Capítulo 29

Era uma manhã cinzenta em Londres naquela segunda-feira. Claire chegou na gravadora cedo, pois sabia que tinha muito trabalho para fazer e também tinha certeza de que Rose iria falar muito sobre tudo o que havia se passado na gravadora nos dias que Claire ficara fora. No dia anterior, Claire desligou seu celular depois que saiu da cama com Alex, para comer comida chinesa. Não queria ser incomodada e tinha certeza que Rose ligaria para ela. Simplesmente, iria dizer que a bateria do celular havia acabado e ela não tinha percebido.

– Claire querida! – Gritou Rose assim que viu Claire caminhando em direção a sua sala. – Venha até minha sala urgente! Temos muito o que conversar. Tentei te ligar ontem, mas acho que seu celular estava sem bateria. – “Bingo”, pensou Claire e deu risada.

– Acabou e eu nem percebi. Quando vi, já era tarde. Já estou indo até sua sala. Me dê uns segundos. – Disse Claire, abrindo a porta de sua sala. – Um segundo.

– Sem pressa, querida. Estarei na minha sala te esperando. – Gritou Rose. Claire pensou que o bom humor matinal dela era um pouco irritante.

Claire precisava organizar os papéis e arquivos de áudio para mostrar para Rose. Ela deixara uma certa bagunça em sua pasta. Tinha que ter arrumado na noite anterior, mas estava muito ocupada amando e sendo amada pelo homem que estava apaixonada, então deixou essa tarefa de lado, sem problema algum.

Pegou todos os papéis e quando ia saindo de sua sala, escutou seu celular tocar e voltou para buscá-lo. Tinha uma mensagem de Alex. “Estou escutando a bagunça no apartamento do Dylan daqui. Vou mais cedo para a gravadora para que ele não me veja e fique querendo que eu suba lá, ok?! Até daqui a pouco.” Claire estremeceu e pensou que precisava agilizar tudo para que ele pudesse ter condições de sair de lá o quanto antes.

Ainda meio atordoada, entrou na sala de Rose que falava rindo alto ao telefone com alguém. Claire fechou a porta e se sentou na cadeira.

– Corey, ela está na minha frente. Quer falar com ela? – Disse Rose, rodando a sua cadeira e sorrindo para Claire, que arregalou os olhos e logo se tocou que se tratava do vocalista da banda Stone Sour e Slipknot, Corey Taylor. – Só um minutinho. – Rose apertou o botão de mudo do telefone. – Fale com ele! Eles precisam vir gravar aqui essa semana! – Ela passou o telefone para Claire e soltou o botão.

– Oi, Corey. Tudo bem? – Disse Claire, sem jeito.

– Tudo ótimo e com você?

– Tudo bem também. O que passa? Me diga o que quer de mim. – Disse Claire, dando risada.

– Claire Thompson, primeiramente eu queria falar com você há alguns meses. Queria agradecer por ter me colocado naquela lista que escreveu para a revista Rolling Stones de New York. Me senti muito feliz e lisonjeado por estar entre tantas vozes clássicas e afinadas do mundo da música.

Claire havia esquecido desse detalhe. Ela escreveu uma matéria para a revista, pouco antes de voltar para Londres. A matéria era “Quais são as 10 melhores vozes do mundo da música de todos os tempos?” Foi uma das matérias mais difíceis que Claire escreveu, mas colocou Corey Taylor em 3o lugar. A lista ficou assim:

1- Freddy Mercury (Queen)

2- Jim Morrison (The Doors)

3- Corey Taylor (Slipknot e Stone Sour)

4- Robert Plant (Led Zeppelin)

5- David Coverdale (Whitesnake)

6- Ronan Keating

7- Chris Cornell (Soundgarden e Audioslave)

8- Matthew Bellamy (Muse)

9- Steven Tyler (Aerosmith)

10- Eddie Vedder (Pearl Jam)

Essa lista havia tido uma repercussão absurda que Claire jamais imaginara que tivesse. Claro que muitos não concordaram com a lista e houve diversas críticas. Mas no final, muitos acabaram aceitando e essa lista virou uma base de referência. Tinha até um pedido para que continuasse a lista até o número 20, 30.

