravadora. Todos olharam para ela e bateram palmas.
Claire sorriu e olhou para todos, sentiu um leve rubor em suas bochechas e olhou para Rose, que estava caminhando em sua direção, de braços abertos. “Essa mulher me dá um pouco de medo” pensou Claire e começou a rir de seu pensamento. Rose realmente era uma mulher um pouco assustadora, com seus cabelos loiros platinados e espetados para cima, toda descolada e jovial. Parecia que havia colocado o dedo em uma tomada e levado um choque.
– Estou muito feliz que esteja aqui, querida! Finalmente conseguimos trazer a melhor dos mundos! – Gritou Rose no ouvido de Claire, enquanto a abraçava.
– Obrigada, Rose. – Disse Claire, ainda sem jeito. Não sabia como lidar com toda aquela recepção tão calorosa.
Rose segurou em seus ombros e a olhou, ainda sorrindo. Depois fez um sinal para que todos se dissipassem, como se o show tivesse terminado e todos deveriam voltar ao seu trabalho. Ela enroscou seu braço no braço de Claire e ela foi a conduzindo para a sua futura sala.
– Claire, querida! Sua sala é a melhor do nosso escritório! Você merece tudo de melhor, porque é a melhor no que faz! Todos estavam radiantes para lhe conhecer. A famosa headhunter do mundo da música. – Rose agora falava baixo, só para Claire escutar. Sua voz era doce, quase como a voz de uma mãe.
Subindo um lance de escadas, elas chegam à uma sala enorme, toda decorada com discos e cds dos cantores e bandas que Claire havia conseguido ajudar a chegar nas paradas. Ela não conseguiu esconder a alegria e sorriu, admirada.
– Olha só! Nós admiramos muito o seu trabalho. Somos seus fãs! – Rose sorria junto e Claire a olhou, com lágrimas nos olhos. Estava ainda um pouco emotiva devido ao fora virtual que havia levado na noite passada. Rose percebeu e a abraçou. – Está tudo bem, querida?
– Está sim. É que isso, – apontando para os quadros de discos e fotos ao seu redor – é lindo demais. Amo recordar todas as pessoas que eu já ajudei, todas as pessoas que eu confiei e apostei. Fico muito feliz por ver a felicidade de todos.
– Mas parece que quem não está muito feliz é você. – Rose ergueu as sobrancelhas e ficou na dúvida. – Está arrependida de ter deixado New York? – Rose tinha certo pavor nos olhos.
– Não! Claro que não! Estou muito feliz de estar aqui. Nasci aqui e sempre quis ter a oportunidade de voltar a morar nessa cidade que amo tanto, fazendo meu trabalho. – Claire respirou fundo, para tentar manter a calma. – Mas sempre que fazemos uma escolha, temos que deixar outras de lado. Não podemos carregar tudo em nossas mãos. – Os olhos de Claire brilharam e Rose, como sempre muito esperta e sabendo de tudo da vida de Claire, já entendeu o que ela estava querendo dizer e o motivo de sua tristeza.
– Ohhh! Querida! Não acredito que aquele homem a deixou? – Perguntou Rose, segurando o rosto de Claire, delicadamente entre as mãos. Claire assentiu.
– Ele me deu o fora ontem. Virtualmente. – Claire mordeu os lábios e balançou a cabeça.
– Ele não faz ideia do que está perdendo! Se algum homem que está com você, é inteligente o suficiente para ver a mulher que é, ele jamais a deixaria! Isso é um fato! Não se preocupe querida, você merece coisa melhor. – Rose sorriu e Claire tentou sorrir para acompanhá-la.
– Pode ser. Daqui a pouco passa. Término de relação é sempre bem doloroso.
– Olha, eu já fui casada 2 vezes e não doeu nenhum pouco me separar daqueles trastes! – Rose gargalhou e Claire sorriu, achava engraçada aquela mulher. – E estou prestes a me casar pela terceira vez, com um homem maravilhoso. Todas as pessoas possuem sua tampa, você ainda não achou a sua e pode ter certeza, que sua será uma tampa e tanto! – Rose gargalhou novamente.
