Capítulo 26
Alex estava escutando a música “More than Words” sem parar, deitado em sua cama, olhando para o teto de seu novo apartamento. Reparava que iria precisar passar algumas pinceladas de tinta naquele teto que estava manchado por conta de umidade do apartamento de cima.
Ele tentava absorver todas as palavras que formavam as frases dessa música. Era o que ele queria, o que ele precisava aprender. Não queria estragar o seu relacionamento com Claire, uma mulher tão linda, doce e especial. Ele queria aprender a ser um namorado que merecesse segurar a mão dela. E achava que entender a letra dessa música era bom começo.
Ainda estava um pouco zonzo devido ao excesso de álcool que tomou algumas horas antes. Uma garrafa de água estava em sua mão e de minuto em minuto, ele bebericava alguns goles dela.
Sua mente estava agitada, como um parque de diversões nas férias escolares.
Ele sabia que havia sido por pouco. Que por pouco ele não caiu em tentação, que por pouco ele não foi fraco. Aquele pó, separadinho em cima da mesa de Dylan, estava quase o chamando pelo nome. Ele até chegou a passar a língua pelos lábios, desejando sentir só mais uma vez os efeitos que ela causava.
Mas sabia que seria um caminho sem volta e que iria jogar tudo fora, caso fraquejasse.
Respirou fundo e imaginou a mulher que o amava, o olhando triste e decepcionada. Foi o suficiente para que ele desistisse.
Assim que caiu em si, voltou para seu apartamento, deixou um recado no celular de Claire e esperava que ela o retornasse. Mas tinha a certeza de que iria esperar somente mais uma hora. Iria ligar novamente caso ela não desse sinal de vida.
Sabia que havia agido de maneira errada com ela. Sabia que, por estar longe dele, ela ficaria muito preocupada com toda a situação e, naquele momento em que estavam no telefone, ao invés de deixá-la segura, ele a deixou no meio de um caos e não se importou. Ele apertou a garrafa na mão até ela amassar, sentindo raiva de si mesmo por ter feito isso. Por ter agido feito um idiota, um imbecil.
Pediu a Deus que lhe desse mais uma chance. Mais uma chance de consertar as coisas e de ser forte. Forte como Claire.
“Dizer eu te amo, não é o que eu quero escutar de você. Não que eu não queira que você diga, mas que você apenas soubesse, como seria mais fácil se você me mostrasse como se sente. Mais do que palavras é tudo que tem que fazer para tornar tudo real. Então você não precisaria dizer que me ama, porque eu já saberia”.
Os olhos de Alex ficaram úmidos e ele percebeu que não havia mostrado à Claire, que a amava. O que ele considerava terrível.
– São com atitudes que preciso demonstrar meu amor e não com palavras… – Alex repetia essa frase para si mesmo, desejando que ela ficasse tatuada dentro de sua mente e de seu coração.
Desde quando viu Claire pela primeira vez, percebera a luz que ela emanava. Uma luz especial, que pouquíssimas pessoas possuem. Ela tinha de sobra. Antes mesmo que ela dissesse uma palavra a ele, ele já sabia que ela era como um anjo. Sem asas, mas um anjo.
Alex não se sentia seguro em nada em sua vida. Mas Claire lhe deu um pouco de sua luz, um pouco daquela parte que estava sobrando, e sua vida se iluminou por completo. Era assim que ele se sentia ao lado dela. Iluminado. Ele brilhava junto com a luz dela e, até sentiu por poucos instantes, que sua própria luz estava querendo voltar a brilhar.
Ele olhou no relógio, tinha que esperar pouco mais de trinta minutos para ligar novamente à ela. A música ainda tocava e ele começou a cantar junto. A emoção de trazer para sua vida a melodia daquela música, lhe fez escorrer algumas lágrimas pelos cantos dos olhos, morrendo em seu travesseiro.
Fechou os olhos e só queria estar perto dela. Era só isso que ele queria.
– Eu não vou me perdoar nunca… Não vou me perdoar nunca se eu a perder… – Ele esmurrou o colchão e depois cobriu os olhos com o braço. Estava inconsolável esperando por uma notícia dela.
Seu celular fez um barulho indicando que uma mensagem de texto havia chegado.
“Cara, cadê você? Tá muito louco aí no seu apartamento, né?! Volte para cá, chegou uma loira da Suécia que você vai amar. Top!”
Alex balançou a cabeça e largou o celular de lado. Não queria nem responder a mensagem de Dylan. Não iria se dar ao trabalho.
Ele só pensava nela. Estava quase tendo um surto de esperar que ela retornasse sua ligação. Queria escutar a voz dela, pedir desculpas. Queria deixá-la tranquila e confiante nele. Queria sua namorada feliz.
