Capítulo 18

Havia uma banda de rock bem famosa no estúdio da gravadora onde Rose estava apenas observando os solos de guitarra e babando pelo vocalista. Aquele disco que eles estavam trabalhando estava sendo muito esperado pelos fãs e principalmente pela mídia, pois seria um disco novo depois de algum tempo sem gravar nada. Eles haviam brigado entre si, o vocalista tentou outra banda, mas decidiram retornar à formação da banda.

Claire entrou discretamente e cutucou Rose. Elas se cumprimentaram e continuaram olhando para a banda. Ao final daquela música, Rose saiu da sala e foi até eles, Claire a acompanhou pois queria cumprimentá-los também.

– Chris! – Disse Claire, abraçando o vocalista da banda. Enquanto Rose conversava com o guitarrista da banda.

– Bem que me disseram que você tinha voltado para Londres! – Disse Chris, sorrindo ao encontrar uma velha amiga. – Como estão as coisas?

– Está tudo bem, e você? Fiquei muito feliz quando soube que vocês iriam gravar um disco novo. E aqui na gravadora que estou trabalhando agora! – Ela sorriu.

– Pois é. Precisávamos voltar. Eu precisava voltar, não estava mais aguentando ficar longe disso tudo.

– Eu imagino. – Rose se aproximou de Chris e Claire.

– Chris, eu quero que aquela música que tínhamos excluído do disco, seja adicionada. Acho que eu não havia entendido a letra. Estava lendo e ela é incrível. Vai ser bom tê-la no repertório do disco.

– Tudo bem. – Respondeu Chris. – Já temos os arranjos dela.

– Ótimo. Então vamos trabalhar nela agora. – Rose disse e foi saindo da sala.

– Nos falamos depois. Bom te ver. – Claire disse para Chris, que apenas piscou. E Claire foi saindo atrás de Rose.

– Rose, quero te mostrar uma coisa. – Claire disse baixinho, enquanto elas se sentavam dentro da sala novamente.

Dylan estava lá, bem agitado e isso chamou a atenção de Claire, que ficou prestando atenção nos gestos dele. Ele estava com os olhos fundos, como se não tivesse dormido durante a noite. Ele parecia estar impaciente e sem atenção alguma na música da banda.

– O que quer me mostrar, Claire? – Perguntou Rose, tirando Claire de seus devaneios.

– Ah, sim. Isso. – Ela tirou uma folha de papel dobrada de dentro do bolso da calça jeans e entregou à Rose, que abriu e já começou a ler. Ela voltou a olhar para Dylan e ficou realmente preocupada que o estado dele pudesse afetar a qualidade do cd que estava sendo gravado. – Dylan! – Claire o chamou. – Está tudo bem? – Ele demorou alguns segundos para encontrar a origem da voz que o estava chamando.

– Sim, sim, sim. Está tudo bem sim, Claire. – Ele respondeu rapidamente e voltou a mexer nos botões, olhando para a banda.

Claire torceu os lábios e teve a certeza de que ele estava sofrendo de algum tipo de ressaca, mas achava que aquela ressaca, não era de álcool. E sim, de algo mais forte. Sentiu um frio subindo por sua coluna ao pensar que Alex um dia, também esteve assim. Ela lidava com roqueiros e músicos de todos os tipos e estava acostumada com aquele efeito, sabia exatamente o que era e sentiu pena de Dylan.

– Claire! Isso é lindo demais! – Rose olhou para ela, com os olhos marejados. – Na voz do Alex vai ficar ainda mais lindo.

– Com certeza. Ele toca piano, Rose. Pensei em fazer essa música somente com um piano, mais nenhum instrumento. Vai ficar incrível.

– Nossa! Vai mesmo!

– MERDA! – Gritou Dylan, assustando as duas que estava ao seu lado e se viraram rapidamente para saber o que havia acontecido.

– O que aconteceu, Dylan? – Perguntou Rose, no seu tom autoritário.

– Eu errei essa mixagem. – Dylan pegou o microfone e falou com a banda. – Galera, foi um erro meu aqui. Podem fazer essa de novo? – Os integrantes da banda assentiram e logo estavam repetindo a música.

– Preste atenção no que faz, Dylan! – Disse Rose, já um tanto brava. Ela voltou a olhar para Claire. – A voz de Alex e um piano. Perfeito. Quando gravamos?

– Ele me disse que vem hoje aqui, para acertar algumas coisas do contrato com você. Se o estúdio estiver vazio, podemos ensaiar.

– É verdade, marquei com ele depois do almoço hoje. Bom, acho que o nosso Soundgarden não vai demorar muito. Eles já tinham vindo na semana anterior à sua chegada e gravaram boa parte. Se quiser ensaiar com Alex no período da tarde, fique à vontade. – Rose piscou para Claire e voltou a olhar para a banda.

Claire olhou para a banda e depois voltou a olhar para Dylan. O estado dele havia a deixado preocupada. Pensou que deveria tentar conversar com ele, quando tivesse a oportunidade e quando ele não estivesse tão alterado.

