Capítulo 17

“Pelos campos floridos continuo caminhando. O sol brilha em cima da minha cabeça, iluminando todos os pensamentos que um dia, foram escuros. Ao fechar os olhos, sinto que toda aquela brisa, que antes me incomodava, agora faz parte do sou, deixando que minhas asas, tão rechaçadas, recebam esse carinho tão doce.

Sinto toda a energia que a terra nos proporciona, com essa força tão inabalável e tão intangível. Uma força que avassala. Como a força de um amor. Mas, como traduzir em palavras o que é o amor?

O amor acontece em um segundo, em um mês, em um ano ou em uma vida? Ou em mais vidas? Quanto tempo é necessário para saber se aquilo é amor?

Depois de tanto pensar, acredito que seja algo impossível de descrever. O amor simplesmente é. Quem sente, sabe que sente. O amor é único de cada pessoa. O amor acontece com os desavisados, acontece com aqueles que mal estavam preparados e tropeçam nele. Mas o amor também acontece para aqueles que o esperavam, ansiosos na vida por ter um amor para chamar de seu. Sofrer pelo amor, rir pelo amor, viver pelo amor.

Ah, esses campos floridos nunca foram tão floridos. Esses campos floridos nunca tiveram tanta cor. Esses campos floridos nunca tiveram tantos aromas.

Amor.

Algo que não podemos ver, tocar ou algo assim. Amor. É para ser sentido e jamais entendido. Amor é para ser vivido e jamais desprezado. Seja seu amor por outra pessoa, por um pincel, por um lugar ou alguma taça de vinho. Ame. Viva seu amor como se ele fosse desaparecer amanhã.”

E Marrion bateu à porta de Sophie.

– Sim, Marrion. – Sophie se levanta e vai abrir a porta.

– Menina Sophie, a senhora Gertrude está lá embaixo querendo falar com você.

– Ah. Claro, vou descer.

Gertrude estava sentada no sofá, esperando por Sophie. Quando elas se viram, sorriram uma para a outra.

– Sophie, você desapareceu. Resolvi passar aqui para ver se está tudo bem.

Alguns dias haviam passado e já estava no final de semana. Sophie havia tido uma semana cheia de Jacques e eles estavam cada vez mais envolvidos, e Sophie realmente estava sumida do seu círculo de amizade.

– Estou bem, sim. Mas achei melhor sumir por um tempo. Aquela vida não estava me ajudando em nada. – Sophie disse se sentando no sofá.

– Eu imagino que tenha a ver com o fato de ter conhecido Jacques, também, não é?

– Éééé… Um pouco também. – Sophie sentiu suas bochechas ficarem vermelhas e sorriu. – Acho que Armand não está confortável com essa situação. Então, estamos evitando que ele nos veja juntos, pelo menos por enquanto. Eles são amigos e Jacques não quer estragar isso.

– Com certeza. Armand está inconsolável. Ele tenta disfarçar, mas podemos notar que ele está triste por ter perdido você.

– Como dizer que ele me perdeu, sendo que ele jamais me teve?

– Difícil explicar como funciona uma cabeça de homem, não é?! – Elas deram risada. – Bom, só passei para ver se estava bem. Hoje teremos uma festa na casa de Eugenie, se quiser, está convidada.

– Gertrude… Preciso te mostrar uma coisa. – Sophie disse e sentiu seu coração batendo mais forte. – Você é a única pessoa que eu sei que pode ter um olhar crítico e me dizer se são bons.

Gertrude sabia exatamente do que Sophie estava dizendo e sorriu sem mostrar os dentes.

– Achei que nunca iria me pedir isso. – Gertrude segurou a mão de Sophie e elas sorriram.

Ao entrar no ateliê de Sophie, Gertrude se deparou com um quarto enorme, cheio de telas espalhadas por todos os cantos. Algumas penduradas, outras enfileiradas. Gertrude nem sabia por onde começar a olhar, mas sentiu um calor dentro de si, que a fez se emocionar e ficar com os olhos úmidos. Ela estava encantada com o trabalho e talento de Sophie.

– Sophie… Eu… Isso… É tudo lindo. – Gertrude não sabia o que dizer.

Ela parou para analisar mais de perto uma tela que Sophie havia feito, que tinha alguns borrões que formavam um castelo ao fundo, em cima de uma montanha. Outra tela totalmente abstrata que Sophie havia feito em um acesso de raiva. Outra tela que continha apenas algumas borboletas voando, coloridas no meio de um campo de flores. Mas parou na tela que Sophie havia feito de Jacques e sorriu mais ainda.

– Ele é bem bonito, não é?! – Disse Gertrude e Sophie sorriu encabulada.

– Sim. Depois que o conheci, só consigo pintar telas coloridas e cheias de vida.

– Porque ele conseguiu te trazer de volta à vida, mesmo com tudo que você passou. – Disse Gertrude que ainda olhava para tudo, mexendo em alguns quadros que estavam escondidos. – Nem sei o que te dizer, Sophie. Acredito que sejam alguns dos quadros mais lindos e intensos que já tive a oportunidade de ver. Seu talento… é excepcional.

– Obrigada, Gertrude. Você é a primeira pessoa que vê tudo isso com olhar crítico.

– Você precisa expor. Você precisa expor seu talento.

– Calma. – Sophie deu risada. – Vou pensar no assunto quando voltar de viagem.

– Você vai viajar? – Gertrude se assustou, pois sabe que Sophie jamais viajou novamente desde quando seus pais se acidentaram.

– Vou percorrer algumas regiões da França com o Jacques. Ele me convenceu. – Sophie deu de ombros e Gertrude sorriu.

– Isso é maravilhoso. Vai fazer muito bem para vocês dois.

– Eu imagino. Com certeza irá.

– Quer me mostrar algum dos seus textos? Estou louca para ler. – Disse Gertrude.

E elas ficaram por horas naquele ateliê, Gertrude encantada com tudo que Sophie produzia. Pela força gentil que ela aplicava em seus trabalhos, por ser tão intenso e ao mesmo tempo tudo tão frágil. Gertrude estava apaixonada pelo trabalho de Sophie. E Sophie estava adorando mostrar tudo aquilo para ela. Sophie sabia que os próximos passos eram deixar Marrion entrar lá de vez em quando para ver e limpar, e deixar Jacques ficar lá dentro o tempo que ele desejasse.

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