Capítulo 2

Ao chegar à porta da casa de seu pai em Clapham Junction, olhou pelo vidro antes de apertar a campainha. Deu risada ao ver seu querido pai sentado na sua poltrona tradicional, lendo a seção de esportes do The Guardian. Bom, pelo menos ela achava que era a seção de esportes, ao ver de longe uma grande foto de David Beckham, segurando uma bandeira do Paris Saint Germain.

Claire optou por visitar seu pai primeiro, pois sabia que sua mãe estaria em uma de suas aulas semanais de yoga. Segunda era o dia do yoga, terça era o dia do alongamento, quarta e sexta eram dias de hidroginástica. O álibi perfeito para evitar comentários posteriores de birras ou ciúmes. Era muito difícil lidar com aqueles dois. Tocou a campainha e esperou, mordendo o canto de um dos dedos. Estava ansiosa, há muito tempo não via o pai.

– Meu Deus! Minha filha! – Disse Steve, abrindo seu melhor sorriso e abraçando a filha. – Que surpresa boa! Não nos contou que estava vindo para cá. – Ele a afastou e olhou para ela. Claire apenas sorria, com os olhos marejados. Sentia muita saudade do velho pai. – Como está linda.

– O senhor está lindo também, papai. Que saudade. – Ela disse, segurando as mãos do pai.

– Venha, venha. Vamos entrar, vou lhe preparar um chá. – Disse Steve, puxando Claire pela mão e fechando a porta. Ela gostou de ouvir ao fundo, uma melodia conhecida que seus pais adoravam sempre dançar. Uma música de Barry White.

Claire observou a casa e percebeu o quanto estava fazendo falta a presença de uma mulher ali. Havia uma pilha de jornais e revistas espalhadas pela mesa de jantar, blusas que usava e largava pendurada pelas cadeiras e o cheiro de quem não abria muito as janelas. Ela pensou em qual situação estaria a cozinha.

– Papai! Que bagunça! Não tem tido muito tempo fora de casa, certo? – Disse Claire, acompanhando o pai até a cozinha. Bingo! A cozinha estava repleta de frutas mofadas e a geladeira estava vazia, ao contrário do congelador, provavelmente.

– Na verdade não. Tenho lido muito, escutado muita música e assistido muitos filmes. – Disse Steve, enquanto enchia a chaleira para levá-la ao fogo. Claire sentiu uma pontada de pena do pai. Ele estava sozinho.

– A Marie não voltou mais? – Claire perguntou, enquanto de encostava na parede branca da cozinha do pai. Ela se referia a namorada de alguns anos de seu pai. Ao contrário de sua mãe, Steve sempre teve muitas namoradas depois do divórcio. Era o jeito dele de lidar com a solidão. Sua mãe preferiu abarrotar a agenda de compromissos, seu pai preferiu abarrotar a agenda de número de telefones de mulheres igualmente divorciadas ou viúvas.

– Não. Terminamos mesmo. Agora quero dar um tempo. Quero ficar sozinho por uns meses. Colocar a cabeça no lugar. – Steve levantou a cabeça e olhou para fora através da janela de sua cozinha, que estava bem a sua frente. – Sinto falta da Marie, mas foi melhor assim. Ela tinha alguns problemas sérios na cabeça. – Claire começou a rir do pai e ele também.

– Olha, acho que não é só ela, viu?! – Ela se aproximou dele e lhe deu um beijo no rosto.

– Me fale sobre você. Vai ficar quanto tempo aqui? – Steve pegou duas xícaras enormes e colocou na mesa, junto com um pote repleto de biscoitos doces.

– Pois é, papai. Essa é a boa notícia que vim aqui, pessoalmente lhe dar. – Ela sorria muito. – Voltei para ficar! Voltei para morar aqui em Londres!

– Não acredito! Você está falando sério? – Steve levantou uma sobrancelha e Claire assentiu. Ele abriu o maior sorriso possível e abraçou a filha. – Essa é a melhor notícia que eu poderia receber! Que felicidade ter minha única filha de volta.

– Sim, felicidade mesmo. Ainda mais sabendo que terei muito trabalho para cuidar do senhor. Pelo amor, que a mamãe me dê menos trabalho. – Ela disse, apontando em sua volta. Steve corou e ela o abraçou novamente. – Eu te amo, papai!

