Capítulo 11
– Mas que droga! Me queimei! – Exclamou Claire, levando o dedo até a boca. Ela tinha acabado de queimar o dedo ao encostar na tampa da panela do arroz que estava fazendo.
Estava quase na hora de Alex chegar e ela ainda tinha muitas coisas para preparar para o almoço. Mas estava tranquila, se ele chegasse antes que tudo estivesse pronto, ela pediria por ajuda. Sorriu ao imaginá-lo envergonhado por ela pedir isso.
Estava escutando o cd “Parachutes” da banda Coldplay, que foi lançado no ano de 2000, em seu rádio que tocava cds, mas principalmente, tocava discos de vinil, coisa que Claire amava e colecionava. Cantarolava a música “Yellow” quando estava arrumando as verduras numa tigela bonita e escutou a campainha tocar. Colocou um pedaço de tomate na boca e foi até o interfone.
– Quem é? – Ela perguntou sorrindo.
– Sou eu, Claire. O Alex. – Ele disse, com simplicidade na voz. A voz que Claire queria poder escutar todos os dias.
– Eu sei que é você! Suba! – Ela apertou o botão e abriu a porta, escutando a risada dele e desligou o aparelho. Foi abrir a porta do apartamento, para que ele pudesse entrar. Ela ainda tinha que terminar algumas coisas do almoço.
Terminando os últimos degraus da escada, Alex pode sentir o cheiro delicioso da comida dela e seu estômago de revirou. Ele tinha tomado um café da manhã fraco às 7 horas da manhã e não havia comido mais nada. Aquele cheiro somente aumentou ainda mais sua fome.
Parou na porta e olhou para dentro.
– Claire? – Ele perguntou, sem colocar os pés para dentro.
– Estou aqui, Alex! Na cozinha! Feche a porta e venha aqui. – Ela gritou e ele obedeceu.
Caminhou com as mãos no bolso, seguindo a voz dela, indo até a cozinha. Ao vê-la cantarolando e se movendo de um lado para o outro, dançando levemente, ele entendeu que deveria estar ali e todas as dúvidas que tinha sobre ir ou não até aquele almoço, desapareceram. Claire olhou para ele e abriu seu melhor sorriso. Enxugou as mãos em um pano e se aproximou dele, percebendo que seus cabelos estavam molhados e ela podia sentir o cheiro de banho recém tomado que saía de sua pele.
– Como você está? – Ela perguntou. Eles se abraçaram e ele sentiu o cheiro suave do perfume que ela estava usando.
– Estou bem! – Eles se olharam, sorrindo um para o outro. – E esse cheiro só está me fazendo ficar com mais fome.
– Calma! Estou terminando! – Ela piscou para ele e voltou a mexer nas panelas e nas tigelas.
Ele se encostou na porta e sentiu algo passando por entre suas pernas. Olhou para o chão e viu a linda gata branca, se esfregando em sua calça e ele abaixou para brincar com ela.
– Que linda essa gata! Você a trouxe hoje? – Ele perguntou e Claire olhou.
– Olha só! Ela gostou de você. Sim, peguei ela e um filhotinho de cachorro sem raça definida. O filhotinho está dormindo bem ali. – Ela apontou para a lavandeira. – Como eu iria ficar aqui na cozinha por algum tempo, – virou o risoto de queijo brie em uma tigela de vidro que havia comprado na semana passada – o deixei ali, mais perto. Mas pretendo deixá-los à vontade pela casa. Eles podem dormir onde quiserem. Não sou uma mãe chata. – Ela deu risada. – Já são castrados e educados, sabem onde devem fazer suas necessidades e não preciso me preocupar com nada além de dar carinho, levar ao veterinário e dar boa comida. – Ela sorriu e olhou de volta para Alex, que estava passando a mão na barriga de Kissy, que estava deitada com as patas nas mãos dele. – Ela gostou mesmo de você. Que gata atrevida! – Ela pega a tigela e passa pela porta, levando até a mesa, onde já estava a salada e só iria faltar tirar a carne do forno.
– Ela é um doce! Que gata linda. – Alex se levantou e Kissy foi caminhando pela casa, pois já estava satisfeita de carinhos.
– Me apaixonei por ela. – Disse Claire, voltando para a cozinha e acompanhando para onde Kissy estava indo. Ela olhou para Alex mais uma vez e, novamente, sentiu seu coração se acelerar ao pensar que queria muito provar o sabor de sua boca. – Espero que goste da minha comida. – Ela caminhou para o forno e viu que a carne já estava no ponto.
– Se você soubesse as coisas que como, ou não como, por aí. – Ele deu risada, mas Claire não. – Sua comida será o melhor banquete em anos, pode ter certeza.
– Minha comida seria o melhor banquete de todos, mesmo que você comesse em restaurantes caros todos os dias. – Ela retirou a carne do forno e colocou em cima da pia, transferindo para uma tigela comprida de vidro. – E está tudo pronto! – Ela pegou a última tigela e levou até a mesa. Alex a acompanhou. – Sente-se, vamos comer. Você gosta de vinho? Ou prefere um suco ou refrigerante?
– Pode ser um vinho. Vou gostar de beber uma taça com você. – Ele disse, de novo com as mãos no bolso e ela foi buscar uma garrafa, que estava na sua adega (que havia chegado três dias antes), no canto da sala onde ela havia feito um bar.
– Bom, eu disse vinho, mas como pode ver, – ela abriu os braços e apontou para as dezenas de garrafas de bebida que ela havia comprado aos montes nas duas últimas semanas – se quiser outra bebida, é só pedir.
