Capítulo 25
No dia seguinte, Claire estava no aeroporto esperando Rose, com sua mala vermelha ao lado e balançando o pé de um lado para o outro. Estava impaciente. Não queria viajar. Ainda mais depois da noite maravilhosa que havia tido com Alex. Ela pensava nele sem parar, a cada minuto, cada segundo. Estava perdidamente apaixonada por ele e se ausentar por alguns dias, seria uma tortura para ela. Se lembrou de cada detalhe do rosto lindo dele e sorriu sozinha, enrolando uma mecha de cabelo entre os dedos.
– Ai meu Deus! Esse sorrisinho nos lábios, nem preciso ser vidente para descobrir em quem está pensando! – Disse animadamente Rose se aproximando de Claire, que apenas sorriu. – Querida! Você fica linda quando está apaixonada.
– Obrigada, Rose.
Rose se sentou ao lado de Claire e lhe entregou uma pasta com todos os documentos e papéis que fosse precisar, incluindo o contrato da banda.
– O contrato está aí dentro. Se puder dar uma lida nele antes de mostrar a eles, seria interessante. Quero sua opinião e me avise caso ache que algo precisa ser mudado.
– Vou dar uma lida durante o voo. Mais alguma recomendação?
– Não, minha queridíssima! Aproveite e pode deixar que vou cuidar do seu Alex. Não vou deixar nenhuma mulher chegar perto dele. Aliás, ele não veio aqui com você?
– Ele foi até o prédio do Dylan, vai assinar contrato de aluguel com um apartamento lá. – Claire disse entortando os lábios.
– Não gosto disso. – Disse Rose, séria.
– Eu muito menos. Mas… Vou confiar nele e rezar.
– É o que podemos fazer. – Rose respirou fundo. – Preciso voltar para a gravadora. Boa viagem, Claire querida. Nos mantenha informados sobre tudo, ok?
– Ok. – Elas se levantam e se abraçam. – Até a volta.
Rose foi embora e Claire caminhou para a fila fazer o check-in e despachar a mala. Ligou para Alex antes de entrar no avião e eles conversaram apaixonadamente. Claire já estava com saudades e se segurando para não largar tudo e ir para os braços dele.
Claire leu todo o contrato durante as duas horas de voo. Fez anotações de itens que acha que seria bom alterar e já escreve um rascunho de e-mail para enviar para Rose quando chegasse ao hotel.
Chegou ao aeroporto de Tegel Otto Lilienthal bem no começo da tarde.
Berlim era uma cidade que ela gostava muito e com certeza estava entre suas cidades favoritas. Boa comida, país organizado e pessoas bonitas.
O táxi a deixou na porta do hotel Intercontinental e ela foi direto para seu quarto enviar o e-mail para Rose e ligar para Alex.
Apenas pouco mais de duas horas. Apenas.
– Oooiii, meu amor! – Alex atendeu o telefone dando muita risada. Claire estranhou.
– Alex, está tudo bem?
– Está tudo ótimo! Estou comemorando com o Dylan aqui! Seremos vizinhos agora!
Claire sentiu um frio polar subir pelo seu corpo, desde os pés até a cabeça. Precisou se sentar na beira da cama para não cair dura no chão e respirou fundo. Ficou muda. Alex dá uma risada alta no telefone e ela se irrita.
– Alex! O que você tomou? – Ela disse entre dentes.
– Tomamos uns shots de tequila. Essa bebida é booooaaaa! – E gargalhou. Claire escutou ao fundo a gargalhada de mais pessoas, incluindo de mulheres.
– Alex! Alex! Alex! – Claire levou a mão livre à cabeça e percebeu que estava tremendo. – Pelo amor de Deus, Alex. Saía daí! – Claire se lembra da fama de mulherengo do Dylan. O cara era totalmente ligado às coisas erradas. – Meu amor, por favor. Beba um copo de água e vá embora.
– Tá tudo sob controle, minha linda. Tudo sob controle. Eu já disse para todos aqui, que eu amo você e eles deram risada da minha cara quando eu disse que te pedi em namoro. – Alex gargalhou. – Vou pro albergue buscar minhas poucas coisas. Vou dormir hoje no meu apartamento. Finalmente, terei um lar! Tudo graças à você, meu amor. Tudo graças à você. – Alex falava uma palavra engolida pela outra, se arrastando.
