Capítulo 18

Era sábado e Sophie havia falado com Jacques para eles irem até a festa na casa de sua amiga Eugenie. Sabia que, assim como Gertrude, muitos outros de seus amigos também estavam com saudades, pois ela simplesmente havia desaparecido de tudo. Antes, ela ia a semana toda no Café Guerbois, ou em outro local onde eles se reuniam. Agora, ela estava desaparecida. Sabia que no fundo, queria evitar um pouco os comentários, principalmente queria evitar a instabilidade e os olhares de reprovação de Armand. Um estresse desnecessário, já que tudo estava indo tão bem entre o novo casal de Paris.

Jacques estava esperando Sophie descer, sentado no sofá tomando uma taça de vinho que Marrion havia servido a ele, enquanto conversavam.

– Essa semana passou voando. Mal vi o tempo passar. – Disse Marrion.

– É, passou mesmo. Mas, passou bem. Os momentos foram bons. – Disse Jacques sorrindo, se referindo à Sophie, claro. Marrion sorriu.

– Estou sabendo que irão viajar daqui alguns dias. Vai fazer muito bem à Sophie.

– Sim, eu imagino. Ela me disse que não viaja desde quando os pais dela se foram.

– Jacques. – Marrion olhou para a escada para ver se Sophie estava descendo, pois queria contar um segredo a Jacques. – Sophie é muito mais complexa do que você imagina. Ela tinha uma vida com os pais, que era perfeita. Eles formavam um time impecável. A partida deles abalou Sophie para sempre. Não sei se ela consegue voltar a ser aquela menina sensível e com olhos marotos novamente. Por mais que você esteja fazendo bem a ela, talvez, em alguns momentos, ela vá tentar te afastar dela. Com brigas, discussões, ou qualquer coisa do tipo que nunca tem fundamento algum.

– Outro dia ela ficou um pouco brava comigo quando comentei que queria ver seu cabelo solto.

– Sim. Faz anos que não vejo o cabelo dela solto! Ela lava, seca e prende. Não tenho ideia do tamanho que está, pois ela mesma o corta. – Eles deram risada. – Só quero te dizer que, ela está apaixonada por você, como nunca esteve. Já a vi pouco empolgada ou um pouco mexida por alguns rapazes, algo como dois, em todos esses anos. Mas nada comparado ao que você está fazendo com o coração dela. Então, mesmo quando ela tentar te afastar, resista. Ela não faz por mal, é como se fosse um instinto, que ela tenta afastar as pessoas que podem e são especiais para ela, pois ela não aguentaria mais sofrer como ela sofreu com a perda de seus pais.

– Eu entendo. Obrigado por me avisar. Vou ficar atento aos sinais e resistir, mesmo que ela me mande embora. – Jacques disse sorrindo. – Eu já imaginava que seria difícil em alguns momentos, pois ela ainda está fechada, por mais que estejamos juntos. Acho que o medo dela, ainda é maior do que o que ela possa estar sentindo por mim.

– Acredito que esteja meio a meio. Ela está sim, apaixonada por você e isso está fazendo muito bem a ela. Muito bem mesmo. Ela sorri, mostrou seus quadros para Gertrude hoje pela manhã. Você acredita?

– Nossa! – Foi a única coisa que ele conseguiu dizer.

– Você também está louco para ver a arte dela, não é?! – Perguntou Marrion, sorrindo. Ele balançou a cabeça sorrindo também. – Eu entro escondido lá muitas vezes. – Eles deram risada. – O trabalho que ela faz é único. Daqui a pouco ela te deixa ver.

– Tomara. Com aquela mente e com aquele coração, ela só pode criar coisas maravilhosas.

Sophie foi descendo a escada e o seu salto fez barulho no chão de madeira da casa. Eles escutaram e sabiam que já era a hora de parar de falar sobre aquele assunto. Ela estava com um vestido vermelho escuro, longo, uma maquiagem mais pesada e marcada. Ela estava sexy demais, com um salto alto preto nos pés e uma bolsa pequena preta nas mãos.

Jacques sentiu seu coração bater mais forte ao vê-la tão linga, elegante e sexy daquele jeito.

– Uau! Que divina você está, Sophie. – Ele disse, se levantando para ir ao encontro dela.

Sophie queria se mostrar confiante com aquela roupa, mas a verdade é que estava tentando esconder como estava tremendo de medo de parecer muito mais mulher do que ela se considerava ser. Ela disfarçou bem e Jacques não percebeu que ela estava extremamente nervosa, com seu coração batendo acelerado.

