Capítulo 16

Na manhã de segunda-feira, Claire acordou antes que o sol aparecesse e não conseguiu dormir mais. Estava agitada e não conseguia se acalmar para dormir. Alex havia mexido com sua estrutura emocional e ela sabia que estava se envolvendo cada vez mais com ele.

Irritada por estar na cama sem conseguir dormir, ela se levantou e foi para seu jardim, no andar de cima do seu apartamento. Se sentou no banco de madeira e sentiu o cheiro da manhã que estava chegando. Estava enrolada em um cobertor fino na cor marrom.

Pensou que Alex estava dormindo mais uma noite em algum abrigo para pessoas sem casa e seu coração se apertou ainda mais. Queria pensar em algum modo de ajudá-lo a sair daquela situação, o quanto antes. Nenhuma das suas ideias teriam efeito tão rápido. A saída mais rápida que ela via, era trazê-lo para morar com ela. Mas tinha certeza de que enfrentaria com isso uma série de preconceitos e conselhos das pessoas, dizendo que ele não era confiável ou que tudo era precipitado demais. Claire sabia que tudo isso poderia ser verdade, pois ela não o conhecia há muito tempo. Mas seu coração dizia que tudo era muito certo, que ele era uma pessoa boa e que iria fazer muito bem para ela, tê-lo ao seu lado.

Optou pela calma. Sabia que poderia estar empolgada demais por estar se apaixonando por ele, por ele ser lindo e com certeza, um futuro astro da música. Ela apertou suas têmporas com os dedos e disse para si mesma, para ter calma.

“Deixe a Terra girar, Claire. Vai tudo entrar no seu devido lugar”, ela dizia para si mesma.

Um pouco mais calma, ela decidiu tentar dormir mais algumas horas e voltou para a sua cama. Abriu espaço entre Kissy e Thor que estavam dormindo de barriga para cima e se deitou novamente. Fechava os olhos e a única coisa que via, eram os olhos verdes de Alex, brilhando para ela. Um sorriso nasceu em seus lábios e ela se aconchegou para dormir um pouco mais.

Duas horas depois, ela acordou com seu despertador e praticamente pula para fora da cama. Era um dia especial e ela queria chegar junto com Rose, pois tinha algumas ideias para dizer à ela. Obviamente, sobre Alex.

Assim que percebe que Rose entra em sua sala, Claire corre até lá e bate na porta que estava aberta. Rose a olha e sorri.

– Bom dia, Claire. Como foi de final de semana? – Perguntou Rose, sorridente.

– Foi muito bom. – Disse Claire, ainda agitada. – Rose, queria falar algumas coisas sobre o Alex. Temos tempo até ele chegar.

– Claro, querida. O que quer falar? – Perguntou Rose, se sentando em sua grande cadeira de couro branca.

– Vamos contratá-lo mesmo, certo?

– Claro! Por mim, ele já estaria no estúdio gravando seu cd. – Disse Rose, sorrindo. Claire se aproximou e se sentou na beira da cadeira que estava na frente de Rose.

– Rose, eu não te contei. Mas o Alex… – Claire engoliu seco. – É uma pessoa que não tem casa. Ele mora em um abrigo para moradores de rua e não tem mais família nenhuma. Achei melhor falar com você, até porque, se você não o ajudar agora, eu vou ajudar de alguma maneira. Não sei o que podemos fazer por ele. Eu pensei em adiantarmos algum dinheiro a ele, porque com certeza ele será um sucesso. Pelo menos para ele poder alugar um apartamento descente, ter seus móveis, poder comprar roupas e se alimentar adequadamente.

– Nossa. Eu não… Imaginava que a história dele era essa. – Rose respirou fundo, pensando rápido em algo para poder ajudar Alex. – Acho que podemos fazer isso. Podemos pagar para ele algum aluguel enquanto não gravamos seu cd. Ou melhor, eu tenho um apartamento vago, perto da estação Wembley Park, que era do filho do meu ex marido. Ficou para mim na partilha do divórcio. – Rose deu risada. – Ele pode ficar lá se quiser. E também podemos adiantar um dinheiro para ele. Acredito que o retorno que teremos com ele, irá compensar bem antes do que imaginamos. – Rose sorriu e o rosto de Claire se iluminou.