***

Alex chegou na gravadora e logo foi recebido pela secretária de Rose, que o conduziu até sua sala. Rose estava ao telefone e Claire estava lendo o contrato que Alex iria assinar. Ao vê-lo entrando, seu rosto se iluminou e foi ao encontro dele. Rose olhou a cena e apenas sorriu, virando sua cadeira para a janela e os dando um pouco de privacidade.

– Está tudo bem? E seu pai? – Alex perguntou enquanto dava um beijo no rosto de Claire e a abraçava.

– Minha mãe foi ao hospital hoje cedo e disse que ele está igual à ontem de noite. Ela ficou preocupada, pois pensou que hoje ele já fosse estar acordado. Mas a médica disse que está tudo normal, devido aos remédios que foram administrados nele e a cirurgia de emergência. – Respondeu Claire e Alex apenas assentiu. – E você? Chegou bem ontem?

– Sim, cheguei. Acordei cedo e tive até tempo de escrever algumas coisas. Mas não trouxe, pois não terminei.

– Eu escrevi ontem. – Ela sorriu. – Vamos fechar seu contrato e depois vamos para o estúdio, eu e você. Quero que leia a letra e vamos criar uma melodia somente no piano. – Alex abriu mais os olhos, indicando um pouco de desespero. O que fez Claire rir. – Fique calmo, eu sei que você é capaz de lembrar das suas aulas de piano.

– Mas faz muito tempo, Claire. Não acredito que possa reviver isso.

– Ora, não se subestime! Eu ajudo você. – Ela piscou e se virou para Rose, que desligava o telefone.

– Boa tarde, Alex! Está preparado para assinar o contrato que mudará sua vida, querido? – Rose sorriu e Claire colocou a mão no ombro de Alex, o conduzindo até a cadeira.

Alex sentia suas mãos suando frio. Era o momento mais importante de sua vida, o momento que ele sempre sonhou viver. E estando ali, diante de Rose e da mulher que ele estava completamente apaixonado, tudo parecia um sonho de tão bom que era.

Enquanto Rose falava sobre as cláusulas do contrato, Alex prestava atenção e Claire pensava que havia conseguido muita coisa em pouco tempo. Estava feliz duplamente, por ter encontrado uma pessoa que, com certeza, iria fazer muito sucesso e conseguiu levá-lo para a gravadora, a visibilidade que Rose queria, e também por ter encontrado uma pessoa que gostava de forma especial e única. Era como se Alex preenchesse todos os espaços vazios que existiam dentro de seu coração.

Ela prestava atenção nos movimentos que os lábios dele faziam, enquanto falava com Rose e também como eles sorriam. Como ela estava fascinada por aquele sorriso. Ela se acomodou melhor na cadeira, olhando para Alex e já não escutava nada que os dois conversavam. Se lembrou da noite passada, em que eles estavam se sentindo com mais intensidade e respirou fundo para não perder o foco e voltou a escutar Rose.

– Enfim, Alex querido. Você terá um adiantamento e depois receberá essa porcentagem por cada disco vendido. Os shows, discutiremos depois. – Rose disse, sorrindo.

– É muito mais do que eu imaginava, Rose. Muito obrigado.

– Se você precisa agradecer alguém, agradeça essa mulher. – Rose passou o braço pelo pescoço de Claire e a puxou para mais perto. – Sem ela, seu talento iria continuar nas ruas. – Rose olhou para Claire. – Eu sabia que estava fazendo a coisa certa de roubando de New York. – As duas riram.

– É. Estou acostumada a caçar as pessoas e não ser caçada. Rose me fez sentir na pele o que é insistência. – Claire sorriu e Alex a entendeu no mesmo instante.

– Com toda certeza, querida! – Rose deu risada bem alto e bateu palmas. – Estou muito feliz também. Mas agora quero ver trabalho! Os dois para o estúdio! Já mandei fazerem uma afinação no piano, ele está perfeito para os as mãos dos dois. – Rose disse e Alex olhou para Claire com dúvida.

– Você toca também? – Alex perguntou e Claire deu de ombros. – Você me surpreende a cada dia, Claire Thompson.

– Humm! Então os dois, se surpreendendo no estúdio. Podem continuar com esse processo depois das 17h, se quiserem. – Rose riu alto novamente e Claire se levantou da cadeira, balançando a cabeça.

– Venha, Alex. – Ela esticou a mão para ele e o puxou. – Vamos ver se seu curso de piano funcionou mesmo.

Eles sorriram um para o outro, Alex se despediu de Rose e a agradeceu novamente. Caminhando em direção ao estúdio, encontraram com Dylan e Sebastian que estavam conversando sobre o álbum do Soundgarden que estava sendo gravado. Ao ver Claire e Alex caminhando para o estúdio, Dylan se apressou em chamá-los. Claire não queria muito contato com ele, mas parou mesmo assim.

– Vocês estão indo para o estúdio gravar alguma coisa? – Perguntou Dylan. Parecia não estar mais sob o efeito de nada.

– Na verdade, não vamos gravar. Só ensaiar. Não precisa ir até lá, Dylan. – Disse Claire com o tom de voz um pouco mais autoritário e mostrando quem era o chefe de quem.

