Château Bardins, em Pessac-Léognan
Esse Château… Meu coração foi conquistado por tudo nesse lugar! O Château Bardins fica na região de Pessac-Léognan, que fica dentro de uma outra região chamada Graves (são muitas apelações, muitas regiões, que fico até perdida). Saindo de Bordeaux, levei algo em torno de 25 minutos para chegar até esse Château. Como mencionei em outros textos, essa divisão das regiões e tipos, lá de Bordeaux, é de nos fazer querer arrancar os cabelos, de tão complicadinha que é. Mas, uma vez vivendo tudo isso na pele, as coisas ficam menos complicadas. Essa região fica na margem esquerda do Rio Garonne.
A primeira impressão que temos, é que estamos em um verdadeiro château. Aí, começamos a olhar com mais atenção e vemos as macieiras todas floridas e nosso queixo já cai. Que lugar lindo. Aí vemos mais jardins espalhados, com flores coloridas e até tulipas. Cada cantinho desse lugar é lindo demais. Mas eu não sabia que os vinhos seriam maravilhosos também. Vou contar tudinho para vocês!
O Château Bardins é um daqueles lugares que a gente sente que vem sendo cuidado pela família há muito tempo. Um lugar lindo (que parece mesmo um castelo), no meio de um campo cheio de videiras. Lá, eles cuidam de todos os detalhes de forma manual, bem de perto, tudo bem natural e sem o uso de muitas máquinas. O mais bacana, foi ter o privilégio de ver tudo isso de perto, entendendo como tudo funciona. Para vocês terem uma ideia do que estou tentando dizer, eles criam ovelhas, para que elas comam as plantas indesejáveis dos campos de videiras. Assim, eles não precisam correr o risco de machucar alguma videira com máquina.
A produção no Château Bardins é de 50% Merlot, 25% Carbernet Franc e 25% de Carbernet Sauvignon. Isso quando falamos de uvas tintas. Nas brancas, encontramos as 3 uvas brancas de Bordeaux. 33% de Sauvignon Blanc, 33% de Muscadelle e 33% de Semillion. Quando comparamos com as grandes vinícolas que produzem milhões de garrafas por ano, a produção do Château Bardins é bem pequena. Cerca de 45 mil garrafas por ano. Mas, já ouviram falar daquele ditado que “quanto menos, melhor”. Então, tenha certeza de que isso se aplica muito bem nos vinhos produzidos aqui.
Logo que cheguei, a querida Stella (responsável por muitas coisas dentro do Château Bardins, mas ela é a cabeça de lá), me levou para ver de perto a plantação. Estava logo no início da primavera, então pude ver de perto como as vinhas começam crescer. Incrível pensar que em poucos meses ela ficam enormes e com uvas maduras para serem colhidas. As videiras estavam com poucas e tímidas folhas, mas o trabalho já estava acontecendo. Uma mulher (se não me engano, com descendência alemã) estava trabalhando com a tesoura, cortando os galhos e ramos que não deveriam estar ali. Ela estava deixando apenas 3 gemas em cada galho, sendo que havia apenas 2 galhos mais grossos, cada um indo para um lado. Então, ao todo, cada videira iria produzir frutos em apenas 6 ramos.
Nas minhas aulas, os professores sempre falam que em algumas regiões os produtores realmente cortam o que consideram excesso nas folhas e ramos, para que a videira gaste sua energia apenas com os frutos (mas em regiões como em Champagne, que são mais frias, as folhas são necessárias, pois elas captam o calor da luz do sol, o que ajuda a uva a amadurecer no tempo certo). Então, pude ver de perto esse trabalho delicado e demorado, pois a videira teima em deixar seus ramos crescerem. É uma tarefa que precisa ser feita por quem realmente ama os vinhos. Cortar ramo por ramo, contar, verificar as gemas… Senhor! É um trabalho e tanto.