– Tudo bem. Finalmente! Eu estou muito feliz que sua vida esteja mudando. Mas por favor, não a deixe como antes. Você sabe o caminho que precisa trilhar se não quiser cometer os mesmo erros. – Claire estava desesperada e começou a caminhar pelo quarto.
– Eu não vou usar cocaína, Claire. – Alex disse, num tom um pouco mais sério. – Será que você pode me dar um voto de confiança? Eles me ofereceram, mas eu neguei.
– Meu Deus… – Claire se encostou na parede e respirando fundo, fechou os olhos. Desejando que toda aquela conversa fosse apenas um pesadelo. – Eu confio em você. Confio! Não confio nesse marginal que você está enfiado dentro da casa dele. – Claire cuspiu as palavras. – SAIA DAÍ ALEX! – Ela acabou perdendo a pouca paciência que tinha para esse assunto e acabou gritando.
– Não grite comigo. – Alex disse, se mostrando irritado. – Nos falamos mais tarde. – E desligou o telefone.
Claire estava furiosa. Tentou ligar novamente, mas Alex havia desligado o celular. Ela estava contraindo tanto o maxilar, que quando se deu conta, ficou com medo de quebrar algum dente. Apertou o celular nas mãos e não pensou duas vezes. Gritou e atirou o aparelho contra a parede, fazendo com que voasse pedaços de celular pelo quarto todo. E começou a chorar.
Ela não queria que Alex ficasse exposto às tentações e tinha certeza que Dylan iria usar Alex para lhe atingir, por tê-lo feito perder o emprego.
Pensou que não havia nada que pudesse fazer, pois não tinha ninguém para quem ligar e pedir ajuda. Talvez Tiffany, mas logo mudou de ideia, pois não queria expor a amiga numa situação dessa. Andava de um lado para o outro no quarto do hotel e lágrimas de raiva escorriam pelo seu rosto. Olhou para o celular destruído e respirou fundo. Pensando na besteira que havia feito, pois teria que comprar um celular novo.
Sentou-se no chão e começou a procurar o chip e o cartão de memória do celular, ainda com as mãos tremendo e a cabeça a mil. Queria pegar o primeiro avião de volta para Londres e ir direto do aeroporto para o maldito prédio onde ele iria morar.
Tentou repassar todo o diálogo que havia tido com seu namorado. Estava difícil acreditar que aquilo estava acontecendo.
– Como eu fui idiota em pensar que ele iria se manter forte. – Ela disse em voz alta, entre um soluço e outro. – Pra variar, uma idiota. – Ela pega o chip do chão e logo acha o cartão de memória.
Se levanta, vai ao banheiro lavar o rosto e depois pega sua bolsa. Precisava ir para alguma loja comprar um celular novo. Não podia ficar completamente inacessível.
***
Em pouco tempo, ela ligou seu novo celular novamente, com o mesmo número habilitado e com tudo o que havia salvo do outro celular, ela recuperou quase tudo. Estava caminhando pela rua gelada de Kurfünstendamm, uma avenida comercial na região oeste de Berlim.
Havia 4 mensagens de voz e ela escutou cada uma atenciosamente.
“Filha, estou tentando te ligar e não está dando certo. Foi bem de viagem? Seu pai terá alta daqui dois dias. É uma maravilha, não é? Nos ligue assim que puder. Vou cuidar dos seus bichinhos hoje de noite. Um beijo.”
“Claire, minha querida! Ligue esse celular! Preciso falar com você urgente sobre o CD do Stone Sour. O Corey Taylor quer que você esteja aqui quando eles forem gravar. Meu Deus! Vou mandar fazer clones de você, menina. Tente resolver as coisas o mais rápido possível aí. O Corey disse que iria te ligar. Acho que ele está apaixonado! – Rose gargalha do outro lado da linha. – Enfim… Me ligue. Beijos.”
– Claro. Tudo que eu preciso na minha vida agora. Um Corey Taylor apaixonado por mim. Super bacana. – Claire falava sozinha caminhando, balançando a cabeça.
