Capítulo 16

Sophie estava com seu coque habitual na cabeça, mas aquela noite ele estava adornado com um laço discreto preto, que combinava com a saia que ela estava vestindo. Uma saia preta para baixo dos joelhos, uma blusa branca de mangas compridas e um sapato que Sophie usava somente em ocasiões especiais.

Eles estavam frente a frente, sentados em uma das mesas do restaurante Chez Marcel, bebendo uma garrafa de vinho enquanto o prato que haviam pedido não vinha. Ambos estavam felizes em estar ali, perto um do outro. Jacques estava com sua mão entrelaçada com a dela, em cima da mesa.

– E então? O que tem para me dizer sobre a viagem?

– Nem acredito que você aceitou. – Ele sorriu. – Quero dizer, fico feliz que tenha aceitado. – Jacques estava totalmente encantado por Sophie, cada segundo mais.

– Eu disse que tinha aceitado. Só quero saber para onde gostaria de me levar. – Sophie disse e eles ficaram se olhando, Jacques estava totalmente perdido com a beleza arrebatadora de Sophie. Ela ficou pensando e resolveu dizer a ele algumas coisas. – Lembrando, que tudo isso é algo bem novo em vida. E eu quero dizer, tudo. Absolutamente tudo. Os sentimentos, – ela fez uma pausa e mordeu os lábios envergonhada, Jacques sorriu – este jantar, as roupas que quero usar para te ver… Tudo que estou falando agora. – Ela rolou os olhos e ele deu risada. Ela respirou fundo e olhou intensamente para ele. – Tudo. Tudo novo.

Jacques sorria demais e percebeu como ela estava nervosa ao dizer aquilo, sentindo que tudo vinha do seu coração com tamanha sinceridade. Bebeu um gole do vinho que estava em sua taça e olhou para ela, segurando sua mão.

– Não posso dizer que nunca me apaixonei, você sabe do meu passado. Mas isso tudo também é novo para mim. Os sentimentos são diferentes. – Ele fez uma pausa e ela sentiu seu coração se acelerando. – Com você eu sinto que posso ter e ver o mundo de uma forma muito diferente. Tenho vontade de acordar todos os dias e correr para te ver. E… quando nos conhecemos mesmo? – Eles começaram a rir. – Não preciso de semanas, meses ou anos para saber que você é especial, Sophie. Eu só… Quero sentir isso e ver até onde vai nos levar.

– Eu também. – Disse Sophie sorrindo. – E para onde isso vai nos levar? – Ela estava realmente curiosa para saber qual lugar Jacques havia escolhido para a viagem deles.

– Vamos para o sul. Pegamos um carro e vamos descendo. Ou de trem. Podemos ir descendo de trem, parando pelas cidades. Podemos visitar o Vale do Loire, Aix de Provence e podemos ir até o litoral se quiser. – Ele disse essa última frase com cuidado, pois sabia que era um assunto delicado e não sabia como Sophie poderia reagir. Ele esperou para ver a reação dela. – E então? Gostou do roteiro? – Ele perguntou e ela fez uma pausa, bebendo de seu vinho.

– Gostei! – Ela disse sorrindo. – E… Podemos ir ao sul. Podemos ir até Nice. – Ela se entristeceu um pouco. – Acho que preciso encerrar algumas coisas lá. Sabe, durante muito tempo eu achei que havia morrido junto com eles naquela praia. Aos poucos, fui voltando a viver. Foram anos de luto. Acho que preciso disso para realmente voltar a viver. – Ao dizer isso, os olhos de Sophie se encheram de lágrimas. Jacques apertou sua mão.

– Você está no caminho certo e sei posso te ajudar nisso. – Ele disse, sorrindo seu melhor sorriso e o coração de Sophie se aqueceu.

O garçom chegou trazendo os pratos que eles haviam pedido. Eles agradeceram e ele saiu. Eles se olharam novamente e sorriram.

– Quando vamos? – Perguntou Sophie.

– Quando você quiser. – Jacques estava sorrindo e não conseguia deixar de olhar para Sophie com admiração.

– Daqui algumas semanas. Quero terminar alguns quadros que tenho trabalhado e isso vai levar um tempo. Também preciso preparar Marrion. – Eles deram risada. – Não sei se ela vai surtar por eu estar indo viajar com você ou por eu a deixar sozinha.

– Acho que ela gosta de mim. – Jacques disse sorrindo.

– Sim, você tem isso ao seu favor.

Eles finalizaram o jantar, a garrafa de vinho e foram caminhar pelas ruas da região, de mãos dadas, aproveitando a noite linda que estava fazendo.

– Quer dar uma passada no Café Guerbois? – Perguntou Jacques. – Podemos pegar um táxi e ir até lá, estamos um pouco longe.

– Não sei… Estou bem sem ir lá por esses dias.

– Mas não sente falta dos seus amigos?

– Sim, gosto muito de todos eles. Mas não sei. Armand estará lá, com certeza. Não sei como ele vai reagir ao nos ver juntos.

– Ahh… Ele veio falar comigo hoje sobre você. Parecia um pouco chateado por estarmos juntos.

– Ele me mandou flores com um bilhete, dizendo que seriam as últimas flores que ele me enviaria, dizendo que você é um homem digno, de coração bom e que me faria muito feliz.

– Acho que ele gosta de você mais do que eu imaginava. – Declarou Jacques.

– Não sei. Não tenho como saber sobre os sentimentos dele. Posso saber sobre os meus.

Jacques parou de andar e puxou Sophie para perto de si. Eles ficaram se olhando por alguns segundos e ele acolheu o rosto dela entre suas mãos.

– Sophie, Sophie… Você apareceu como uma brisa de verão. – Jacques disse e ela sorriu.

– Acho que não sou a única que sabe usar as palavras.

– Então você admite que sabe usar as palavras! – Eles deram risada. – Marrion me disse que sua arte é algo indescritível.

– Ela só fala isso porque me ama.

– Talvez. Mas eu gostaria de tirar a prova. Quando vai abrir as portas do seu ateliê para mim?

– Um dia… Quem sabe… – Ela deu risada e foi caminhando, dando as costas para ele. Ele ficou rindo e a abraçou, caminhando ao lado dela.

– Eu fiz uma pintura inspirada em você. – Ela disse e ele a puxou novamente para se olharem, ela deu risada.

– Como? Ah! Você vai me mostrar agora.

– Não vou não.

– Vai sim. – Jacques a puxou e lhe deu um beijo. – Por favor. – Eles deram risada.

– Não adianta você jogar esse charme em cima de mim, Jacques. Tudo ao seu tempo. Quem sabe eu não lhe entrego esse quadro de presente?

– Me mostra, por favor. Quero muito ver. Aliás, o que mais quero ver, além dos seus quadros e textos, é o seu cabelo solto. – Ela ficou séria e ele percebeu.

Passaram segundos e ela se lembrou de sua mãe escovando seus cabelos molhados e enquanto elas conversavam dando risada.

– Isso eu não sei se será possível. – Ela disse, olhando para ele e voltou a caminhar.

Ele ficou sem entender, mas percebeu que era algo sério e que com certeza tinha a ver com seus pais. Ele correu para alcançá-la e apenas passou seu braço por seus ombros. E caminharam por Paris conversando levemente, sem tocar novamente naquele assunto.

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