– Poxa Corey, nem precisa agradecer. Aquela lista foi apenas a minha opinião. Gosto das suas bandas e acho incrível o que você consegue fazer com sua voz, indo de um vocal pesado como em “Split it out” para o cover da música “Wricked game”. Sou sua fã. – Claire disse, rindo e um pouco tímida.

– Eu também sou seu fã. – Ele disse rindo do outro lado da linha. – E a segunda coisa, é que quero você na produção do nosso próximo disco. E também estamos planejando um show pequeno e acústico aí em Londres. Quero sua ajuda nisso também.

– Claro. Posso fazer os dois. Basta organizarmos tudo. Não haverá problema.

– Se não for pedir demais, queria que você escrevesse algumas músicas para nós. Temos algumas escritas já, mas queria algo que tivesse sido escrito por uma mulher forte e inteligente como você. – Claire ficou tímida novamente.

– Agora eu que me sinto lisonjeada. Posso fazer isso. Vou pensar e assim que tiver algo escrito, passo para vocês. Enquanto isso, podemos trabalhar nas composições que vocês já têm. O que acha?

– Acho perfeito. Por mim está mais do que fechado.

– Ótimo. Vou te passar de novo para a Rose que ela vai cuidar dessa parte, ok?!

– Perfeito. Obrigado, Claire. Nos vemos em breve.

– Sim. Não tem de que, Corey. Um beijo. – E passou o telefone de novo para Rose, apertando o botão do mudo de novo. – Agende um horário para eles gravarem as primeiras músicas. Pescamos mais esse peixe. – Claire esticou a mão e apertou a de Rose que sorria.

– Se você fosse um homem, eu te daria um beijo na boca. – Disse Rose, pegando o telefone. – Corey, querido. Vou te passar para o setor de agendamentos…

E assim continuaram os agendamentos.

Rose e Claire conversaram durante mais de uma hora sobre tudo o que ela havia conseguido em Berlin. Rose ficou maluca ao ouvir a voz de Evelyn e disse que a queria de qualquer jeito. Infelizmente, Rose não aprovou a banda de rock gótico que Claire havia gostado, alegando que já tinham uma banda bem parecida no catálogo da gravadora.

Quando saiu da sala de Rose, Claire viu Alex entrando ao longe no hall da gravadora. Como sempre, seu coração bateu mais forte e ela foi caminhando apressadamente ao seu encontro. Ele sorriu para ela e se abraçaram forte, depois um beijo de alguns segundos. Não havia muitas pessoas ali, mas quando Claire olhou para frente, em direção ao corredor de entrada, ela viu Matthew reduzindo os passos e com uma pasta na mão. Ela congelou assim que seus olhares se encontraram. Alex notou a expressão séria no rosto de Claire e se virou. Seu olhar fuzilou o de Matthew e eles ficaram se encarando por alguns segundos, um analisando o outro. Assim que Matthew passou pela porta da gravadora, Claire apertou o braço de Alex, que só então se virou para olhá-la.

– Alex, aqui é meu trabalho, não se esqueça. – Ela disse baixinho.

– Espero que ele também não esqueça disso.

Claire não olhou para Matthew, enroscou seu braço no de Alex e foram caminhando para a sala dela. Ao entrar na sala, Claire sentia que precisava fazer algo com relação a esta situação.

– Amor, eu preciso falar com ele. Você pode me esperar aqui, alguns minutos? Por favor. – Ela disse com a voz urgente. – Não posso simplesmente ignorar o que acabou de acontecer. – Ela tinha razão e Alex, sabendo disso, apenas respirou fundo e se sentou em uma cadeira, assentindo com a cabeça. Claire se aproximou e o beijou demoradamente. – Volto em alguns minutos.