– Obrigada. Você também está muito elegante. Gosto desse cheiro do seu perfume e gosto do seu cabelo assim. – Ela sorriu. Jacques a abraçou. Ele estava com o cabelo penteado para trás.

– Vamos? O carro já está lá fora.

Sophie assentiu e ela foi se despedir com um beijo em Marrion, ao abraçá-la, Marrion disse baixinho em seu ouvido.

– Fique calma, respire, tome uma taça de champanhe. Você está maravilhosa como nunca, seja por dentro essa mulher que está sendo por fora.

Sophie sorriu e deu um beijo na testa de Marrion, deixando uma marca de batom vermelho. Óbvio que Marrion sabia que Sophie estava nervosa.

Sophie e Jacques saíram, de braços dados, para irem até a festa na casa de Eugenie.

***

Assim que o carro para em frente a casa de Eugenie, Sophie sentia sua perna fraca de tanto nervoso. Ela jamais havia se vestido daquele jeito para estar com outras pessoas. Era uma mudança brutal no seu estilo e ela fez aquilo para agradar Jacques, mas já estava se arrependendo. Ela parecia que estava passando mal e Jacques percebeu.

– Está tudo bem, querida? – Jacques pegou nas mãos dela e as sentiu gelada. – Você está passando mal? – Ele se preocupou.

– Um pouco nervosa. Eu… Acho que fiz uma besteira em fazer toda essa produção, esse vestido, a maquiagem. Pensei que fosse me sentir segura, mas estou quase desabando. – Ela estava quase chorando de tanto nervoso e Jacques apenas sorriu.

– Você está maravilhosa. Qual o problema em estar vestida assim?

– Nunca me visto assim. Nunca uso essas cores, essa maquiagem toda. Deveria ter vindo como a Sophie normal, sem chamar a atenção.

– Sophie, você nunca não chama a atenção. Mas vestida assim, tão linda e sensual, vai não só chamar a atenção como quebrar alguns corações e fazer cair alguns queixos. – Ele deu risada e ela sorriu, timidamente. – Você está linda, mais do que nunca. Mas se não estiver se sentindo à vontade, voltamos para a sua casa e você se troca.

– Não. – Sophie respirou fundo e decidiu que iria encarar o desafio. – Vamos assim. – E foi abrindo a porta do carro. O motorista a ajudou a descer, várias pessoas estavam na parte de fora e logo já a olharam, algumas pessoas não a reconheceram.

Ela grudou no braço de Jacques para não despencar, mas foi se sentindo um pouco menos nervosa conforme encontrava as pessoas e conversava amigavelmente. Quando entraram, todos estava dançando, bebendo e fumando. Ela varreu o local com seu olhar e encontrou Gertrude, conversando com alguns pintores ao fundo. Eles foram até lá para conversarem. Gertrude arregalou os olhos e sorriu quando viu Sophie toda linda.

– Meu Deus! Que maravilhosa que você está. – Gertrude a abraçou forte, estava realmente impactada com a beleza de Sophie naquele dia.

– Obrigada, Gertrude. – Sophie disse, tímida.

– Ela realmente está divina. – Disse Jacques, cumprimentando Gertrude.

De longe, Armand viu Sophie com Jacques, os dois abraçados e sorrindo conversando com Gertrude. Ele ficou sério e sentiu pontadas em seu peito. Ainda não havia superado o fato de ter perdido Sophie para Jacques. E ainda mais do jeito que Sophie estava vestida, toda sensual. Ele sabia que Jacques estava deixando Sophie florescer e aquilo o estava consumindo. Ele então começou a beber ainda mais, para conseguir aguentar tudo aquilo que estava sendo esfregado em sua cara tão duramente. Ele se sentia mais perdedor do que nunca e odiava se sentir daquela maneira.

Sophie aos poucos foi se sentindo mais à vontade e menos incomodada com os olhares e com os elogios. Aos poucos ela começou realmente a se sentir aquela mulher que estava sendo por fora. Eles bebiam taças de champanhe conversando alegremente com Gertrude e todos os pintores e escritores que estavam ali. Havia uma pequena banda de jazz tocando música e depois de um tempo, os dois foram dançar mais para o meio da pista. Eles ainda não tinham visto Armand e até pensaram que ele não estava ali. Armand estava sentado, ainda bebendo e mais bêbado do que nunca.