Depois de ver tudo isso no campo, analisei até o solo, a Stella me contou diversos fatores da região e do Château Bardins. Foi demais poder ver e saber tudo isso ali, olhando com meus olhos e até tocando com minhas mãos. Demais mesmo! Aí fomos para a parte de dentro, onde toda a mágica acontece. Primeiro, ela mostrou como eles fazem as seleções das uvas que irão para a prensa. A máquina que seleciona é bem eficiente e aí todo o processo de vinificação começa. Não vou entrar em detalhes muito técnicos, mas consigo resumir para vocês.
Depois de ficar um tempo na fermentação em tanques de aço inox, todo o vinho tinto vai para as barricas de carvalho francês. Lá é bem simples a seleção das barricas. Para o segundo vinho, são 12 meses em uma barrica que foi usada uma vez. Para o primeiro vinho, são 18 meses em uma barrica nova. Depois disso, eles dispensam as barricas. Sabe aquelas histórias que a gente escuta sobre como alguns produtores fazem coisas que para algumas vinícolas maiores seria inimaginável? Então. Não consigo imaginar uma vinícola que produz vinhos em larga escala, dispensando uma barrica após o segundo uso. Eles vão usar até quando puderem obter um mínimo aroma e benefício da madeira no vinho. Mas lá no Château Bardins, não funciona assim. Eles prezam acima de tudo, pela qualidade do vinho.
Tomei alguns vinhos lá, mas o que me chamou a atenção foi um Château Bardins 2013 e um que se chama Les Helloties de Bardins 2015. Ambos bem encorpados, com taninos bem presentes na boca e com uma persistência maravilhosa. O 2013 já tinha algumas notas de frutas negras bem maduras, como amora e framboesa. Bem vivo e bem frutado, mas também tem notas de defumado, chocolate e um leve floral que remete a violeta. Uma delícia de vinho! O 2015 tinha mais frutas, vermelhas e negras juntas, mas também tinha baunilha. Um vinho bem encorpado, intenso. Ambos seriam perfeitos para harmonizar com um belo corte de carne vermelha, ou com um risoto de sabor bem marcante, tipo funghi. Os vinhos são maravilhosos, pena que não vendem no Brasil (malditas taxas).
Provei também o blend tradicional de Bordeaux para o vinho branco com Muscadelle, Semillion e Sauvignon Blanc. Tudo bem equilibrado, dava para sentir o leve floral da Muscadelle, um vinho leve, fácil de beber, fresco e macio na boca. Dá para sentir que os vinhos são diferenciados. É uma pena que não tenha no Brasil, pois eu compraria muitas garrafas! De todos os tipos.
Resumindo pessoal! Eu fiquei apaixonada pelo Château Bardins. Foi uma experiência maravilhosa, poder ver tudo isso de perto, provar os vinhos que eu não conhecia, ter uma aula tão especial como essa, não tem preço. A Stella foi incrível e super simpática, um amor de pessoa e dá para ver que ela tem paixão naquilo que faz. Foi bom conhecer um château menor, pois lá a gente vê o cuidado que eles possuem com cada planta, com cada detalhe na produção. Foi demais. Fiquei completamente apaixonada mesmo. Se um dia estiver por Bordeaux e quiser ver tudo isso de perto, entre em contato com eles e tenho certeza de que terá uma experiência incrível assim como eu tive. Fica a dica!
Château Bardins
Chemin de la Matole, Cadaujac. França. www.chateaubardins.fr
Antonio Pedro da Silva -
Gostei, foi uma aula sobre o cultivo de uvas e processo de fabricação de vinhos.
Talita Bortolussi -
Bom dia, Antonio! Fico feliz que tenha gostado.
São tantos termos técnicos, que fica difícil passar para uma linguagem que todos possam entender. Mas fico feliz que tenha gostado do texto. foi demais ver tudo isso de perto. rsrs
Volte sempre. Tem mais textos sobre os outros châteaux aqui.