Ela saiu de sua sala e foi caminhando apressadamente para a recepção. Viu Matthew sentado em uma das poltronas confortáveis que havia ali. Assim que a viu, Matthew deixou transparecer a raiva e tristeza que estava sentindo. Ela percebeu isso assim que se aproximou.

– Matthew, precisamos conversar. – Ela disse baixo, se sentando na beira da poltrona ao lado dele.

– Não precisa me dizer nada, Claire. Eu sei exatamente quem esse cara é e sua história com ele. Sei que ele era morador de rua, ex drogado e que você o descobriu aqui em Londres. Eu já sabia que você estava com ele. Na verdade, fiquei sabendo neste final de semana.

– Como ficou sabendo? Por quem você ficou sabendo?

– Não te interessa. Tenho meus amigos aqui também. Por mais loucos que eles sejam, tenho amigos aqui. E me falaram sábado que esse cara estava namorando com você. Incrível como você pode ser rápida, não é?! – Claire respirou fundo, sabia que ouviria aquilo. Olhou em sua volta e não viu além da recepcionista, que com certeza estava prestando atenção em alguma rede social, e não na conversa deles.

– Matthew, aconteceu. Não pude lutar contra. Eu vim aos pedaços aqui, porque você me abandonou por New York. Não me julgue e não me culpe.

– Não te abandonei por New York. Mas você que me abandonou por Londres.

– Matthew! Já conversamos sobre isso. Você terminou tudo comigo por mensagem! Quando conheci o Alex, jamais pensei que pudesse me apaixonar assim por ele, justamente porque eu ainda estava recolhendo os pedaços que você quebrou. – Ela respirou fundo e ele abaixou a cabeça. Ela mordeu os lábios, estava nervosa. – Estou feliz com ele. Não queria que ficasse com mágoa de mim.

– Você é uma pessoa boa, Claire. Eu que fui um idiota por ter te perdido. Fique tranquila. Está tudo bem. Vou finalizar os trabalhos que fiz aqui e se não rolar mais nada, volto para New York, pois estão precisando muito de mim lá.

– Tudo bem… – Ela deixou a frase morrer. Ficaram se olhando por alguns segundos. – Eu preciso ir. Boa reunião com a Rose hoje.

– Obrigado. – Ele disse e voltou a olhar para sua pasta.

Claire se levantou e voltou para sua sala a passos largos. Assim que entrou, Alex, que estava lendo uma revista que estava jogada ali, a olhou e analisou sua expressão enquanto fechava a porta.

– Foi tudo bem. Mas ele já sabia de você. Alguém em comum que sabe de você, já havia contado sua história para ele. – Claire se sentou no colo dele e enrolou seus braços no pescoço de Alex e lhe beijou. – Não me importa nada disso. Só quero ficar bem com você, sem interferências externas ou de terceiros. – Lhe beijou novamente.

– Humm. Ele conhece o Dylan? – Alex perguntou. Claire parou e ficou pensando. Revirando suas memórias para tentar lembrar de algo. Num estalo veio a recordação de uma festa que foi acompanhada de Matthew e encontraram Dylan, velhos conhecidos. Claire fora apresentada para Dylan naquela noite.

– Conhece. – Claire disse, como se falasse ao vento. – Foi ele que contou tudo para o Matthew. Ótimo! Além de drogado, ele é fofoqueiro agora. – Claire se levantou do colo de Alex e foi caminhando em direção a janela de sua sala. Alex a seguiu e a abraçou por trás, daquele jeito protetor e carinhoso que só ele sabia fazer.

– Não se preocupe com isso. Eu não vou me preocupar com eles. Acho que você deveria fazer o mesmo. – Alex disse e beijou o topo da cabeça de Claire, que estava fritando seus neurônios, odiando cada parte dessa história.

– Espero que você tenha razão. – Claire apertou a mão de Alex.

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