Claire não se importava em cuidar dos pais. Enquanto tomava o chá delicioso de ervas que o pai havia feito, ela já fazia uma lista mental de tudo que deveria comprar para encher a casa do pai de saúde e qualidade de vida. Frutas frescas, verduras, alimentos não congelados e flores. Ela queria muitas flores espalhadas pela casa de seu pai. Ela o sentira triste e sozinho, queria alegrar o espaço que ele estava passando tempo demais.

Depois de pouco mais de uma hora, ela deixou a casa do pai e foi até o supermercado mais próximo, que ficava apenas algumas quadras dali. Encheu o carrinho de tudo que havia planejado e muito mais. Ela sabia que o pai não estava passando por necessidade, pois sua aposentadoria era boa, mas sabia que jamais faria uma compra daquela para sua casa. Caprichou nas flores e escreveu um bilhete para que fosse entregue tudo junto “Papai, cuide dessas flores e coma alimentos saudáveis, por favor. Não quero ter que cuidar de um doente na cama. Com amor, Claire”.

Ela tinha certeza de que receberia a ligação do pai, emocionado, assim que tudo chegasse à sua casa. Ele era do tipo durão, mas gostava de atenção. Já que estava solteiro e pretendia ficar assim por mais um tempo, Claire cuidaria dele. Seus pais cuidaram demais dela quando era criança, nada mais justo que fosse sua vez de cuidar deles.

Era a hora de passar em uma imobiliária que ela havia visto pela internet, um apartamento bacana em Chelsea. Ela tinha certeza de que necessitava de muita pesquisa, mas queria que esse assunto se resolvesse o quanto antes. Claire gostava de plantar flores, de mobiliar a casa, gostava de usar a imaginação para a decoração e sempre ousava nas cores das paredes.

Chegou ao local combinado com o corretor, na hora certa. Subiram alguns lances de escadas e logo estavam no último andar de um prédio de 5 andares. Ela optara por aquele, justamente por ter o terraço junto. Estava ansiosa para ver o apartamento.

– Veja, os antigos moradores precisaram se mudar para a Espanha, então eles tem pressa para vender esse imóvel. Isso justifica o valor abaixo do mercado. É um achado, você tem muita sorte por ser a primeira vir conferir. Você está interessada no aluguel ou na compra? – Perguntava o corretor prestativo, procurando em sua pasta as chaves para abrir a porta.

– Bom, minha vida é uma loucura. Não sei se seria a compra… – Claire pensava que não queria mais deixar Londres, mas seu trabalho era completamente imprevisível. Ela mordia os lábios, sendo consumida pela dúvida.

– Bom, pode garantir o aluguel. Caso queira comprá-lo depois, podemos negociar esse valor ainda baixo. Acredito que isso seja possível. – Ele sorriu quando encontrou as chaves e em segundos a porta estava aberta.

O apartamento era lindo. A sala era espaçosa e Claire já começara a fazer seus cálculos mentais para saber o que caberia onde. Ela sorria e olhava tudo em sua volta. O apartamento estava completamente vazio e era grande, mas ela estava se sentindo bem lá. O primeiro lugar que foi avaliar, era a varanda da sala. Abriu a porta de vidro e olhou uma linda paisagem do Hyde Park. Também conseguia ver rio. Era perfeito.

– É incrível, não é? – Disse o corretor de bigodes brancos, se juntando à ela na varanda. – No seu futuro quarto tem uma varanda tão linda quanto. A mesma visão. Venha.

Ela gostou de todos os cômodos do apartamento. Pensou que até poderia ter animais de estimação lá. Um cachorro e um gato. Talvez uma cacatua divertida e tão louca quanto seus amigos. Ela já estava disposta a bater o martelo, mas quando subiu para o terraço, teve certeza de que aquele apartamento, deveria ser seu. Pelo menos por alguns meses, ou talvez alguns anos. Ela não era o tipo de pessoa indecisa ou que pensava muito para tomar decisões. Não gostava de sentir que estava perdendo tempo.

As plantas do terraço não foram retiradas. Os antigos donos eram pessoas de bom gosto e aquele jardim era fantástico. Tinha caminhos feitos com pedras entre os vasos de diversas plantas. Um pedaço de terra cheio de flores, que já estavam começando a murchar devido a proximidade do outono. Em outro canto, havia mais terra e ela tinha certeza de que aquelas dezenas de plantas sem flores, eram tulipas. Reconheceria aquelas folhas em qualquer lugar, mas ela teria que esperar até a próxima primavera para saber suas cores. Tinha um banco de madeira virado em direção ao Hyde Park. Pensou em quantas vezes queria se sentar ali e ficar observando o dia passar, os pássaros a voar, tomando uma xícara de chá quente enrolada em um cobertor.