Ao ver Sophie sorrindo e dançando com Jacques, ele se levantou da poltrona que estava, meio cambaleante. Seus amigos disseram para que ele parasse de beber e se sentasse, mas ele nem escutou. Ele só tinha o casal Sophie e Jacques na mira. Foi caminhando pelas pessoas, passando e se apoiando em algumas. Ao chegar perto deles, Jacques o viu, percebeu na hora que ele estava extremamente bêbado e já pensou que poderia haver problemas. Ele segurou nas mãos de Sophie e a puxou para o seu lado, meio que a protegendo do ataque de Armand.

– Não precisa escondê-la de mim, Jacques. – Armand gritou e muitos olharam. Sophie não estava entendendo nada. – Eu já sei que vocês estão juntos. – Armand mal conseguia falar, de tão bêbado. – Eu já sei que estão juntos.

– Armand, estamos todos nos divertindo. – Disse Jacques, que meio que havia colocado Sophie atrás dele, a protegendo. Ela saiu de trás de Jacques, sem entender o motivo de estar ali.

– O que está acontecendo, Armand? – Ela perguntou, brava.

– Você que me diga, Sophie Magret. Pois, agora que está com esse rapaz aqui, você deixou os amigos de lado. Não vai mais às festas e não lembra que nós existimos. – Armand não falava coisa com coisa e não conseguia parar em pé direito.

– Ora, fique quieto. Você precisou beber tanto assim para vir aqui me cobrar isso? – Sophie disse, irritada, a essa altura todos da festa estavam vendo a discussão e até a banda havia parado. Um amigo de Armand apareceu e tentou puxá-lo para voltar ao seu lugar, mas ele se esquivou.

– Não encoste em mim. – Ele gritou. E voltou a encarar Sophie. – Desde quando você está se vestindo feito uma moça de cabaré?

Sophie abriu a boca, incrédula e deu um passo para avançar em Armand para lhe dar algumas bofetadas. Jacques a segurou pelo braço e a puxou para trás. Armand estava rindo sozinho do insulto que havia feito Sophie.

– É isso mesmo, está parecendo uma prostituta. De luxo, mas está parecendo. – Armand continuava dando risada.

Quando ele nem percebeu Jacques lhe deu um belo soco na cara e ele caiu feito mamão no chão. Todos da festa estavam olhando a briga e Armand estava tão bêbado que nem sentiu que sua boca estava sangrando.

– Lave sua boca antes de falar qualquer coisa para insultar a Sophie, seu maldito. – Jacques cuspia as palavras, extremamente irritado com Armand.

Sophie estava muito irritada também, mas preferiu puxar Jacques pelo braço e foram se afastando. Armand gemia alguma coisa no chão e dois de seus amigos estavam o ajudando a se levantar enquanto Sophie e Jacques iam se afastando.

– Eu te amo demais, Sophie. – Disse Armand, apoiado em seus amigos, com a boca cheia de sangue e chorando, ao olhar que ela estava indo embora com Jacques.

Gertrude foi correndo atrás do casal, assim como a amiga Eugenie, dona da festa.

– Sophie! Jacques! – Gertrude gritou atrás deles e só assim eles pararam, quando já estavam fora da casa. Eugenie vinha logo atrás, batendo seu salto correndo para alcançar o casal. – Me desculpe por isso, me sinto culpada, pois eu que lhe avisei da festa.

– Não se preocupe, Gertrude, você não tem nada a ver com isso. – Disse Sophie, ainda extremamente irritada com tudo aquilo.

– Ele está muito bêbado, não sabe o que está falando. Está sendo difícil para ele lidar com os seus sentimentos de perda. – Gertrude disse.

– Agora vai ser difícil para ele lidar com a ressaca de amanhã e os efeitos do soco que lhe dei. Onde já se viu, insultar Sophie dessa maneira? – Jacques estava mais irritado que Sophie. – Ele merecia apanhar mais.

– Vamos embora, Jacques. – Disse Sophie, puxando Jacques para irem até o carro e encontrar o motorista.

– Me desculpe por isso, Sophie, Jacques. Me desculpe por isso. – Disse Eugenie, tentando melhorar a situação.

Mas os dois já estavam indo embora e apenas acenaram para ela, que ficou ao lado de Gertrude, bem chateada por tudo que havia acabado de acontecer.

– O que seria de uma festa, sem algumas brigas?! – Disse Gertrude e voltou para dentro com Eugenie.

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