Château Gruaud Larose, em Saint-Julien
Vamos falar de outra grande vinícola da região de Bordeaux. Mas dessa vez, fui até Saint-Julien para conhecer o tão famoso Château Gruaud Larose. Não tenho um extenso campo de visitas em vinícolas pelo mundo, mas olha, essa foi de longe a maior de todas e também a mais moderna. Eles criaram e possuem coisas que a gente nem imagina que possam existir. Tudo para um único objetivo: criar vinhos sensacionais que possam estar presentes em nossas melhores memórias.
Antes de falar sobre os vinhos, tem muita história e informação para passar. Começando pela localização. Saint-Julien fica dentro da sub região de Bordeaux chamada de Médoc. Saint-Julien é o nome da apelação (em Bordeaux e muitos outros lugares, temos essas divisões que se chamam apelações, para separar e definir os tipos de muita coisa, incluindo terroir, cepas, etc) e fica mais ao Norte do centro da cidade de Bordeaux. Essa região, fica do lado esquerdo do entre Gironde, numa faixa entre o rio e o Oceano Atlântico. Por ser uma região com um clima mais quente (com muitos ventos vindo do mar e noites mais frias, que é bom para as uvas, pois elas não suam e com isso não perdem acidez), aqui estamos falando de uma predominância da Cabernet Sauvignon, seguida da Merlot e depois, em menores quantidades, podemos encontrar a Cabernet Franc, a Petit Verdot, e quase nada de Malbec e Carmenère.
Os tintos da região do Médoc têm longevidade, sendo uma de suas características principais. Aqui no Gruaud Larose, durante a visita, a Maísa (uma brasileira sortuda e muito competente que trabalha nesse lugar maravilhoso) nos contou que provou um vinho com mais de 100 anos e eles estava sensacional. Se você deixar um grande tinto do Médoc evoluindo dentro da garrafa, quietinho no canto dele, seus netos poderão beber um vinho único, cheio de complexidade e com muita elegância.
Quando falamos em Château Gruaud Larose, falamos de um grande vinho, de um grande produtor e de uma história que começou em meados do século XVIII. Entre mortos e feridos (de uma história longa com muitos sucessores até chegar onde está hoje), em 1935, um pouco antes da Segunda Guerra Mundial, o lugar foi reconstruído como era originalmente. E assim, o Château Gruaud Larose ficou como está até hoje, mas sempre mantendo a excelência em seus vinhos, de todas as linhas.
A idade média das vinhas do Château Gruaud Larose é de 40 anos. Porém, existem algumas quase centenárias. São histórias contadas pelas plantas, pelo terroir, pelas pessoas que trabalham arduamente nos campos e dentro da vinícola, para produzir os vinhos. A vinha requer cuidados e atenção durante o ano todo, então não pense que o trabalho se reduz apenas à época da vindima (período de colheita nas vinícolas). Todos esses cuidados irão fazer com que as uvas tenham maior qualidade, consequentemente, que o vinho seja melhor. Grande parte do trabalho é feito à mão.
Quando cheguei ao Château Gruaud Larose para fazer a visita, me deparei com um gigante. Como mencionei lá no começo do texto, nunca havia estado em uma vinícola tão moderna e tão grandiosa. Importante dizer que em 1855 ele foi classificado como sendo um vinho Second Grand Cru Classé. Existe uma classificação e acima do Second, somente o Premier Cru Classé e apenas 5 vinícolas de Médoc estão nessa classificação. Resumindo, é um vinho maravilhoso.
Durante a visita ao Château Gruaud Larose, pude ver de perto o terroir e até me contaram um pouco sobre as correções e peculiaridades daquela região. Todo o terroir de Bordeaux é mapeado e às vezes, tem diferença brusca de composição e drenagem, de um hectare para o outro. Muito louco isso. Eles construíram uma torre de observação que dá para a ver tudo que pertence à vinícola. A Maisa nos mostrou e é um terreno enorme. Ela disse algo que eu até lembrei daquela cena do Rei Leão, que o Mufasa fala para o Simba “tudo isso que o sol toca” (hahahahaha). Porque realmente é um terreno enorme. Lá tem uma estação meteorológica que diz quando pode existir algum tipo de fator climático que possa prejudicar as videiras (principalmente na época da colheita), tipo granizo (que é o pior que pode acontecer para prejudicar tudo).
O Château Gruaud Larose é muito moderno em tudo. Na parte de dentro, eles possuem máquinas que separam as melhores uvas, uma tela enorme com tudo que acontece dentro de cada tanque, que controla a temperatura e tudo mais. Os vinhos ficam nas barricas por 12 e 18 meses. Aí eles separam o primeiro e o segundo vinho. Em números, estamos falando de 132 hectares da propriedade, sendo 8500 videiras por hectare. Mais de 200 mil garrafas por ano, 17 mil caixas produzidas por ano. E sabe quanto tempo um vinho Gruaud Larose leva para chegar à sua maturidade? 30 anos. Sim. Você compra o vinho e pode guardar por no mínimo 30 anos. Mas tem vinhos por lá com mais de 100 e estão ótimos.
Isso não quer dizer que um vinho jovem, da safra atual, não seja perfeito para beber. Ao contrário. Tomamos o primeiro (Château Gruaud Larose) e segundo (Sarget de Gruaud Larose) vinho do ano de 2016 e estavam perfeitos. Frutados, com aquela cor linda de vermelho púrpura, cheio de vida e com taninos marcantes na boca. Tomamos também um Sarget de 2013 e um Château Gruaud Larose de 2003. Dá para ver notoriamente a diferença entre as safras e também a diferença que faz deixar um vinho envelhecimento na garrafa. O de 2003 estava com sua cor diferente, mais para o vermelho de rubi com reflexos âmbar, menos fruta fresca no nariz, mais aromas secundários como tabaco e frutas secas. Um vinho bem mais maduro realmente. Lembrando que todos eles são sem defeitos, com persistência incrível, corpo perfeito e os taninos, mesmo os mais jovens, deliciosos na boca. Um grande vinho, realmente.
A cada ano, 600 barricas são renovadas. O rendimento médio de cada hectare é de 45 hectolitros. Aliás, existe um limite de hectolitros por hectare, imposto pelos órgãos que controlam as vinícolas lá em Bordeaux, para que a qualidade não caia. O Gruaud Larose está abaixo disso, o que significa uma maior qualidade dos vinhos. Em porcentagem, eles possuem 60% de Cabernet Sauvignon, 30% de Merlot, 7% de Cabernet Franc e uma parcela mínima de 3% de Petit Verdot.
Amei conhecer a vinícola Gruaud Larose e poder ver de perto esse gigante quando falamos em vinhos franceses. Uma das principais vinícolas em uma região com tantos produtores. Para se destacar ali, não basta ter o melhor terroir, a melhor drenagem de solo, as melhores videiras ou o melhor clima. Claro que um grande vinho começa na plantação e nos cuidados com a videira, mas se a vinícola não souber produzir o vinho, nada adianta. E lá no Château Gruaud Larose, eles sabem muito bem como fazer isso.
Château Gruaud Larose
Saint-Julien Beychevelle, França. www.gruaud-larose.com