Capítulo 20

Claire estaciona, na manhã de sábado, o carro no estacionamento do hospital e desce com a mãe, que está com uma mala pequena nas mãos, animada e com os lábios coloridos de um batom cor de rosa escuro. Steve havia recebido liberação da UTI e estava em um quarto. Isso significava que ele estava melhorando e que o pior já havia passado. E o melhor, Jane poderia ficar no quarto como acompanhante de Steve.

Ao abrirem a porta de onde Steve estava, ele sorriu e se emocionou ao ver as duas mulheres de sua vida juntas, felizes por vê-lo se recuperar tão rápido. Ele passou bem perto de algo pior e sabia que havia corrido o risco de não estar mais ali. Ele teria uma dívida eterna com quem quer que fosse, que deu mais algum tempo de vida a ele.

– Minhas meninas! – Ele disse, abrindo os braços. Frase que ele sempre dizia quando ele e Jane eram casados. Jane se apressa em chegar perto dele, enquanto Claire fecha a porta. Os lábios dos dois se encostam e Claire guarda um sorriso dentro da boca. Jane abraça forte Steve e começa a chorar. – Não chore, minha pequenina! Eu estou bem agora. – Ele disse, bem perto do ouvido de Jane, que o olhou estreitando os olhos.

– Você nunca mais ouse me dar esse tipo de susto! – Jane disse brava. Ele deu risada e olhou para Claire, que estava de braços cruzados apenas observando e aguardando sua vez de abraçar o pai.

– Não darei. Prometo. – Ele beijou os dedos cruzados e Jane o beijou novamente, antes de se afastar e permitir que Claire se aproximasse.

– Posso dar um abraço no meu pai agora, senhora Jane? – Disse Claire com tom de deboche e Jane ficou vermelha. Claire passou a mão no topo da cabeça da mãe e abraçou o pai. – Nunca mais ouse dar esse tipo de susto em nós. – Claire repetiu a frase da mãe e Steve revirou os olhos.

– Ora, tive muita sorte. Não pretendo abusar novamente. – Steve disse, segurando a mão de sua filha. – Esse tipo de chance não costuma se repetir.

– Ainda bem que sabe, papai.

– Você será obrigado a frequentar minhas aulas de natação e minha yoga. Fora as caminhadas que iremos fazer juntos. Vai precisar perder essa gordura abdominal e deixar o sedentarismo do lado. – Jane disse com tom autoritário e Steve ergueu as sobrancelhas.

– Nós mal voltamos a namorar e já que me dar ordens, mulher? – Steve deu risada junto com Claire e Jane colocou as mãos na cintura.

– Nesse aspecto serei extremamente rigorosa com você. E pode ir se acostumando. Não pretendo lhe dar moleza. – Jane disse, cerrando os olhos.

– É melhor não contrariar, papai. – Claire dava risada.

– Tudo bem, eu me rendo. Prometo que vou fazer tudo o que vocês me disserem para fazer. – Steve disse, levantando as mãos para o ar.

Alguém bate na porta e a abre. Entrou no quarto um médico para avaliar como Steve estava. Jane olhou para Claire assim que bateu os olhos no médico. Ele era bem bonito, alto e com jeito de quem gostava de viajar nas folgas para ir à praia, pois tinha a pele bronzeada.

– Bom dia. – Disse o médico. – Está com visita hoje, Sr. Steve? – Ele olhou para Jane e apertou sua mão, depois olhou para Claire sorrindo e a cumprimentou.

– Pois é. Minhas duas mulheres vieram me visitar hoje, Dr. Luke. – Steve disse sorridente. O médico olhou para as duas rindo.

– E vocês convivem numa boa? Eu digo, não deve ser fácil lidar com o ciúme de duas esposas. – Luke riu ainda mais e Claire o acompanhou. Jane demorou alguns segundos para entender a piada e Steve não entendeu mesmo.

– Faço o papel de filha mesmo. – Disse Claire e então Steve começou a rir, pois havia entendido o que o médico dissera.