– Assim espero. – Claire sorriu e ergueu as sobrancelhas. – Bom, deixe tudo isso para lá. Por onde começo? – Claire bateu palma e olhou em volta de sua sala, ainda maravilhada pela decoração tão carinhosa que haviam feito à ela.
Rose mostrou à Claire todo o trabalho que estava acumulado, esperando por avaliações. Eram centenas de Cds e Dvds com músicas de cantores e bandas esperando por uma oportunidade para divulgar seu trabalho, através daquela grande gravadora, a London Records. Uma das maiores gravadoras da Europa e com certeza, a maior de todo Reino Unido.
Claire se sentou em sua mesa e na grande janela atrás dela, ela conseguia ver a catedral de St. Paul e passando o olhar mais para a direita, podia ver a Tower Bridge. Era exatamente o que ela precisava para recomeçar sua vida, limpar seu coração e voltar a ser feliz. Ela precisava estar em Londres e pretendia não sair de lá tão cedo.
Ela passou a manhã toda separando por categorias todo o material que estava disponível e já avisou que era melhor não receber mais nada até que ela avaliasse tudo aquilo. Não queria que mais trabalho acumulasse e também não queria que os músicos ficassem ansiosos esperando por uma resposta, como todos aqueles que haviam mandado o material, com certeza estavam. Não queria mais ninguém esperando por respostas, pelo menos por enquanto. Ela sempre gostou de ser ágil e dinâmica no seu trabalho, portanto iria trabalhar arduamente para botar em ordem seu setor.
Durante seu horário de almoço, ela encontrou com sua amiga Tiffany na porta do prédio onde trabalhava. Assim que viu a amiga, abriu os braços e elas correram em direção uma da outra, se envolvendo em um abraço apertado e cheio de saudade.
– Ahhhh! Devo estar sonhando! Minha melhor amiga está de volta! – Disse Tiffany, ainda pendurada no pescoço de Claire.
– Voltei, voltei, voltei! – Elas se olharam, com sorrisos nos lábios. – Estou muito feliz de estar de volta, amiga. Só percebi o quanto estava com saudade, quando cheguei aqui e comecei a rever todas as pessoas queridas da minha vida.
– Se você está feliz, significa que também estou! Tenho tantas coisas para te contar, que vamos precisar almoçar juntas nos próximos dois meses para te atualizar de tudo. – Elas riram.
– Tudo bem, você vai ter que me ajudar na mudança pro apartamento novo. – Claire deu de ombros, sorrindo, enquanto elas caminhavam em direção do restaurante onde iriam almoçar.
– Você já achou um apartamento? – Perguntou Tiffany, espantada com a rapidez da amiga.
– Claro! Procurei na internet, achei um lindo apartamento que havia acabado de ficar vago, no bairro onde queria pesquisar. Fui visitar ontem mesmo e fiquei apaixonada. Fechei negócio na hora. Disse que alugaria por 6 meses, mas dependendo de como minha vida fluir aqui… Eu tenho intenção de comprá-lo.
– Ahh! Eu tenho certeza que você vai comprá-lo! – Tiffany grudou no braço de Claire enquanto ainda caminhavam. – Onde você vai morar?
– No Chelsea. Não adianta, gosto de lá. Pertinho de toda a badalação, é a região de Londres que mais gosto.
– Eu sei, porque você é glamurosa, por isso gosta tanto daquela região. – Tiffany riu e Claire a olhou com reprovação, cerrando os olhos, fazendo com que Tiffany risse ainda mais.
– Ora, cale a boca! Você mora na Piccadilly! Está falando o que? – Elas deram risada e Claire deu uma cotovelada leve nas costelas de Tiffany.
– Eu perco o amigo, mas não consigo perder a piada!
– Eu sei disso, ou esqueceu que te conheço desde quando tinha 6 anos de idade?
– Nem me lembre! Estamos velhas e ficando encalhadas. Como está difícil encontrar um namorado decente nessa cidade. – Disse Tiffany, balançando a cabeça.
– Não é só aqui. É geral, no mundo todo! Não acredito que existam homens suficientes para todas as mulheres. E os poucos disponíveis, não prestam ou não querem compromisso. – Claire disse séria, de modo convincente.