“Claire, já escrevi mais algumas letras para a Julliette. Estão ótimas… – Matthew fez uma pausa longa. – Estou com saudades. Acho que te vi ontem, saindo do restaurante do Gordon. Estava acompanhada e parecia estar muito feliz. Acho que era você, estava chovendo e o taxista passou acelerando. Me diga que não era você.”
– Inferno! Inferno! Inferno! – Claire estava muito irritada. – Era eu sim, Matthew. – Ainda bancando a louca e conversando sozinha.
“Me desculpe. Não deveria ter feito nada daquilo. Me desculpe… Eu… Cheguei bem perto… Quando percebi o que poderia acontecer… Lembrei de você e vim embora para meu apartamento. Estou aqui, deitado na minha cama, olhando para o teto e bebendo água para passar a bebedeira. Imaginando o sofrimento que devo ter te feito passar, estando tão longe. A preocupação… – Claire estava parada no meio da calçada, escutando cada palavra e sentiu seus olhos ficarem úmidos novamente. – Não quero te fazer passar por isso. O contrato aqui é de 3 meses. Espero que nesse tempo eu consiga estar estabilizado e sair daqui, ir para perto de você… Me desculpe de novo. Menos de 24h que agora tenho uma namorada linda e eu já estrago tudo… Desculpa de novo. Eu te amo.”
Claire estava sentindo um alívio enorme no coração.
Estava feliz por Alex ter caído na real e percebido o que estava fazendo. Quando desligou a ligação para a caixa postal, ia clicar no número de Alex para ligar, mas o nome do Rose começou a piscar na tela. Ela não tinha opção, teria que atender.
– Oi Rose. Já ia ligar para você. – Claire sorriu, ao perceber a mentira que estava contando.
– O que aconteceu que não consegui falar com você durante horas, minha querida?
– Ééé… Meu celular morreu. Precisei comprar um novo. – Claire sorriu por mentir de novo.
– Tudo bem. Eu deveria ter deixado um extra com você. Não se pode contar muito com essas novas tecnologias. – Rose gargalhou. – Você pegou meu recado? O Corey te ligou?
– Peguei seu recado, mas se ele me ligou, o celular estava desligado. E eu acabei de ligar e escutar todos os recados. Sou uma só, não dou conta de tanta gente querendo falar comigo. – Claire deu risada. Estava se sentindo mais leve a ponto de conseguir rir.
– Tudo bem, minha querida. Ligue para ele. Ele quer que você esteja aqui. Iriam gravar o CD nessa semana. Eles têm um show na quinta em Moscow e viriam para cá direto, chegando na sexta. Mas ele exige que você esteja aqui.
– Que coisa estranha, Rose. Eu nem sou tão amiga assim dele. O que ele quer comigo?
– Não sei. Suspeito que ele esteja apaixonado. Ou que ele tenha descoberto algum talento obscuro seu para a música. – Rose deu risada.
– Sem talentos. Eu não faço mais do que a minha obrigação.
– Ah sim, claro. Bom, querida. Se ele não te ligar, ligue para ele. Ok? Não podemos perder essa.
– Sim, claro. Vou conversar com ele e saber o que quer comigo. Bom, te ligo mais tarde. Vou jantar hoje em algum daqueles lugares que você me disse. Só vou conseguir falar com o pessoal da banda amanhã de manhã.
– Isso. Eles agendaram com você na casa de um dos integrantes da banda. Te deixei o endereço naquela pasta.
– Eu vi. E o contrato, você leu o e-mail que te mandei?
– Vi e já te mandei um contrato com as alterações. Minha querida! O que eu seria sem você?
– Você me contratou para ser seu braço direito. É o que eu pretendo ser. – Claire disse, com um sorriso no rosto.
– Obrigada, querida! – Rose gritou eufórica do outro lado da linha. – Nos falamos mais tarde. Ahh, amanhã o seu Alex virá aqui para passar mais uma música. Está tudo caminhando bem para ele. Um beijo, querida!
– Um beijo, Rose.
Claire queria saber como uma pessoa normal poderia dizer tantos “querida” em uma frase só. Ela precisava ligar para Alex, para sua mãe, para o vocalista da banda Stone Sour e iria ignorar o recado de Matthew. E já tinha decidido que, se ele perguntasse se era ela acompanhada, correndo na chuva, iria dizer que sim. Era ela correndo com o amor de sua vida.