Capítulo 7

A casa de Armand estava completamente abarrotada de pessoas. Muito música, muita bebida, muita alegria. Quando Sophie e o rapaz misterioso decidiram voltar para dentro, todos estavam dançando e com taças na mão. Ela ficou observando todo aquele espetáculo que estava acostumada a assistir todos os dias. Mas aquele dia estava tudo diferente. Sophie parecia estar enxergando tudo com mais cores e mais alegria. Uma alegria que ela jamais havia sentido em toda sua vida. Uma alegria completamente repentina.

– Quer voltar a dançar? – Ele perguntou, ainda de mãos dadas com ela. Eles se olharam através das máscaras e ela sorriu. Não sabia se estava feliz por estar ali com aquele rapaz ou se era por conta das tantas taças de bebida que já havia tomado.

– Não. Estou bem. Nunca fui uma boa dançarina, por mais que ache lindo quem saiba dançar.

– Você dançou muito bem comigo hoje. Não pense que não saiba. – Ela deu de ombros e voltou a olhar para as pessoas. Ela respirou fundo.

Eles se olharam novamente e sorriram um para o outro. Sophie estava gostando muito daquela festa e pensou que todas poderiam ser assim. O rapaz passou seus braços por Sophie e a envolveu em um abraço carinhoso e perfeito, sem dizer nada, mas com muito cuidado para não ser repreendido novamente por ela. Ela estranhou nos primeiros segundos, mas logo fechou os olhos e sentiu aquele abraço quente. Com certeza um dos melhores que Sophie havia provado, mas ela não havia abraçado muitas pessoas em sua vida.

– Eu sinto muito pelos seus pais. – Ele disse.

– E eu sinto muito por sua esposa. Perder alguém que amamos é sempre a parte mais difícil da vida. – Ela concluiu.

– Ainda estou tentando entender tudo. Você sabe… Algumas coisas acontecem e nem sabemos como elas chegaram até lá. – Eles se olharam novamente. Num instante, sem dizer mais nenhuma palavra, ele se aproximou e dessa vez, ela não recuou. Seus lábios se encontraram e foi um beijo doce, como deveria ser. Um beijo que deixou Sophie com as pernas bambas e por um instante ela pensou “mas que diabos estou fazendo?”

E se perderam nesse beijo. Um beijo que parecia estar reacendendo uma luz que estava apagada dentro dos dois. Todos os cheiros, sabores e sensações que aquele momento estava proporcionando, ficariam gravadas para sempre naqueles corações. Ele não conseguia parar e ela não sabia como se afastar. Era exatamente isso que eles queriam. Estar ali, perdidos naquele beijo e esquecer por alguns instantes, todos os fantasmas que os faziam sofrer.

– Atenção de todos agora! – Gritou Armand, que estava de pé em uma espécie de pedestal no centro daquela festa.

Eles conseguiram parar de se beijar, mas continuaram se olhando. Era como se estivessem com sede de beijo e queriam ficar assim o resto da noite. Ambos sem ar, ambos chocados com a química espontânea que estava presente entre eles.

– Agora é a melhor parte da festa! Aposto que muitos estão conversando com pessoas que nem imaginam quem sejam. – Sophie sentiu um frio em sua barriga, imaginando o que estaria prestes a acontecer e ela não queria estragar sua noite perfeita. – Todos, por favor. Tirem suas máscaras.

O rapaz pode ver nos olhos de Sophie o desespero. Ela queria sair correndo de lá o quanto antes. Por mais que a noite havia sido perfeita, ela não queria mostrar seu rosto, dizer quem era. Estava perfeito daquele jeito anônimo e era assim que ela queria terminar a noite.

– Você não precisa tirar sua máscara. – Ele disse, tentando acalmá-la. – Muitas pessoas não tiraram, veja. – Eles olharam ao redor e realmente, várias pessoas hesitaram em retirar. – Eu não me importo se não souber seu nome ou não ver seu rosto, que deve ser lindo, essa noite. Tenho certeza que vou te reconhecer quando nos encontrarmos. Isso para mim, basta. – Ele apertou a mão dela entre seus dedos e ela se emocionou. Estava quase chorando de verdade. Uma parte dela queria permanecer desconhecida, mas outra parte, que havia despertado com aquele beijo, queria se mostrar para ele. Esse nó de desejos tão intensos e tão repentinos, a estava deixando louca.

Ela olhou ao redor e pode ver diversos de seus amigos sem máscaras, rindo e se divertindo. Alguns se abraçando e outros se encontrando. Mas ela também viu pessoas ainda com as máscaras, balançando a cabeça como se negassem aquilo. Eles se olharam novamente e ele sorriu.

– Seu segredo está a salvo comigo. Não contarei a ninguém o que fizemos hoje, para que sua fama de mulher forte e fechada continue intacta. – Ela sorriu um pouco mais calma, ainda de mãos dadas com ele. – Me chamo Jacques. – Ele disse e lentamente, tirou sua máscara, para que ela pudesse vê-lo. – Não precisa fazer o mesmo, mas queria que você me conhecesse.