– Ufa! Ainda bem. É difícil cuidar de uma mulher, imagine de duas. – Luke sorriu e começou a mexer nos papéis que estavam em sua prancheta de prontuários dos pacientes. – Como está se sentindo, Steve?

– Estou bem. Sem dor e faminto! Preciso comer! Sinto que sou capaz de comer um boi inteiro neste momento. – Todos riram.

– Vou providenciar uma refeição para você, mas o hospital não permite que eu lhe traga um boi para comer. São as regras, me perdoe. – Mais risadas. Claire pensou que o médico era uma pessoa divertida.

– Deixe o boi para quando sair daqui, velhinho. – Disse Claire. – Mas sem as partes de gordura que eu sei que adora.

– Nenhum pedaço de bacon. – Completou Luke. – Aliás, a nutricionista passará aqui entre hoje e amanhã, para lhe recomendar a dieta que deverá fazer em casa. – Steve respirou fundo.

– Ok. – Ele disse, se entristecendo. Ele pensava em pedaços de bacon estalando em sua frigideira e sua boca se encheu de água. Infelizmente, ele gostava de comer coisas que não faziam bem à sua saúde.

– Agora que vamos voltar a morar juntos, vou controlar tudo o que come. – Disse Jane, apertando levemente o braço dele e Claire e Luke deram risada.

– Isso será ótimo, Jane. – Disse Luke. – Confio em sua competência.

– Doutor, falando em competência, essa é a minha filha que eu lhe disse que trabalha com música, headhunter de novos artistas e ajudando as bandas antigas nas composições de seus discos e shows. – Disse Steve. Claire sentiu as bochechas queimarem enquanto Luke olhava para ela sorrindo. Claire não sabia ao certo se gostava do orgulho que seus pais tinham dela, pois esse orgulho sempre a colocava em situações embaraçosas.

– Meu pai sempre fazendo propaganda enganosa… Tsc tsc. – Claire balançou a cabeça.

– Quando disse para seu pai que minha banda favorita era o U2, ele me disse que você é muito amiga de todos da banda. Cheio de orgulho. – Disse Luke, dando risada.

– Muito orgulho da minha filha! – Steve uniu as mãos como se fosse rezar e sorriu.

– Veja bem, eu apenas sou amiga deles. Não produzi nada com eles, sempre estivemos em gravadoras diferentes. Apenas isso. – Claire tentou resumir a história que tinha com a banda. Não mencionando os episódios divertidos que teve com eles, como quando os encontrou em um karaokê na Irlanda e o vocalista estava cantando a música “Psyco Killer” da maneira mais engraçada do mundo. E também não mencionando a ajuda que deu na composição da letra da última música que eles haviam lançado.

– Quando encontrar com eles novamente, lhes diga que o médico de seu pai é muito fã. – Luke piscou para Claire e deram risada.

– Quanto tempo ele ainda permanecerá aqui, doutor? – Perguntou Jane.

Luke explicou o que havia sido feito na cirurgia de Steve e que ele deveria ficar mais alguns dias, pois às vezes pode ocorrer algumas intercorrências. Não era seguro que Steve fosse para casa naquele momento. Explicou também os cuidados que deveriam ter quando voltassem para casa e todos ouviram atentamente.

Quando foi se despedir, ao final da visita, ele segurou as mãos de Claire e a olhou sem dizer nada, depois se virou para Steve.

– Steve, está de parabéns por suas mulheres. Sobretudo, percebo o quanto você dois capricharam em Claire. – Jane e Steve deram risada e Claire mordeu os lábios, morrendo de vergonha.

– Caprichamos mesmo. Filha única, então toda nossa dedicação foi somente para ela. – Disse Jane, se orgulhando do reconhecimento de Luke para com sua filha.

– Pelo amor de Deus. – Disse Claire balançando a cabeça.

– Até mais, Claire. – Disse Luke rindo e saiu do quarto.

Assim que ele fechou a porta, Claire se virou para os pais, irritada.