– E então? Gostou do imóvel? Vamos fechar negócio? – Perguntou sorrindo, o corretor.

– Sem dúvidas! Esse apartamento é meu! – Disse Claire, apertando a mão do senhor.

***

Claire olhava novamente pela janela de vidro de uma porta, só que agora ela estava em Notting Hill, um bairro tranquilo e perfeito para quem queria uma vida sossegada e silêncio para poder dormir em paz. Ela procurava por sua mãe e logo a avistou vindo da cozinha com um prato cheio de pedaços de frutas. Bateu na porta e logo seus olhares se encontraram. Jane sorriu e jogou o prato que estava em suas mãos, em cima da mesa e correu para abrir a porta para a filha.

– Minha nossa! Claire! Eu não acredito que você está aqui! – Disse a pequenina Jane, se pendurando no pescoço da filha, que era muitos centímetros mais alta que ela.

– Por que ninguém acredita que eu estou aqui? – Perguntou Claire, rindo e levantando a mãe que pesava o mesmo que uma criança grande.

– Porque faz 3 anos que você não pisa aqui! Todos estavam com muita saudade! – Disse Jane, se afastando de Claire e abrindo caminho para que ela entrasse e fechando a porta. – Claro que eu não estava com tanta saudade assim, pois fui lhe visitar em New York. – Jane sorria demais, era quase um sonho ver a filha de volta.

– Pois é. Depois de quase me deixar louca em New York, a senhora quer dizer, não? – Claire se sentou no sofá e observava a casa da mãe, comparando com a casa de seu pai. A casa estava em ordem, limpa e com cheiro de lírios no ar. Com certeza a mãe sabia se virar melhor com a solidão do que o pai.

– Eu não te deixei louca! – Jane dava risava e com certeza estava se lembrando dos episódios hilários que aconteceram quando viajou para visitar a filha.

– Não! Só pegou o metro errado e foi parar no Bronx. Me ligou chorando no meio de uma gravação, dizendo que uma mulher alta, de pele escura e gorda tinha dito “é melhor você tirar esse seu traseiro magro daqui, branquela, você está no Bronx e aqui não é lugar para gente como você”. Fiquei super tranquila sabendo que minha mãe estava perdida num bairro estranho de uma cidade que não conhecia nem até a esquina da minha casa. – Jane gargalhava e Claire balançava a cabeça, tentando dissipar as preocupações que teve aquele dia.

– Ora, ora Claire. Você sabe que eu preciso sempre estar metida em confusões. – Jane esticou a mão e pegou o prato da mesa e começou a morder as frutas que estavam cortadas. Ofereceu para Claire que pegou apenas uma pequena fatia de mamão e comeu com as mãos. – Me diga, o que te traz de volta à Londres?

– A volta. Estou de volta. Cheguei hoje de manhã e já até aluguei um apartamento. – Claire sorria ao ver o rosto da mãe se iluminando.

– Meu Deus! Preciso tirar uma foto para colocar no Instagram! – Jane se levantou correndo e foi até seu celular. Claire ergueu uma sobrancelha e abriu a boca, sem compreender nada. Jane voltava tocando a tela do aparelho em suas mãos.

– Desde quando minha mãe se tornou uma viciada em redes sociais? Qual capítulo da sua vida que eu perdi? – Claire ria e Jane se sentou ao lado dela, esticando o celular para centralizá-las na foto.

– Não perdeu nada, Claire querida! Agora sorria! – Elas sorriram juntas e Jane tirou a foto. – A legenda da foto será “Minha bebezinha está de volta! #feliz #muitofeliz”.

– Mãe, por favor! Sem alardes! Não quero me apressar para visitar todas as pessoas que preciso ver. Não me pressione, ok?! – Claire jogou o corpo para trás e se encostou no sofá. Estava sentindo o cansaço tomar conta de corpo novamente.

– Tudo bem, eu não tenho pessoas da família como amigos no Instagram. – Claire ficou indignada novamente. Sua mãe de 62 anos, era mais ativa que ela nas redes sociais.

