Todo mundo sabe que eu amo escrever e que isso é uma das minhas grandes paixões na vida. Adoro quando vocês comentam ou simplesmente, quando um texto vai bem e acaba sendo bastante acessado. Adoro que as pessoas me leiam (hehehehe). O que quase ninguém sabe, é que eu tenho alguns livros escritos que eu nem cheguei a enviar à alguma editora, porque sei o quanto é difícil ser uma escritora (ainda mais iniciante) num país onde a cultura tem cada vez menos valor. Meu namorado e algumas pessoas sabem dá existência desses livros e ficam me enchendo o saco para postar aqui… Faltava coragem. O Ale disse que eu postar esses textos aqui seria um dos melhores presentes que poderia dar a ele. Então, apresento-lhes o MÚSICA DO CORAÇÃO. Espero que gostem e acompanhem. Um capítulo por semana no mínimo. Beijos!

Capítulo 1

Londres é sempre uma cidade com opiniões divididas. Há quem ama e há quem odeie. Há quem ame o clima mais frio e o céu com nuvens espessas cheias de gotas de água, prontas para caírem em cima dos habitantes e dos tantos turistas que visitam a cidade durante o ano todo. Há quem se sinta deprimido durante todos os meses com pouco sol. Há quem seja alegre somente deitado em alguns dos diversos parques espalhados pela cidade, sob a luz do sol.

 

Claire estava voltando para Londres, no melhor estilo “a boa filha a casa torna”. Claire. Ela chegou em um dia de setembro, final do verão e início do outono. Um dia lindo, com o céu azul e pessoas sorridentes por todos os lados. Ela estava no banco de trás de um táxi, olhando através de seus óculos escuros, identificando todos os lugares pelo seu caminho, até chegar ao seu hotel provisório. Ela iria passar alguns dias em um hotel até achar a casa certa para se mudar. O porta malas do táxi estava completamente cheio. Praticamente toda sua vida dentro de um porta malas. Ela já estava acostumada a viajar e morar em outros países, sua profissão exigia isso. Mas voltar para a cidade em que nasceu, era bom. Era aquela sensação boa de estar em casa mesmo. Todos seus amigos e familiares estavam naquela cidade. Cada um em um cantinho, mas estavam todos lá.

 

Claire era filha única de um casamento que não deu certo. Sempre teve asas nos pés e sua primeira viagem para fora da Inglaterra, foi aos 14 anos, para a Espanha, com uma excursão do colégio. Depois disso, nunca mais parou. Obrigava os pais a viajarem com ela, até que aos 18 anos, comprou passagens para a Indonésia e foi passar um mês nas praias lindas de Bali e Java, além de estudar sobre a cultura Indonésia e também aprender a plantar arroz e batata.

 

Quando o táxi chega na Strand Street, no bairro de Westmister, Claire soube que havia chegado ao seu destino. O hotel Savoy. Pago pela gravadora que lhe fez uma oferta irrecusável e a tirando de New York, cidade onde estava morando há 3 anos. Ela poderia ficar na casa da mãe ou do pai, mas sabia que seria um problema consolar a outra parte que ficaria de fora dessa hospedagem, optou por evitar estresses e preferiu aceitar o hotel. Como sempre, ficando neutra entre as brigas e discussões entre seus pais.

 

O taxista parou na frente do hotel e disse alguma coisa que ela não entendeu. Era difícil entender o sotaque com que os asiáticos falavam. Ela sorriu e assentiu. Ele desceu do carro e foi abrir o porta malas. Seja o que for que ele tenha dito, ela acertou na resposta. Desceu do carro e lentamente encheu seus pulmões com o ar de Londres. Há muito tempo que ela não fazia isso. Não havia voltado para lá desde quando foi para New York e estava com saudade daquele cheiro dos parques e do rio Tâmisa. Um cheiro que lhe trazia lembranças boas à mente. Lembranças de uma infância feliz, cheia de travessuras e de uma adolescência cheia de altos e baixos.

 

– Obrigada. – Ela disse ao taxista, depois que ele tirou 5 malas do carro. Ela deu o dinheiro a ele, que contou as notas como se ela estivesse lhe dando a quantia errada, mas assim que viu que ela havia dado 10 libras de gorjeta, ele sorriu e voltou para o carro.

 

Ela ficou olhando para as malas, sorrindo. Estava um pouco boba por tudo que estava acontecendo, como se fosse difícil acreditar. Um funcionário do hotel chega com um carrinho grande e a ajuda a colocar as malas, para levar até seu quarto.