– Eu sabia que você iria achar alguma solução para ele, Rose. Obrigada! – Claire estava emocionada e mal podia esperar para dar a notícia a ele.

– Eu sei que se eu não desse alguma luz para ele, você o faria de sua parte. – Rose piscou para Claire que apenas sorriu.

– Escrevemos uma música linda sábado. Vou te mandar por e-mail. – Disse Claire, enquanto se levantava. – Nos falamos daqui a pouco. Obrigada novamente, Rose.

– Me mande a música! Estou ansiosa!

Claire foi para sua sala e enviou a música para Rose, que minutos depois, lhe disse que queria gravar aquela música e que os dois deveriam escrever pelo menos mais 9 músicas para compor o álbum dele.

Era fantástico pensar que ele iria mesmo gravar um cd e que seu talento não havia deixado nenhuma dúvida para Rose e para os produtores da gravadora. Jamais pensou que seria tão fácil assim, realizar o seu desejo de mudar a vida dele.

Alguns minutos depois, Claire escutou baterem na sua porta. Estava digitando alguns e-mails para algumas bandas, que iriam gravar seus novos cds no próximo mês. Apenas disse para entrarem, sem olhar para a porta. Quando escutou a porta se fechar, ela levantou o rosto e o viu, sorrindo para ela. Ela parou no mesmo momento o que estava fazendo e foi correndo até os braços dele.

– Eu estava com saudade! – Ela disse, abraçada com ele.

– Eu também estava. – Eles se olharam sorrindo e se beijaram.

– Tenho uma novidade maravilhosa para você, Alex! Muito maravilhosa. – Ela o puxou pela mão e o fez sentar na cadeira de sua sala. – Eu consegui um apartamento para você morar. Até você conseguir pagar um sozinho. – Claire sorría e Alex ficou sério, se sentindo estranhamente incomodado com aquela situação. Claire percebeu na mesma hora. – Você… Não gostou da notícia? – Claire se retraiu e achou que tinha ido longe demais.

– Não, não é isso, Claire. – Ele se levantou e pegou as mãos dela, delicadamente. – É que eu não me sinto à vontade com você conseguindo tudo para mim. Você já me conseguiu uma gravadora, um futuro contrato… E agora um lugar para morar. – Ele sorriu para ela. – Sei que você está ansiosa para ver minha vida mudar, sei que está com a melhor das intenções. Mas me dê um tempo para conseguir as coisas com meus próprios méritos. – Ele tentava falar tudo da forma mais doce, para não ser rude com ela. Ao fim, ela sorriu junto com ele. – Você me entende?

– Claro. Você é um homem, tem seu orgulho. Entendo perfeitamente. Não vou ficar chateada. É que eu queria que você tivesse um lugar para chamar de seu. Um lar. Um lar de verdade. – Disse Claire. Ele sorriu e acolheu o rosto dela entre suas mãos, a olhando nos olhos.

– Você se lembra da letra da música que eu estava cantando quando você me viu pela primeira vez? – Perguntou Alex. Claro que ela se lembrava e em segundos pensou na letra toda e sentiu um frio percorrer sua coluna. Assentiu e ele sorriu. – Meu lar, minha casa… É dentro de mim mesmo. Dentro do meu coração. Para todos os lugares que eu vou, meu lar vai comigo. Isso ninguém pode tirar de mim. Onde vou dormir, é relativo. Claro que quero muito ter um teto, mas sei que tudo acontecerá na hora certa e eu quero poder dizer isso com orgulho, que eu consegui por meu trabalho. – Claire sorriu.

– Eu te entendo, Alex. Desculpe por ter sido ansiosa e atropelado tudo. – Ela olhou para baixo e ele ergueu seu rosto, sorrindo e com os olhos brilhantes para ela.