– Será que pode agir como uma mãe? Pode fazer um bolo ou um chá para mim? Estou exausta! – Claire deu risada e Jane torceu o nariz.

– Sou uma mãe moderna. Vamos tomar um chá das 5 no Caffé Concerto de Westminster. Venha, vou pegar as chaves do carro. – Jane se levantou do sofá e foi buscar sua bolsa.

– Ótimo! Perto do meu hotel, aí já fico por lá na volta. – Claire ainda estava quase deitada no sofá, fechando os olhos levemente.

– Humm. Aposto que está no Savoy! – Disse Jane, abrindo um sorriso e Claire apenas assentiu. – Eles sempre te tratam muito bem. É como se você fosse mais importante que os artistas que descobre.

– Pare de falar besteiras, mamãe! O que tem usado além das redes sociais? Drogas? Álcool? – Perguntou Claire, enquanto se levantava do sofá e pegava sua bolsa.

– Ahh! Confesso que em algumas saídas com as meninas, nós bebemos um pouco além da conta. – Jane gargalhava. – Descobrimos uns drinks novos, como Spritz, Moscow Mule. Humm, uma delícia. Você iria adorar provar.

– Saída com as meninas? Beber um pouco além da conta? Moscow Mule? – Claire dava risada e olhava para a mãe, mexendo com as mãos. – Quem é você? O que fez com minha mãe? Eu pago o resgate para trazê-la de volta! – Claire abraçou a mãe e elas foram saindo da casa, para irem saborear o famoso chá das 5. Sempre dando risada, como duas boas amigas. Como sempre foram.

***

Mãe e filha se despediram e Claire foi caminhando de volta até seu hotel. Não aceitou a carona que Jane ofereceu, queria caminhar um pouco. Sentia que precisava ligar para seu namorado Matthew.

Pensou algumas vezes, porque eles haviam brigado bem feio antes de sua partida de New York. Ele era contra a sua volta para Londres e achava que sua carreira como headhunter iria regredir. Como sempre, Matthew achava que tudo nos Estados Unidos era melhor do que o resto do mundo. Claire tentou mostrar de diversas maneiras como a gravadora inglesa era muito maior que a americana, mas ele era irredutível.

Portanto, ela não sabia se ainda está namorando. E durante todo o trajeto de volta para seu hotel, ela pensou e repassou todas as falas e acusações da briga final. Ela gostava de Matthew, mesmo que algumas pessoas falassem que ele era um babaca, arrogante e que não combinava nada com ela. Queria resolver a situação de verdade e não deixar coisas mal resolvidas pairando pelo ar.

Ela procurou um canto no muro de concreto que tinha vista para o rio Tâmisa e se encostou lá, olhando para o celular. Indecisa. Seu coração mandava ligar, mas pensava também que se ele não tinha a procurado nos últimos três dias e também não queria saber se estava viva e bem em sua cidade natal, não era digno de sua atenção e muito menos, de uma ligação dela.

Apesar de toda a pose de durona, independente e auto suficiente, Claire gostava de ter alguém ao seu lado e sentia falta de Matthew. Eles tinham passado momentos bons juntos durante o ano em que estavam juntos. Ela era uma pessoa romântica e sonhadora, às vezes até um pouco carente demais, mas essa máscara ela vestia apenas si mesma. Não gostava de mostrar o que realmente era para as pessoas. Talvez tinha medo do que poderiam fazer com seus sentimentos, caso ela baixasse a guarda.

Pensou mais um pouco e então decidiu não ligar para Matthew.

– Se ele quiser, se ele estiver sentindo minha falta, vai me procurar. Afinal, eu não fiz nada de errado e ainda disse que ele poderia vir morar aqui comigo. Mas, como sempre, ele precisa ser chato e arrumar defeito para tudo. – Ela disse em voz alta, falando sozinha. – Nem eu entendo como consigo ter tanta paciência com ele e essas manias e opiniões bizarras.

Levantou a cabeça e viu uma senhora de cabelos brancos, sentada no banco em sua frente, olhando para ela e sorrindo. Claire apenas esticou os lábios, num sorriso sem dentes. Estava envergonhada. A senhora apenas ergueu o dedo polegar, demonstrando que ela estava com a razão. Claire deu risada, balançou a cabeça e guardou o celular no bolso. Começou a caminhar de volta em direção ao seu hotel e acenou para a senhora que apenas sorriu.