– Quando vão perder a mania de tentar me arrumar pretendentes? Ou vocês acham que eu não sou capaz de encontrar alguém por meus méritos?

– Ahh! Espere um momento! – Jane levantou o dedo ao ar. – Steve, eu conheci o novo namorado da nossa filha. – Jane disse sorrindo. – E devo admitir que ele é um dos homens mais bonitos que já vi em toda minha vida.

– Mãe! Eu disse que ele não é meu namorado! Estamos nos conhecendo. Tem muita coisa para acontecer ainda na vida dele e eu não quero que ele perca o foco com um namoro nosso.

– Namorado? Quem é esse rapaz, Claire? – Perguntou Steve sorrindo, obviamente provocando a filha.

– Não é meu namorado, pai! Não acredite no que essa senhora com parafusos a menos está lhe dizendo. – Claire estreitou os olhos para Jane, que estava com o celular na mão, tirando uma foto de Steve. Claire deu risada e não perguntou, mas tinha certeza que era para postar em alguma rede social na internet.

– Não seja burra, filha. Lindo daquele jeito, se você não o agarrar de verdade, vai ser difícil encontrar outro. – Disse Jane, sorrindo para a foto que acabara de tirar.

– Vocês dois estão conseguindo me deixar irritada.

– Isso não é irritabilidade. É sentimento. Sentimento que você tem pelo Alex. – Jane disse, fazendo carinho na cabeça de Steve e guardando o celular no bolso.

– Ok! Eu me rendo. Sou apaixonada por ele, mas quero que ele se foque na carreira de cantor. Está tudo indo tão bem para ele… Não quero que alguma coisa estrague tudo. E não irei me perdoar se essa coisa for eu mesma.

– Faz sentido… – Filosofa Steve, olhando para a parede. – Mas, se está apaixonada, não deixe que ele escape. Você não faz ideia do quão ruim é ficar perdido por aí, por causa de um amor que se foi. – Steve apertou a mão de Jane. Gesto que fez os olhos de Claire se encherem de lágrimas.

– Ohh! Steve, seu bandido romântico! – Jane se emocionou e tentou abraçá-lo de um jeito que não arrancasse nada que estivesse preso a ele, como fios e cânulas.

– Bom… – Claire aparou discretamente uma pequena lágrima que ia cair de seus olhos, com sua mão e sorri. – Eu preciso ir, meus queridos. Tenho algumas coisas para fazer, como levar os bichinhos ao veterinário para tomarem vacinas.

– Ah! Que saudade dos seus peludinhos. Quando sair daqui, quero muito vê-los. – Sorriu Steve.

– Claro, vamos marcar alguma coisa e aí eu apresento o Alex para você. – Claire mordeu os lábios escondendo um sorriso, mas seus pais percebem o quanto seus olhos brilham.

– Precisa da minha aprovação. – Steve fez cara de sério.

– A minha você já tem. Meus netos sairão lindos com pais assim. – Jane sorriu e Claire balançou a cabeça, revirando os olhos.

– Ok! Minha deixa para ir embora. Até amanhã, meus amores. – Claire dá um beijo em cada um e vai embora.

Ela caminhou para fora do hospital, em direção ao estacionamento onde estava seu carro. Pensou no que seu pai acabara de dizer. Realmente deve ser muito difícil viver com a tristeza de ter perdido um grande amor. Mas ela sabia muito bem que o amor é como uma planta delicada. Precisa ser cuidado todos os dias, regá-lo com amor e carinho, para que ele cresça saudável e vistoso. O amor é assim e Claire sabia que precisava cuidar. E ela esperava que Alex também tivesse esse pensamento, pois o que ela mais queria naquele momento, era ser cuidada por ele.

Assim que entrou no carro, pegou seu celular e mandou uma mensagem para ele, pois ele acabara de comprar um celular.

“Vamos jantar e assistir um filme em casa hoje de noite?”

Era sábado e a única coisa que Claire queria, era passar a noite nos braços dele.

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