– Concordo. Mas… Você não estava namorando? Até seu último e-mail, vocês estavam bem e embarcando para Las Vegas juntos. Aconteceu alguma coisa?
– Aconteceu. Aconteceu que eu vim morar em Londres e ele não quer deixar New York. – Claire deu de ombros. – Mas isso é assunto para nosso almoço. Vamos entrar naquele restaurante, não posso demorar muito. – Ela apontava para um restaurante bem inglês, quase um pub. Era perfeito para que as amigas pudessem conversar e colocar todo um pouco do papo em dia.
***
– Oi papai! – Disse Claire, pausando o som profissional que havia em sua sala, para poder atender a ligação do seu pai.
– Quero que passe aqui na saída de seu trabalho. Fiz salada de frutas e quero que prove! – Ele estava rindo ao telefone e Claire sorriu.
– Muito bem, velhinho. Coma tudo que quando acabar, vou providenciar mais. Não acredito que sobreviveu todos esses anos sozinho, Sr. Steve.
– Não se preocupe, filha. Vou manter a sua dieta saudável. Pode ficar tranquila. Bom, só queria te fazer esse convite. Venha aqui depois do trabalho para saborear uma deliciosa salada de frutas.
– Vou tentar, não garanto. Tenho muitas coisas para fazer, preciso ir até lojas de móveis para mobiliar meu novo apartamento. – Claire, tirou o cd do aparelho e o colocou junto com uma folha de papel que ela preenchia algumas coisas e colocava tudo dentro de um envelope branco, fechando com um clipe.
– Tudo bem, venha quando puder então. Bom, nos falamos depois.
– Eu ligo mais tarde, papai. Se cuide. Um beijo.
Desligaram o telefone e Claire passou as mãos no cabelo, olhando para todo aquele material. Ela já tinha avaliado cerca de 20 cantores e não havia gostado de nenhum. Nenhum a agradara a ponto de querer ver mais sobre seu trabalho. Muitas pessoas amadoras e ela não conseguiu sentir o dom fervendo na veia de nenhuma daqueles candidatos.
Ela estava mantendo o alto nível de seu trabalho. Ela também era conhecida como uma pessoa que falava o que precisava falar, para que a pessoa pudesse melhorar ou aflorar seu talento. Ficava triste por magoar muitas pessoas que acreditavam que eram boas naquilo, mas Claire não iria lançar uma pessoa só para que ela não ficasse triste. Tinham que ser bons. Muito bons! Era isso que ela mais prezava em seu trabalho: a excelência.
Escutou um bater na porta enquanto estava mergulhada em suas anotações. Ao gritar para que entrassem, um rapaz alto, forte e loiro entra em sua sala, sorrindo.
– Olá Claire. A Rose me pediu para vir aqui, para saber se você já conseguiu achar alguma coisa. – Era um rapaz bem bonito.
– Ainda não, é… – Ela apontou para ele.
– Edward. – Ele disse ainda sorrindo.
– Não Edward. Diga à Rose que está difícil. Queria achar alguém para que vocês pudessem, pelo menos, marcar uma entrevista. Queria achar alguém hoje. Mas não. Nada ainda. – Disse Claire, balançando a cabeça.
– Tudo bem. Estamos ansiosos para começar a trabalhar com outros lançamentos. Espero que nossa ansiedade não te pressione. – Disse Edward, piscando para ela.
– Fique tranquilo. Não costumo dar atenção para esse tipo de coisa. – Ela devolveu a piscadela.
– Vou dizer isso à Rose. Bom trabalho. – Ele deu as costas e saiu da sala, enquanto Claire pegava mais um cd da pilha enorme de avaliações.
Colocou no rádio e apertou o play. Começou a escutar um cover da música “Closing Time” da banda Semisonic. Ela se encostou na cadeira e deixou o som rolar. A banda era boa, o vocalista era bom. Até melhor que o próprio vocalista da música original. Claire gostou da voz e da harmonia da banda. Tecnicamente, eles eram perfeitos. Sorriu ao tirar o cd do aparelho, escreveu algumas coisas na folha e avaliação e colocou dentro de um envelope.
Ela se levantou e foi até Rose. Ela finalmente estava começando a trabalhar, ao entregar para Rose sua primeira aprovação.