– Não peça desculpas. Você é um anjo na minha vida. Tudo o que eu conseguir, será por sua causa. – Alex sorria muito e Claire mordeu os lábios, sorrindo também. Eles se aproximaram e se beijaram novamente.

– Esses beijos… Me deixam perdida. – Ela riu e ele a abraçou forte.

– Pois é. Além de nos deixar perdidos, pelo menos eu, fico morrendo de saudade do gosto da sua boca, quando estou longe. Acho que eu já sentia falta disso, mesmo antes de ter provado. – Disse Alex, ainda apertando Claire contra seu corpo. Ela deu risada.

– Compartilho da sua dor. – Ela deu mais risada. – Eu já sentia falta mesmo antes de ter encostado em você. – Eles se olharam e em um estalo de pensamento, Claire se lembrou que Rose estava esperando por eles. – Nossa, precisamos ir ver a Rose. Ela já está nos esperando. – Claire o puxou para fora de sua sala e indo encontrar Rose, que já estava no estúdio.

***

Alex estava com um violão nas mãos, treinando alguns acordes que havia pensado para a música que ele e Claire haviam escrito. Claire estava conversando com alguns músicos que estavam ali para fazerem alguns acordes da música. Depois de alguns ajustes, eles chegaram à decisão de como iriam fazer e começaram a arranhar algumas opções.

Claire olhou para Alex e sorriu, desejando boa sorte e foi para dentro da sala onde estavam Rose, Sebastian e Dylan, o outro produtor que ainda não tinha escutado Alex cantar e estava ansioso para isso.

Os músicos se decidiram e minutos depois, eles estavam tocando em harmonia e Alex cantando a linda letra da música. Claire sorriu junto com Rose, que a abraçou lhe beijando a cabeça.

– Como vou te agradecer por ter achado esse diamante para nós? – Disse Rose para Claire.

– Acho que eu tinha que encontrá-lo de alguma forma. – Claire estava com olhos bobos para Alex e Rose percebeu, dando risada.

– Eu sabia! Sabia que ele iria arrebatar seu coração! Ele é um homem lindo, charmoso e muito inteligente. Fora seu talento que simplesmente evapora pelos seus poros. – Rose olhou para ele e depois voltou a olhar para Claire. – Vocês formam um casal lindo demais. E você vai ter problemas para conter as mulheres que se tornarão as fãs dele. – Claire deu risada e balançou a cabeça.

– Eu já disse isso para ele. Será um problema. – Claire sorria e Rose se sentiu feliz por ver que aquela Claire, triste e chorosa do primeiro dia de trabalho, havia desaparecido e dado lugar à uma Claire feliz, iluminada e cheia de alegria.

Eles iriam ter que mudar muita coisa, escrever muita coisa, tentar diversas maneiras para chegar até a versão final da música e do disco. Fizeram uma pausa para o almoço e depois voltaram a gravar. Ao final do dia, depois de muitas mudanças, eles decidiram tudo. A música era lenta, com piano e violão como base da melodia. A voz de Alex estava perfeita e assim que ouviram a versão final da música, Claire e Rose se emocionaram.

Alex estava mais feliz do que nunca. Era um grande sonho se tornando realidade e ele estava com medo de acordar e perceber que tudo não passou de um sonho bom. Mas a realidade veio, quando ele sentiu o abraço apertado de Claire e seu cheiro incomparável. Era a sua realidade e parecia ser bom demais para ser verdade.

– Você não tem ideia de como estou feliz, Alex! Nossa música ficou perfeita! Os produtores adoraram e a Rose pediu para escrevermos mais. – Disse Claire, ainda abraçada com ele.

– Não vejo a hora de escrever mais músicas com você. – Ele disse sorrindo e eles se olharam.

– Hoje. São 19 horas. Venha. Vamos para minha casa, peço algo para comermos e escrevemos mais. Estou com muitas ideias. – Ela se aproximou e deu um beijo carinhoso no rosto dele.