Desse sentimento, surgiu uma necessidade quase visceral de escrever.
Ele saltou da cama e pegou um caderno velho que ele guardava alguns rabiscos e pensamentos que tinha de vez em quando. E então começou a escrever sem parar. Um pedido de desculpas.
“Se eu pudesse voltar no tempo e mudar alguma coisa
Seria apenas para devolver um sorriso aos seus lábios.
Não tenho como pedir desculpas por agir feito um idiota.
O que posso fazer é lhe mostrar com meus gestos, daqui para frente
O quanto seu amor é importante para mim.
Não quero me perder na minha própria loucura
Não quero perder você para mim mesmo.
Nesses instantes em que parece que tudo acabou,
Parece realmente que nada mais existe.
Se eu pudesse voltar no tempo, congelaria o brilho dos seus olhos
Para que ele não se apagasse jamais.
Um brilho eterno e cintilante, para iluminar tudo.
Como queria ter você em meus braços agora.
Abraçar um abraço sem fim e sentir o calor morno que sai de sua pele.
Loucura que me afasta, loucura que me arrasta, loucura que me arrasa.
Essa loucura eu não quero.
Quero a loucura dos seu beijos. A loucura do seu toque.
Quero a loucura de te amar sem esperar que o amanhã exista.
Loucura de amar sem pensar no que acontece além.
Quero ter a liberdade de te amar sem pretensões.
Quero simplesmente te amar.
Se eu pudesse voltar no tempo, faria apenas uma coisa.
Agarrar você para minha vida e não largar nunca mais”
Quando ele terminou de escrever a última palavra, seu celular tocou.
Era Claire.
Era o amor de sua vida.
***
– Você me entende agora? – Claire perguntou a Alex. Estava deitada em seu quarto do hotel, olhando para a janela, observando as luzes que estavam começando a se acender na rua.
– Completamente. – Alex respondeu, com uma voz triste. Estava se sentindo pesado ainda, mesmo depois de ter sido desculpado por Claire. Eles ficaram em silêncio por alguns segundos. Claire escutou a respiração funda de Alex e sentiu mais saudades ainda. Queria abraçá-lo. – Eu vou evitar o contato com ele. Será perigoso mesmo.
– Meu amor, – Claire sentia que seu coração estava prestes a se dar um nó apertado – você precisará ser forte. Pode ir para meu apartamento quando se sentir assim. Para simplesmente ficar longe daí. Ele vai tentar me atingir através de você.
– Eu sei. Percebi isso. Ele fala da gravadora com muita raiva, mágoa… Não sei. Mas sei que quando fala de lá, está falando especialmente de você.
– Sim. Com certeza ainda está com raiva. Eu fui a única que o enfrentou. E o coloquei para fora de lá.
– Eu sei, Claire. – Alex respirou fundo novamente e apertou dois dedos entre as sobrancelhas, como se quisesse cessar alguma dor ali. – Eu fui um idiota. Me desculpe. De novo. – Ele disse com a voz baixa e transbordando tristeza.
– Tudo bem, Alex. Mas ainda estou preocupada com você.
– Serei forte. Eu prometo. Se eu fraquejar… Acho que é porque não mereço nada do que está acontecendo em minha vida e que mereço mesmo ficar nas ruas. Um sem teto de merda e fraco. – Ele fechou as mãos fortemente e viu os nós de seus dedos ficarem brancos, de tanto que os estava apertando.
– Por favor, Alex. – Claire não conseguiu dizer mais nada e seus olhos jorravam todas as lágrimas que estavam guardando. Alex escutou os soluços dela e queria se teletransportar para Berlim somente para tomá-la em seus braços e lhe dizer que iria ficar tudo bem.
– Eu estou indo para aí. Não vou deixar que fique aí sozinha e chorando por minha causa. – Alex, que estava sentado em sua cama, levantou num salto e começou a caminhar para a direção de sua pequena mala.
– Não seja tolo, Alex. Você tem gravações todos esses dias. E eu voltarei em 3 dias talvez.
– Não posso deixar você assim, Claire. Você está assim por minha causa. Só por minha causa! Você não faz ideia de como estou me odiando por fazê-la sofrer. – Alex ficou com vontade de esmurrar a parede, mas se conteve.
– Me prometa que vai ficar longe do apartamento dele e eu já poderia ficar mais tranquila. Só isso. Eu confio em você e não quero perder essa confiança. Me prometa e cumpra essa promessa.
– Eu prometo. – Alex disse, sem nem pensar.
Claire respirou aliviada acreditando em Alex. Ela precisava acreditar nele.
– Eu amo você. – Ela disse baixinho, se encolhendo na cama, como se estivesse sentindo falta de algum pedaço de seu corpo.
– Eu amo muito você, Claire.