Capítulo 20
No dia seguinte, Sophie acordou sorrindo. Todas as sensações da noite anterior voltaram como um coice para sua pele e ela só conseguia pensar em Jacques. Jamais pensou que um dia iria se sentir assim, mas era exatamente o que estava acontecendo. Ela estava cada dia mais apaixonada por Jacques, só conseguia pensar nele e queria estar ao lado dele 24 horas dia, todos os dias.
Se revirou na cama e viu que ainda estava cedo. Ela estava elétrica. Vestiu seu robe rosa claro de seda e foi para sua varanda. Acendeu um cigarro e ficou admirando aquela paisagem que ela admirava todos os dias. A Torre, o céu lindo de Paris com algumas nuvens, o Rio Sena e todos os pássaros que voavam felizes por ali. Ela percebeu que estava fumando menos. O que considerava bom, já que não gostava do cheiro que ficava em sua pele e em suas roupas.
– Talvez seja bom reduzir, o cheiro não é agradável. – Ela disse para ela mesma, olhando o cigarro. Ela respirou fundo e fechou os olhos, deixando o calor do sol tocar sua pele e aquecê-la de fora para dentro. Ela só pensava em Jacques. Ao mesmo tempo que todos os sentimentos tão novos estava borbulhando dentro dela, ela se sentia em paz. Como se tudo aquilo estivesse no lugar e do jeito que deveria ser.
Ela escutou baterem na porta e ela se alertou. Apagou o cigarro e se apressou em descer para ver quem estava à porta. Ela já imaginava o que poderia ser. Desceu as escadas a tempo de ver Marrion recebendo um buquê de flores amarelas, enorme.
– De quem são essas flores? – Sophie gritou da escada, descendo ainda, quase caindo de tanto correr. – De quem são essas flores? – Marrion e o rapaz da entrega ficaram sem saber o que responder.
Sophie chegou até as flores, pegou o cartão e o leu em pensamento. “Querida Sophie, me desculpe por ontem. As coisas saíram do controle e eu não aceitei te ver tão linda ao lado dele. Espero que um dia isso possa ser esquecido. Te amo. Armand.” Ela terminou de ler, amassou o cartão e o colocou de volta nas flores.
– Não quero essas flores. Pode levar de volta exatamente para quem as enviou.
– Mas Sophie… – Marrion tentou dizer algo e Sophie estava irritada.
– Nada de mas. Não vou mais receber nenhuma flor que seja dessa pessoa horrível chamada Armand. Pode levar embora, mas entregue exatamente para ele e diga para nunca mais me enviar nada e nunca mais dirigir a palavra à mim. – E fechou a porta na cara do rapaz da entrega. Marrion ficou sem entender nada e Sophie deu alguns passos para trás, indo para a cozinha. – Vamos tomar café. Eu lhe conto tudo, Marrion.
E Sophie contou tudo para Marrion, que ficou sem acreditar na grosseria de Armand, porém se encantou com a coragem de Jacques.
– Realmente, esse rapaz é perfeito para você. Decidido, sabe o que quer, é educado, doce e é corajoso ao mesmo tempo… Mas eu já sabia que ele era corajoso, logo que aceitou o desafio de te conquistar. – Elas deram risada, bebendo o café e comendo pães. – Estou muito, mas muito feliz que você esteja feliz ao lado dele.
– Eu não tenho a menor ideia de onde tudo isso vai parar, mas quero ver até onde vai. Se vamos ficar juntos somente até o ano que vem, ou se vamos envelhecer juntos, o que seria um privilégio. Não sei. Só sei que quero tudo com ele, Marrion. Ele me deixa segura, confiante. Não tenho medo de nada. Ontem eu estava quase desmaiando de tão nervosa com aquela produção toda e ele me acalmou, me deu opções. – Sophie sorriu para si mesma, lembrando do carinho de Jacques. – É como se ele fosse algo que me acalmasse, que me deixasse em paz.
– Isso era tudo que você precisava na vida, depois de tudo que lhe aconteceu. Paz.
Elas se olharam e sorriram. Continuaram a tomar o café da manhã e Sophie só pensava em ver Jacques novamente.
***
O carro do motorista parou na frente da casa de Jacques e Sophie estava nervosa para conhecer os pais dele. Eles a convidaram para um jantar, pois gostariam de conhecer a mulher que estava passando tanto tempo com Jacques. Ele a estava esperando na porta, vestido com um terno e com o melhor sorriso que ele poderia ter para receber sua visita. Ela estava com uma saia longa marrom e uma camisa clara, clássico de Sophie para que ficasse à vontade e confiante.
– Boa noite, querida Sophie. – Ele segurou sua mão para que ela descesse do carro, o que foi bom, pois ela estava bem nervosa. – Como você está? Estava com muita saudade. – Eles se abraçaram e se beijaram longamente, o que fez Sophie se derreter nos braços dele.
– O tempo passa lentamente quando estamos distantes, e passa como um raio quando estamos juntos. – Ela disse e ele sorriu.
– Os melhores raios da minha vida. – Ele segurou em sua mão. – Venha, vamos jantar. Meus pais querem conhecê-la.
Ao entrar, Sophie notou que a casa dos pais de Jacques era enorme, muito elegante e bem parecida com a casa de Armand. Bem parecida com sua própria casa. Mas a de Jacques era mais imponente, com muitos cristais e muitos vasos com flores enormes, tapetes pelo chão e algumas pessoas que trabalhavam ali. Ela logo notou que se tratava de uma família com dinheiro, mas isso não era o tipo de coisa que impressionava Sophie.
– Mamãe, papai, essa é a Sophie, que falei para vocês. – Disse Jacques, entrando na sala e apresentando Sophie aos seus pais, que sorriram e se levantaram. Sophie, essa é minha mãe Marie e meu pai Jacques também. – Eles apertaram as mãos e Sophie assentiu com a cabeça.