Minutos depois, eles estavam entrando no apartamento de Claire e logo Thor e Kissy vieram ao encontro deles, com certeza sentindo falta de alguém para brincar e dar atenção. Tiveram que dispor de muitos minutos brincando com os peludinhos e logo Claire estava deitada no seu tapete, rolando com os dois no colo, enquanto Alex sorria da cena.

– Vou pedir uma pizza, você gosta de qual sabor? – Disse Claire, pegando o telefone na mão.

– Eu como qualquer coisa, Claire. Escolha você. Nem sei quais são os sabores disponíveis. – Alex disse, com simplicidade. Claire piscou e ligou, pedindo uma pizza sabor Marguerita.

– Quer beber alguma coisa? Mais uma garrafa de vinho? – Ela perguntou, sorrindo.

Ele sorriu e balançou a cabeça, estava sentado no sofá. Claire se aproximou dele e se sentou no colo dele, enrolando seus braços no pescoço dele e ficaram se olhando.

– O tempo para quando estamos juntos. – Ele disse e ela sorriu, assentindo.

– Eu também acho. E adoro. Adoro cada segundo ao seu lado. – Ela o beijou e ele a abraçou mais forte. – Como a vida é engraçada. Olha as voltas que ela dá, para chegarmos até aqui.

– Muitas voltas. Mas o importante é que estamos aqui, juntos e… Não sei você, mas eu me sinto mais forte quando estou ao seu lado. Como se tudo fosse possível.

– Mas tudo será possível para você, Alex. E eu me sinto mais forte ao seu lado também. – Eles sorriram e voltaram a se beijar.

Um beijo intenso que os acendeu e fez com que eles perdessem a noção do tempo. Logo eles estavam deitados no sofá, ela sentindo o peso do corpo dele. Ele explorava todo o pescoço dela com seus lábios, provocando sensações fortes e ardentes em seus corpos. Era tudo perfeito, a pele, o cheiro e os braços envolventes.

Eles só pararam para respirar, quando escutaram o interfone tocando, indicando que a pizza tinha chegado. Claire deu o dinheiro a Alex, que desceu para buscar, enquanto ela arrumava a mesa para comerem. Ela teve que sair correndo atrás de Thor, que havia passado pela porta semi aberta e o pegou na ponta da escada, quando Alex já estava voltando.

– Ahhh! Temos um fugitivo aqui? – Alex disse sorrindo e passando a mão na cabeça do cachorrinho que estava no colo de Claire. Ela sorriu e respirou, sentindo o cheiro da pizza.

– Humm, que delícia. Vamos comer. Estou faminta.

Durante o jantar eles não trocaram muitas palavras, apenas olhares. Claire teve que tirar Kissy de cima da mesa, pois ela havia pulado para tentar comer algum pedaço da pizza.

Enquanto Claire colocava a gata de volta no chão, o seu telefone celular começou a tocar. Ela foi até o aparelho que estava na tomada carregando a bateria e viu que era sua mãe. Estranhou um pouco, mas atendeu.

– Oi mãe. – Claire disse e escutou alguns soluços do outro lado da linha. – Mãe!

– Filha… – Jane estava chorando muito. Claire sentiu uma preocupação muito grande e Alex percebeu. Parou de comer e foi até ela. – Filha, venha até o hospital St Mary. Seu pai… – Claire colocou a mão no peito e deu um passo para trás. O que quer que tivesse acontecido com seu pai, era grave. Jane não continuou a falar e Claire desligou o telefone, correndo para calçar seus sapatos.

– Claire, o que aconteceu? – Alex perguntou.

– Eu não sei! Minha mãe está chorando, dizendo que meu pai está no hospital St. Mary. Eu preciso ir para lá. – A tensão tomava conta do rosto de Claire.

– Espera, eu vou com você. Não vou te deixar ir sozinha. – Alex, se aproximou dela e de mãos dadas, eles saíram do apartamento dela, rumo ao hospital.

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