Ela ficou olhando aquele homem, e ela pensou que ele era tão lindo, que seria capaz de acabar com uma guerra somente com seus olhos azuis. Tirou alguns segundos para entender tudo aquilo e resumiu aquelas horas que passou com ele, como sendo algumas das melhores horas que havia tido em toda sua vida. Seu lado mais depressivo e excêntrico, dizia que tudo deveria acabar ali e pronto. Mas ela estava tão encantada com seu lado alegre que Jacques havia despertado, que queria ver até onde tudo aquilo iria. Ela fechou os olhos, respirou fundo e decidiu.

– E eu… – Ela foi desamarrando a máscara lentamente. – Me chamo Sophie. – E ela tirou a máscara.

Jacques começou a rir em um impulso e quase que gritou.

– Cabeça grande! Não acredito! – E ele a abraçou forte. Ela demorou para entender o que ele havia dito, mas começou a rir quando se lembrou do dia que havia batido sua cabeça com força no queixo dele, quando estava saindo do Café Guerbois. – Não acredito que fiquei a noite toda com você.

– E eu tão pouco. – Ela ainda dava risada. Olhou ao seu redor e pode ver que as pessoas estavam ainda no ritmo da festa e ela se sentiu uma tonta por ter tido medo de tirar a máscara. – Preciso ir embora. Já estou cansada.

– Eu te levo. Por favor, me deixe te acompanhar. Não deve ser seguro para uma mulher linda como você, caminhar por Paris a essa hora. – Ela sorriu e entortou os lábios.

– Tem um carro me esperando. Fique tranquilo. – Ela disse e Jacques meio que se decepcionou.

– Bom, se minha companheira de festa vai embora, eu também vou.

– Não, por favor. Fique e aproveite mais. – Ela disse, mas no fundo não queria eu ele ficasse lá sozinho.

– Não, não. Também estou cansado. Venha, vamos embora. – E eles saíram de braços dados e por incrível que pareça, somente Gertrude a viu de longe, e mesmo assim não teve certeza de que era a menina Sophie, pois essa moça estava acompanhada e ela não conseguia imaginar isso vindo de Sophie.

Ainda de braços dados, eles caminhavam para fora, passando por algumas pessoas, sem dizer nada. Ambos estavam felizes por dentro e por tudo que havia acontecido durante aquelas horas da festa e estavam pensando e sentindo tudo. Sophie caminhava olhando para o chão sem dizer muita coisa. Jacques queria falar com ela, mas não sabia como escolher as palavras.

– Gostei muito de ter te conhecido, Sophie. – Ele disse.

– Eu também gostei, Jacques. Jamais imaginaria que estava com uma pessoa de queixo tão duro. – Eles deram risada.

– Me desculpe por aquele dia. – Eles pararam assim que chegaram onde os carros estavam parados, no estacionamento da casa de Armand.

– Nada que desculpar. – Ela sorriu. E ficaram se olhando ainda sem jeito. Na verdade, eles não queriam se despedir. Queriam continuar juntos. – Obrigada por ter sido meu companheiro nessa festa tão diferente.

– Sim… – Ele respirou um pouco. – Posso te ver de novo? – Ele perguntou, relutante.

– Por que não?! – Ela respondeu e sorriu. – Eu quero te ver de novo. E sinta-se privilegiado, pois eu nunca, em toda minha vida, quis tanto ver um homem. – Ela disse meio sem jeito, rolando os olhos para cima e ele abriu seu sorriso mais feliz e largo. Sophie se encantou um pouco mais com a beleza de seu sorriso.

– Vou descobrir onde te encontrar. – Ele afirmou.

Ela sorriu torto sem mostrar os dentes e ele a puxou para si e se beijaram novamente. Sophie estava completamente extasiada por Jacques. Eles escutaram um carro se aproximando e com certeza, era o motorista de Sophie. Ela olhou e sinalizou que iria em um instante. Olhou novamente para Jacques e ele passou a mão nos cabelos dela com delicadeza.

– Vou esperar você me encontrar, então. – Ela disse.

Ela deu um passo para trás, meio que indo embora, mas ainda estavam de mãos dadas e ele a puxou de volta, para um último beijo naquela noite. Eles deram risada.

– Você vai me ver de novo. – Ela afirmou a ele. – Você não soube tudo sobre mim, apenas cheirando minha mão? Então… -Ela deu alguns passos e foi indo ao carro, olhando para ele. – Boa noite, queixo duro. Me diverti demais essa noite. Obrigada.

– Boa noite, cabeça grande. Também me diverti. – Eles sorriram e ela entrou no carro. Ele ficou olhando o carro se afastar e ela deu uma última olhadinha pela janela e sorriram um para o outro. – Foi uma das melhores noites da minha vida, Sophie. – Ele disse para si mesmo.

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