– Pode ser o vinho mesmo, Claire. Senão nós não iremos conseguir escrever depois. – Ele deu risada e ela concordou, abrindo a porta da adega e tirando de lá uma garrafa de vinho tinto.
– Pode se sentar, Alex. Pode ir se servindo enquanto eu abro a garrafa. – Ela pegou o abridor, mas ele se aproximou e esticou a mão.
– Eu abro, pode deixar. – Eles se olharam e ela gostou do cavalheirismo dele e lhe entregou a garrafa e o abridor. Foi cortar a carne e colocar a comida no prato dela e no dele.
Segundos depois a garrafa estava aberta e ele enchendo as taças que estavam na mesa, ao lado dos pratos. Antes de se sentar, Claire foi trocar de cd, pois o que ela estava ouvindo antes que ele chegasse já havia acabado. Ela optou pelo último cd que havia sido lançado da cantora Rihanna “Unapologetic”. Passou algumas músicas e colocou na sua preferida daquele cd, “Stay” e apertou o botão de repetir. Queria ficar ouvindo aquela música por todo o almoço, bem baixinho. Pensou na letra da música e percebeu que era mais ou menos como ela se sentia. Um sentimento forte que não era muito bem compreendido, mas que a única coisa que ela tinha certeza, é que queria que ele ficasse.
Eles se olharam enquanto ela voltava à mesa e ele foi escutando a música e se sentiu bem com a melodia. Logo, se sentaram à mesa.
– Estou faminta. – Disse Claire pegando os talheres e Alex assentiu sorrindo. Ele também estava.
Não conversaram muito durante o almoço, apenas algumas observações sobre os dias lindos que andavam acontecendo em Londres e sobre a comida. Alex tinha certeza de que aquela era a melhor refeição que havia feito em toda sua vida. A melhor comida e a melhor companhia.
Minutos depois, os pratos estavam vazios e as taças sendo enchidas novamente. Claire não estava mais com muita fome, mas sentiu que se não repetisse alguma coisa da mesa, Alex não iria se sentir à vontade o suficiente para também repetir. Pegou mais algumas folhas de salada e um pequeno pedaço de carne. Alex encheu o prato novamente e ela sorriu discretamente enquanto ele comia. Queria que ele comesse tudo se fosse possível.
– Nossa, não parei nem para respirar. – Ela disse, passando a mão na barriga e dando risada.
– Você come bem, para onde vai essa comida toda? – Ele perguntou, bebericando do vinho, se referindo ao fato de ela comer bastante e não engordar. Ela deu risada.
– Eu faço exercícios quase todos os dias, caso não saiba. Eu realmente corro, aquele dia eu não estava brincando. – Ela disse, se lembrando que já usou essa desculpa quando foi atrás dele para insistir que marcasse a entrevista. Ele uniu as sobrancelhas, obviamente duvidando dela. – Tá, tudo bem. Aquele dia eu não estava correndo, estava te caçando mesmo. – Ela sentiu suas bochechas coraram levemente enquanto ele sorria.
– Eu sei disso. E deixei você me caçar. Quando penso nisso, me sinto como um antílope deve se sentir na África. – Ela gargalhou e ele bebeu mais vinho.
– Pegue sua taça, vamos nos sentar ali no sofá. – Ela disse, se levantando com a taça na mão.
– Não quer ajuda para recolher tudo isso?
– Bom, sobrou apenas um pouco de risoto, menos ainda de carne e a salada acabou. Depois eu guardo isso e coloco os pratos na lava louça. Não se preocupe com isso. Venha. – Ele se levantou e a acompanhou. Ainda tocava a música deliciosa e romântica que ela havia deixado no rádio.
– A letra dessa música é muito bonita. – Disse Alex, se sentando no sofá. Claire se sentou de lado e ficou olhando para ele. Até que ele virou a cabeça e seus olhares se encontraram. – O que foi? – Ele perguntou, tentando entender o porquê de ela estar olhando para ele.
– Estou pensando que você vai ser daqueles cantores que vai deixar as fãs enlouquecidas por todo o mundo. – Claire deu risada, mas sentiu uma pontada de ciúmes e mordeu os lábios. Alex rolou os olhos e sorriu.
– Não fale besteiras. Desde quando você acha que eu tenho beleza o suficiente para fazer com que isso aconteça? – Alex balançou a cabeça.
– Alex, querido. Você, claramente não tem muita noção do que tem dentro de você. E parece que também não sabe o que tem por fora. – Claire sorriu e bebeu mais vinho. Agora foi a vez de Alex sentir as bochechas se corarem.
– Melhor mudarmos de assunto. – Ele disse, quase implorando.
– Claro. Vamos. Quero que me conte sua história. Hoje temos tempo e preciso esperar algumas dezenas de minutos para que o vinho saia da minha cabeça. Não vou conseguir escrever nada bom com você aqui e uma taça de vinho na mão. – Ela estava bem corajosa, talvez fosse outro efeito do vinho.
– Tudo bem. Eu conto para você.
Claire colocou o braço no encosto do sofá e deitou a cabeça ali, para escutar tudo o que ele tinha para lhe contar.
Alex respirou fundo algumas vezes e buscou coragem de dentro de si, para contar a sua história de vida para a mulher que ele estava se apaixonando. Pensou que talvez, depois de saber de tudo, ela teria dois caminhos a seguir: ou ela iria querer ajudá-lo cada vez mais, ou iria querer que ele fosse para o inferno. Mas independente de qualquer escolha, ele queria contar para ela. Mesmo correndo todos os riscos.
Respirou fundo mais uma vez. Sentindo o coração se acelerar um pouco mais.
Ela estava ansiosa. E ele também.