 

Assim que ela fecha a porta do quarto onde ficará hospedada, Claire vai até a janela e abre a elegante cortina que estava fechada e abre também a janela de vidro para que entrasse a luz do sol em seu quarto, para que o vento londrino invadisse todo o ambiente. Ela estava feliz por estar de volta e não conseguia esconder os dentes dentro da boca.

 

Gostava da vida agitada e insana de New York, mas sabia que teria tudo isso em Londres também. De um jeito diferente, mas ela gostava do que estava a esperando por ela lá. Claire é uma mulher dinâmica e gosta sempre de estar fazendo milhares de coisas ao mesmo tempo, como quando dirige, fala ao celular, come salgadinhos, escuta e analisa músicas, bebe água e até tira a sobrancelha, tudo ao mesmo tempo.

 

Ela estava olhando para a gigantesca London Eye, lembrando de um dia quando tinha por volta de 15 anos e, junto com as amigas, foram expulsas de lá por causarem incomodo aos outros usuários por pura bagunça, quando seu celular tocou, a tirando de seus devaneios.

 

– Querida, como foi de viagem? Deu tudo certo? Está matando a saudade de sua cidade? O hotel está bom para você? – Perguntou Rose, a mulher responsável por toda essa mudança, sua chefe e diretora da grande gravadora que estava contratando Claire. Ela conseguia ser mais hiperativa que qualquer outra pessoa que Claire conhecesse. E chamava todas as pessoas que “querida”, mesmo quando estava irritada com algo.

 

– Olá Rose, bom dia. – Claire deu risada. – Foi tudo bem na viagem, com exceção de um senhor que estava roncando ao meu lado e não me deixou descansar o suficiente. O hotel está maravilhoso e meu quarto tem uma linda vista para a London Eye. – Claire balançava as mãos, como se Rose pudesse ver o que estava fazendo.

 

– Ahh! Que tristeza que não descansou. Veja Claire querida, não precisa vir para cá hoje. É segunda-feira, descanse e venha nos ver amanhã. Tire o dia hoje para descansar e se der tempo, para procurar uma casa. Queremos você bem instalada o quanto antes. – Rose deu uma gargalhada alta ao telefone e Claire achou que tinha perdido alguma piada nas entrelinhas. Mas estava tão cansada que não quis pensar em nada do que aquela mulher maluca estava falando.

 

– É, preciso de algumas horas de sono e vou tentar adiantar algumas coisas. Amanhã estarei aí e já começaremos nosso trabalho. – Disse Claire, com a voz mais profissional que ela adorava fazer. Usava aquele tom de voz para persuasão.

 

– Está perfeito, querida! Nos vemos amanhã às 9 horas da manhã e qualquer problema, não hesite em me ligar. – Rose gargalhou novamente. Claire coçou a cabeça e preferiu pensar que Rose estava empolgada demais por ter conseguido trazê-la para sua equipe. Afinal, foram 6 meses de negociações e debates entre as duas gravadoras. A gravadora de New York não queria perder Claire de forma alguma.

 

– Pode deixar, Rose. Obrigada por tudo. – Disse Claire, com sinceridade.

 

– Imagina! Eu que tenho que agradecer! Estou muito feliz por ter conseguido te trazer para cá e muito ansiosa para começar nosso trabalho juntas! – Rose dizia uma palavra em cima da outra e fazia Claire rir sem parar, mas sem que Rose percebesse. Para ela, estava bem claro o quanto Rose estava realmente empolgada.

 

– Começaremos em breve. Bom, vou tentar descansar um pouco agora. Nos vemos amanhã, Rose. – Disse Claire, se sentando na cama e tirando os sapatos de salto dos pés e os jogando para longe.

– Até amanhã! Um beijo, querida!

 

Depois que desligaram, Claire continuou rindo da loucura de sua chefe e começou a pensar se realmente foi bom negócio retornar para Londres e trabalhar com uma chefe um tanto quanto diferente de todas as outras pessoas que Claire havia trabalhado em sua vida.

 

Ela precisava escovar os dentes, tirar aquela calça jeans apertada e colocar um pijama confortável para dormir algumas horas. Mas estava sem forças para se levantar da cama, que era deliciosa. Ela passou a mão no edredom macio que estava cobrindo a cama e percebeu o quanto seria agradável recuperar algumas horas de sono entre aqueles lençóis.