– É um prazer conhecê-los, senhores Langreau. – Ela disse, educadamente.
– O prazer é nosso, Sophie. Você é linda, parece que foi desenhada à mão. – Marie disse, admirando e sorrindo para Sophie.
– Muito obrigada. – Ela ficou um pouco tímida.
– Estávamos lhe esperando para jantarmos. Que bom que chegou no horário marcado. Vamos para a sala de jantar. – Disse Jacques pai, um senhor que parecia ter mais de 65 anos, que usava uma bengala para se apoiar e fumava um charuto enorme.
Os pais de Jacques foram e Sophie, ainda de mãos dadas com ele. Eles se olharam e sorriram, como se fossem cúmplices daquilo tudo. Jacques se aproximou e deu um beijo na testa de Sophie.
Eles jantaram alegremente, conversando e os pais dele pareciam estar gostando de Sophie. Quando no meio do jantar, Marie declarou.
– Sophie, você se parece muito com uma velha amiga minha.
– Sim? Como ela se chama? – Sophie perguntou.
– Chamava. Ela faleceu há muitos anos. – Sophie ficou séria e Jacques a olhou no mesmo momento. – Ela se chamava Madeleine.
Ao ouvir o nome da mãe, Sophie não sabia o que dizer. Ficou séria e tentou esboçar um sorriso, mas aquele era o assunto que mais evitava, pois tinha certeza de que aquela ferida jamais seria capaz de ser curada e ao ouvir o nome da mãe, ela sentiu que a ferida começou a jorrar sangue, de tanto que sentia a dor dela.
– Ela era minha mãe. – Sophie disse, sorrindo sem mostrar os dentes e voltou a olhar para a comida no seu prato. Repentinamente, ela havia perdido o apetite.
– Meu Deus, me desculpe, Sophie. Eu não sabia que ela era sua mãe, que René era seu pai. Nós ficamos arrasados quando soubemos do acidente.
– Eu estava com eles. Na verdade, eu não fui ao passeio que eles estavam fazendo, quando aconteceu o acidente. Está tudo bem, faz muito tempo já. – Ela disse, tentando mentir, Jacques percebeu, mas os pais dele não. O plano perfeito. Ela olhou para Jacques que tinha um olhar de cumplicidade em seu rosto e Sophie sentiu, que tendo aquele olhar cada vez que esse assunto viesse à tona, talvez ela pudesse passar melhor por uma vida de lembrar de seus pais que já não estavam mais ali.
Após o jantar, eles continuaram conversando. O pai de Jacques fumou mais um charuto e declarou que precisava ir dormir, mas disse para Sophie se sentir em casa. A mãe iria com ele e ao se despedir de Sophie, ela lhe deu um abraço apertado, sem dizer uma palavra sobre a mãe dela. Apenas sorriu olhando para a menina Sophie.
– Obrigada por estar fazendo meu Jacques feliz novamente. Ele também sofreu uma perda muito grande. Uma perda dupla. E ele está radiante ao se lado, como nunca esteve. Obrigada por isso. – Marie disse e beijou o rosto de Sophie gentilmente.
– Boa noite, senhora Marie. Boa noite, senhor Jacques. O jantar estava maravilhoso. – Sophie disse sorrindo, um pouco menos tímida.
– Agradeça às meninas da cozinha. – Disse o Jacques pai e eles deram risada. – Boa noite, Sophie. Boa noite, filho.
E eles se foram. Sophie ficou sozinha com Jacques na sala e ficou com uma questão para perguntar a Jacques. Eles se sentaram de volta no sofá um do lado do outro. A primeira coisa que Jacques fez foi beijar Sophie bem apertado, um abraço firme que Sophie amava.
– Jacques. Fiquei com uma dúvida.
– Qual? – Ele disse, ainda com os lábios colados nos dela.
– Por que sua mãe disse que você teve uma perda dupla?
Jacques ficou sério, parou de beijar Sophie e se endireitou no sofá. Eles se olharam e ele respirou fundo. Sophie imaginava o que poderia ser, mas preferiu que ele dissesse a ela. Ele respirou fundo.
– Julia estava grávida de um filho nosso quando faleceu. Tentaram salvar o bebê, mas ele era muito pequeno. Não teve como salvar. Eu perdi minha esposa e perdi meu filho.
Sophie fechou os olhos e abaixou a cabeça. Ela sabia que a dor de perder um filho, era imensamente maior que a dor de perder os pais. Perder os pais é previsível. Perder um filho, é totalmente contra a natureza. Ela não conseguia imaginar a dor que ele sentia e também não conseguia imaginar como ele lidava com tudo aquilo, parecendo ser fácil ou simples.
– Jacques, eu sinto muito. – Foi o que ela conseguiu dizer.
– Está tudo bem. Faz muito tempo já. – Ele repetiu a frase que Sophie disse para sua mãe na mesa do jantar. Ela se aproximou dele e o abraçou. Ele a envolveu num abraço quente e ela fechou os olhos, apenas apreciando aquele momento único, nos braços do homem que ela estava aprendendo a amar.
Ela pensou que talvez, ele precisasse mais do que ela, daquela viagem. Talvez no final, quem iria salvar quem, era ela a ele. E não o contrário, como ela havia pensado logo no começo. Jacques precisava mais do que ela, refazer sua vida e consertar seu coração. Sentiu uma pontinha de felicidade e orgulho, por fazer parte desse processo de recuperação de um homem tão especial quanto Jacques. Ela se apaixonou um pouco mais por ele naquele momento.
Já Jacques, estava totalmente apaixonado por Sophie.