Já de volta ao hotel, Claire pegou seu notebook e se sentou na confortável poltrona que havia em seu quarto. Precisava checar e-mails e seu Facebook. Assim que abriu seu perfil na rede social, se assustou ao ver que havia uma mensagem de Matthew. Seu coração disparou. Ela não sabia se lia ou se deletava sem ler. Estava com medo do que ele poderia ter escrito. Mas respirou fundo e abriu a mensagem.

“Claire, espero que tenha feito uma boa viagem para Londres e também espero que a comida da British Airlines tenha sido boa. Bom… Não sei muito bem o que escrever. Não gostei de como tudo aconteceu nesses seus últimos dias aqui. Estou triste por não ter ido até o aeroporto com você. Puro orgulho, eu sei disso… Mas não lidei bem com o fato de que sua vontade de ir embora, foi maior que a de ficar aqui comigo. Eu tinha planos para nós dois, poderíamos continuar conquistando New York… Mas você não quer mais. Eu te amo muito ainda e sinto que você também me ama, mas acho que vai ser melhor assim. Estou me sentindo péssimo por dizer tudo isso assim, por mensagem… Mas não iria conseguir falar com você ao telefone e também não quero que você me ligue. É melhor deixar tudo como está. Infelizmente, admito que não me vejo morando em Londres com você, portanto não faz sentido continuarmos mantendo o status de ‘namorados’ apenas por aparências. Te desejo tudo de melhor e espero que tenha feito a escolha certa. Um beijo de quem ainda te ama muito… Matthew.”

Os lábios de Claire tremeram e ela não queria chorar. Mas seus olhos estavam repletos de lágrimas, prontas para cair. Ela tinha acabado de levar um fora via rede social. Maldita modernidade! Para onde foi parar aquela pessoalidade de ser cordial e educado? Terminar uma relação por internet era o fim. Claire tinha vontade de jogar o computador pela janela e criar uma borracha que apagasse memórias. Queria apagar todas as memórias que havia tido com ele.

Fechou a janela da internet e apareceu como fundo de tela de seu computador, uma foto em que ela estava com uma tiara de Minnie e Matthew com um chapéu de Pateta na cabeça. Era uma foto alegre onde os dois sorriam e estavam se divertindo muito na semana que passaram na Disney. Apenas uma das tantas viagens que eles fizeram juntos por todo aquele país e até para fora dele.

Ao ver a felicidade que aquela foto transmitia, Claire não se conteve e as lágrimas caíram dos seus olhos azuis. Caíam com tanta voracidade que a fez soluçar. Ela não queria se sentir assim, mas não estava conseguindo controlar. Sabia que precisava chorar e sofrer tudo o que precisava naquele momento, pois depois nada sobraria e ela estaria pronta para continuar sua vida. Talvez em alguns meses ela estivesse pronta para tentar novamente.

– Bom Claire… – Ela começou a falar sozinha novamente. Puxou um lenço de papel da pequena caixa de madeira que havia ao lado de sua cama. – É bom você se recuperar logo. Amanhã é um novo dia e um novo trabalho que promete muitas coisas. Coisas boas! Coisas que o idiota do Matthew jamais daria à você. – Ela queria sentir raiva de Matthew. Sempre é mais fácil lidar com a raiva do que com a saudade. A raiva dói menos.

Ela se levantou da cama e despiu-se. Sabia que havia uma grande e deliciosa banheira no banheiro. Ela tinha todos os cheiros que precisava em sua mala de cosméticos. Pegou alguns tubos de sabonete, shampoo, condicionador e espuma para banheira, e foi caminhando para o banheiro. Pretendia ficar lá, relaxando por algumas dezenas de minutos. Pegou seu notebook e fez uma seleção de músicas que poderiam relaxá-la e lhe dar motivação. Também abriu uma garrafa de vinho francês que havia no quarto e levou a garrafa e uma taça ao banheiro.

A primeira música que começa a tocar, é “All I Want” da Joni Mitchell.

Claire rodou a cabeça de um lado para outro, tentando desmanchar os nós musculares que haviam se criado ali. Tentando aliviar a tensão em seus ombros e pescoço. Estava doendo, mas ela sabia que não era para sempre. Estava doendo, mas ela sabia que não morreria nunca por uma pessoa como Matthew. Aliás, ela sabia que não morreria de amor por ninguém em sua vida. E a cada relacionamento frustrado que vivia, ela confirmava ainda mais essa certeza.

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