 

Ela mordeu os lábios e pensou que não tinha ideia de onde estaria sua roupa de dormir. Eram 5 malas e ela não tinha a pretensão de abri-las tão cedo. Seu corpo estava com a bateria fraca e sabia que precisava dormir. Prática como sempre, retirou toda sua roupa, prendeu os cabelos num rabo de cavalo curto no alto da cabeça, fechou a janela e abaixou uma cortina especial que deixava o quarto escuro. Ligou o ar condicionado (para poder dormir coberta pelo edredom sem sentir calor) e foi para cama, levando o celular que sempre estava ao lado. Em todos os momentos. Às vezes, parecia que o celular estava colado em suas mãos.

 

Enquanto lutava para não fechar os olhos ainda, ela lembrou que precisava ligar para os pais para dizer que havia chegado e também precisava ligar para seu namorado, o compositor musical Matthew Jamesen, que havia ficado em New York. Mas o cansaço foi maior e em poucos segundos, Claire já estava dormindo e sonhando com o senhor que estava roncando ao seu lado no avião.

 

Minutos depois, acordou num pulo com o barulho alto que o celular fazia quando chegava mensagens. Ela coçou os olhos e percebeu que tinha se passado apenas poucas dezenas de minutos.

 

– Senhor! Não consigo descansar! Não me deixam descansar!

 

Claire ficou irritada e sem olhar quem havia lhe mandado mensagem, jogou o celular para longe e escutou o barulho que o aparelho fez ao tocar no carpete do quarto. Tudo ficou em silêncio novamente e Claire se virou na cama, embaixo do edredom e cobriu a cabeça. Segundos depois ela se levanta da cama e vai até o celular, resmungando muito e chutando o ar. Pegou o celular e viu que a mensagem era do vocalista de uma banda alemã que ela havia descoberto no ano anterior. Ela começou a rir e leu a mensagem em voz alta, para si mesmo.

 

“Claire, nossa música está no topo das paradas de 3 países na Europa! Se não fosse por você, isso jamais teria acontecido. Obrigada e boa sorte na sua nova jornada em Londres. Um beijo, Sthephen.”

 

Ela beija o celular e se sente satisfeita. Era sempre esse resultado que esperava de seu trabalho. Ser uma headhunter tão conhecida e prestigiada, não era fácil. A cada banda ou cantor que ela descobria, vinha também a missão de fazê-los dar certo. O espaço musical era bem grande, tinha espaço suficiente para todas as pessoas, mas também era um universo cruel, cheio de armadilhas.

 

Seu trabalho consiste em encontrar pessoas, moldá-las e trabalhar seu melhor talento musical, seja ele para algum instrumento, cantar ou até mesmo escrever músicas. Em seu currículo estavam grandes nomes da música atual, em diversos estilos. Ela conhecia bem desde o rock até o pop. Se orgulhava de ter ajudado tantas pessoas a realizarem seus sonhos e também ficava feliz quando todo seu esforço dava certo.

 

– Tudo bem, tudo bem. Ele me acordou por uma boa causa. – Disse ela, enquanto voltava para sua cama e entrava embaixo do edredom novamente.

 

Ficou de barriga para cima, com os olhos estalados e olhando para o teto. Pensando em como a música daquela banda era boa e pensando também que deveria se informar sobre a sua última descoberta, uma cantora de 16 anos que ela descobriu em um desfile de roupas juvenis em que a filha de sua amiga de New York, estava desfilando. A menina cantou durante todo o desfile e Claire não pensou duas vezes em assessorá-la. Ela era maravilhosa! Principalmente quando cantou “At Last” da fabulosa Etta James.

 

Era óbvio ela não iria dormir mais. Respirou fundo e foi abrir suas malas. Ela precisava de um banho, almoço, bateria total no celular e um par de tênis no pé.

 

Seus planos eram: almoçar um lanche pequeno, pois não estava com muita fome; escolher quem visitar primeiro e rezar para que tanto sua mãe, quanto seu pai estivessem de bom humor; procurar uma imobiliária decente para um apartamento no badalado bairro de Chelsea; marcar uma ida até algum pub durante a noite com sua amiga de infância Tiffany.

 

Depois do banho, ela se vestiu com uma saia jeans, uma regata branca, um tênis confortável no pé (que ela usava apenas para caminhadas e musculação na academia), um casaco de lã fina por cima de seus ombros e um grande colar com bolinhas de quartzo rosa.

 

E foi para o início de sua jornada na sua cidade natal. Esperando que tudo ocorresse bem e também torcendo para que não chovesse, pois não caberia um guarda-chuva em sua bolsa de ombro.

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