– Ah, tudo bem. Sem problemas. Vou deixar vocês à vontade. – Dylan deu um passo para trás e voltou a conversar com Sebastian. Claire puxou Alex e voltaram a caminhar.

– O que aconteceu entre vocês dois? – Perguntou Alex, notando que Claire havia agido completamente diferente com Dylan, do que com qualquer outra pessoa.

– Não gostei do comportamento dele hoje de manhã, enquanto o Soundgarden estava gravando no estúdio. Estava completamente louco, errou diversas vezes e até a banda se irritou.

– Mas ele estava o que? Bêbado?

– Estava sob o efeito de algo que você conhece… Não quero falar sobre isso. – Alex sentiu uma pontada no estômago, pois aquele era o assunto mais difícil de sua vida. Apenas assentiu e não disse mais nada. Claire estava irritada, incomodada e Alex percebeu. Ao passarem pela porta, Alex a abraçou.

– Claire, não fique assim. Posso conversar com ele depois, se você quiser.

– Não! Quero que me prometa que ficará longe dele. Por favor, Alex. Não vamos correr o risco de estragar tudo agora.

– Hey! Fique tranquila, Claire. Não vou arriscar perder tudo o que você está me ajudando a conseguir. E acima de tudo, não quero decepcionar você. – Alex foi sincero e Claire sorriu, sem mostrar os dentes. Aproximou-se do rosto dele e se beijaram. – Quero ver você tocando piano! – Ele disse e ela deu risada. – Me diga uma coisa! Quanto tempo vou precisar ficar com você, para descobrir todas as coisas que me esconde? Por quanto tempo mais vou me surpreender com você? – Eles ainda estavam abraçados e ele colocou uma mecha do cabelo dela para trás da orelha.

– Humm… Acho que tenho alguns truques ainda. Posso te surpreender muito. – Ela o beijou novamente e depois foi caminhando em direção ao piano. – Já decorei a letra da música e já sei mais ou menos a melodia. Você pode escrever os acordes enquanto eu vou tocando?

– Posso tentar. Acho que consigo.

– Não é difícil, pensei em apenas 3 variações de acordes. – Ela se sentou no banco do piano e Alex puxou a cadeira da bateria para se aproximar dela, sentando-se ao seu lado.

Ela dedilhou algumas coisas e Alex logo percebeu que ela, com certeza, entendia muito bem do assunto. Ele sorriu ao vê-la aquecendo os dedos tocando algumas músicas rápidas e divertidas, enquanto sorria para ele.

– Ok! O que eu pensei, é algo mais ou menos assim… – E ela começou a tocar notas suaves e lentas, ritmadas o suficiente para embalar qualquer coração.

 

“Não quero que olhe para trás, pensando no que já se foi

Nem que olhe muito além, para tentar descobrir o futuro

Quero seu coração aqui no presente, comigo

Vivendo cada detalhe descompassado de nossos destinos.

 

Não quero que queira menos do que mereça

E não quero que seus passos fiquem fragilizados

Mantenha-se firme e sempre de cabeça erguida

Pois estarei ao seu lado, somente para segurar sua mão.

 

O mundo pode dizer o que quiser, pois nada mudará

Dentro de mim pulsa a certeza de que tudo está certo

Estou seguindo o que meu coração está falando

Não vou escutar o que as pessoas insensíveis estão dizendo.

Posso lhe dizer tudo, sem pronunciar uma só palavra

Basta olhar em meus olhos, bem nos meus olhos

Verá que não existem dúvidas, não existe outra opção

Não tenho como deixar de te amar.

 

Mesmo que o sol não brilhe mais, e que as estrelam morram

Mesmo que o mundo desmorone em nossas cabeças

Vou continuar forte, ao seu lado.

Apenas para lhe olhar. Para que saiba que estou ali.

 

É disso que a vida é feita, isso que dá o grande sabor

O combustível de nossos sonhos sempre será o amor

A engrenagem de nossa vida, sempre será o amor

Sempre será o amor. Sempre será o amor.”

 

Assim que Claire tocou a última nota, terminando de cantar e tocar a música, Alex estava totalmente admirado e sem reação. A voz de Claire era amena, delicada. Mas se lembrou e como ela podia cantar forte, como fez no karaokê do bar. Ele pensou que Claire era uma artista excelente, até melhor que ele próprio.

– Por que você nunca se caçou? – Perguntou Alex e ela sorriu.

– Não nasci para estar nos palcos. Nasci para colocar pessoas lá em cima. – Claire apertou as mãos dele e olhou o que ele havia anotado. – Será que você pode repetir tudo?

– Acho que consigo sim. – Eles trocaram de lugar e antes de começar a tocar, Alex respirou fundo e olhou para Claire. – Você escreveu essa música pensando em mim? – Perguntou, sorrindo e ela o abraçou forte.

– Sim! – Ela beijou sua bochecha. – Agora toque! – Eles riram e ele começou a tocar, deixando que todas as lembranças das aulas de pianos em Liverpool, viessem inundar sua mente.

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