Capítulo 12

Sophie olhava para a paisagem do Jardin de Tuileries, como se olhasse para o nada, contando a Jacques como havia sido o acidente com seus pais. Ele não sabia muito bem o que dizer e somente esticou sua mão e apertou a dela, que estava em cima do chão, onde eles estavam sentados fazendo o pic nic. Ela olhou para suas mãos juntas e depois olhou para ele. Sabia que ele não precisava dizer nada.

– Foi tudo muito rápido. Em questão de horas perdi as duas pessoas mais importantes de minha vida. Eu estava sozinha. Eu e Marrion. Por semanas eu não sai do meu quarto, não sabia o que fazer, depois de um tempo não conseguia mais chorar. Não tinha forças para mais nada. A pobre Marrion cuidou de mim o quanto pôde. Mas eu estava me transformando. Na verdade, eu era uma quase borboleta com meus pais. Sem eles, eu voltei ao um casulo e não pretendia sair de lá tão cedo.

– Você ainda está dentro do seu casulo. Porém, desde ontem, você abriu uma fresta para observar o que estava acontecendo aqui fora. – Ele sorriu e ela o acompanhou. – Não consigo imaginar o quão duro e triste foi para você.

– Tive que reconhecê-los. Estavam tão machucados que não sei se morreram com o impacto do barco nas pedras ou afogados. Não pude dormir por dias.

– Eu sinto muito. – Disse Jacques.

– Tudo bem… Faz muito tempo e… Já me acostumei a não tê-los mais aqui. – Os olhos de Sophie se encheram de lágrimas e Jacques a puxou num abraço reconfortante. Sophie, se sentiu protegida e acolhida, como jamais havia se sentido.

E eles ficaram daquele jeito, por mais tempo do que haviam imaginado. Sem dizer uma só palavra. Apenas sentindo um ao outro naquele abraço.

– E sua esposa? – Perguntou Sophie, ainda afundada nos braços de Jacques. Ele se afastou e sorriu de leve, um sorriso triste.

– Ela era linda. Tão linda quanto o sol. – Ele sorriu e Sophie também. – Ela era tão feliz que chegava a incomodar, sempre sorrindo, sempre iluminada. Porém, ela se foi com uma doença que médico algum conseguiu descobrir o que era. Sabíamos que não era algo contagioso, porém não sabemos o que foi. Ela se foi 4 semanas após começar a se sentir mal, com muita dor na garganta. Ela tinha algo ali, que sangrava. Foi aquilo que a matou.

– Ela faleceu sem saber o que a estava matando… – Sophie respirou fundo.

– Sim. Alguns médicos disseram que era tuberculose, mas não foi. Foi aquilo que estava em sua garganta. Ela mal conseguia falar e comer no final… – Agora foi a vez de Jacques olhar para o nada.

– Eu sinto muito. – Disse Sophie. E novamente, ela pensou que ali havia dois corações arrasados com a falta de pessoas queridas que já não iriam mais voltar.

Jacques pegou sua taça de vinho e encheu a taça de Sophie. Propôs um brinde.

– Um brinde à vida. – Ele disse. Ela sorriu e bateu a sua taça na dele.

***

Era quase o pôr do sol e eles estavam ali ainda, mas caminhando pelo jardim. Jacques carregava a cesta e Sophie as flores. Eles conversavam sem parar, como se estivessem colocando anos de ausência em dia.

– Existe algum lugar que você tem vontade de conhecer? – Perguntou Jacques.

– Não sei. Visitei muitos lugares com meus pais, mas depois que eles se foram, não sai mais de Paris. Pra falar a verdade, eu gosto demais daqui.

– Eu não conheço muitos lugares. Tenho vontade de visitar algumas praias. Inclusive essas do sul da França. São lindas.

– São lindas. Realmente lindas.

Eles caminharam um pouco mais, mas estavam quietos naquele momento. Jacques estava pensando demais em como estar perto de Sophie para sempre. Ele queria propor algo para ela.

– E se… Nós dois, viajássemos para algum lugar juntos? – Perguntou Jacques e Sophie deu risada.

– Você mal me conhece e já quer sair para viajar? – Sophie debochou dele.

– Ora, eu já estou encantado com você. Não preciso de muito mais do que isso. – Ele deu uma piscada e segurou a mão dela.

– Não sei o que te dizer… Não saio daqui há 10 anos.

– Então, está mais do que na hora de sair. Cheguei não faz muito tempo aqui na França, meus pais precisam de mim, mas eles estão bem e aguentariam alguns dias sozinhos, com certeza. Podemos pegar um carro e fazer uma viagem parando em todos os lugares que desejarmos, até chegar em um último lugar antes de voltar para nossa querida Paris. O que me diz? Eu posso organizar tudo.

– Não sei, Jacques… Preciso pensar. – Sophie disse, como reflexo de seu comportamento antigo.

– Pense com carinho. Vai te fazer muito bem.

Sophie sorriu e Jacques pensou em como aquele sorriso era lindo. Ele parou de caminhar, puxou Sophie para si e encostou seus lábios nos dela, que se desmanchou nos braços dele. Seus corações batiam forte e no mesmo compasso.

– Eu aceito. – Disse Sophie. E Jacques abriu seu melhor sorriso e a abraçou forte. – Mas você escolhe o destino. Não quero me preocupar com isso.

– Farei isso, querida Sophie.

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