Capítulo 11
Era uma linda manhã de sábado e Sophie estava com seus pais na região de Côte D’Azur, no litoral do sul da França. Eles estavam hospedados em um lindo hotel na praia de Nice, chamado Hotel Negresco. Que havia sido construído há poucos anos e era uma das sensações da região. Eles estavam passando férias, como faziam todos os anos, sempre escolhendo locais diferentes pela Europa, onde os três adoravam conhecer os países. Pierre e Josephine estavam casados há muitos anos e Sophie era a única filha desse casal apaixonado.
– Filha, a água está ótima. Você precisa entrar. Pare de ler um pouco, está de férias. – Disse Josephine à sua filha, que estava protegida do sol com um chapéu enorme e de óculos escuros. Sophie sempre teve a alma um pouco dramática. – Esse mar é sempre algo incrível de ver de perto.
– Mãe, você sabe que eu não gosto de entrar no mar. Pare de me pedir isso. – Disse Sophie, sem olhar para a mãe e lendo seu livro.
– Não sabe o que está perdendo, filha. – Disse Pierre, se enxugando em uma das toalhas que estavam ali nas cadeiras. – Hoje, após o almoço vamos sair para conhecer algumas praias desertas da região. Você vem conosco?
– Pai, você sabe que eu não gosto de barcos. Pare de me pedir para fazer esses passeios. – Disse Sophie novamente, lendo seu livro. Seus pais começaram a dar risada.
– Um dia, quem sabe, você aprenda a aproveitar os momentos da melhor maneira possível, minha filha linda. – Disse Josephine, dando um beijo na cabeça de Sophie.
– Eu já aproveito, mãe. Do meu jeito. Aceitem isso.
Sophie sempre deixava claro como ela queria ser mais reservada e introspectiva, diferente de seus pais que adoravam festas e viviam rodeados de amigos. Mas Sophie sempre deixava escapar um sorriso quando os pais não estavam olhando para ela, principalmente quando os pais se abraçavam e beijavam apaixonadamente, como faziam sempre.
– Vamos almoçar? Estou faminto. – Declarou Pierre e eles foram todos almoçar em um restaurante que ficava no alto de uma das colinas ali perto, na região de Éze, uma cidade medieval e murada. Sophie estava embasbacada com a beleza daquele lugar.
Comeram frutos do mar e beberam vinho branco. O dia estava lindo, sem nuvens, o céu azul com o sol brilhando forte.
– Hoje vai ser um dia incrível para andar de barco. Mal posso esperar para conhecer as praias que o rapaz quer nos levar para conhecer. Se forem tão lindas quanto Nice e todas que vimos até agora, serão maravilhosas. – Disse Josephine enquanto bebericava na sua taça de vinho.
– Espero que o tempo não mude, porque aqui quando muda, é melhor estar bem longe do mar. – Disse Sophie e seus pais olharam para ela. – Eu já li que se ventar muito, durante as tempestades, o mar fica revolto e não é possível navegar.
– Olhe para esse céu, minha filha. Não tem nem chance de algo mudar. – Disse Pierre sorridente, feliz por ter a oportunidade de estar ali com as mulheres de sua vida. – Eu gostaria de propor um brinde. – Ele pediu uma taça a mais para Sophie, que não estava bebendo vinho e sim, suco. – Tome um pouco de vinho filha, beba conosco para brindarmos. – Eles todos sorriram e sentiram como seus laços eram fortes.
– Eu gostaria de brindar à minha filha querida, que é uma artista incrível, uma mente inteligente e uma personalidade notável. – Disse Pierre olhando para Sophie, que revirou os olhos.
– Belo jeito de me chamar de estranha, papai. – Disse Sophie e eles deram risada.
– Se você se acha estranha, está tudo bem. Vou continuar te admirando sempre, minha querida Sophie. – Sophie sorriu sem mostrar os dentes, como ela amava aqueles momentos com seus pais. – E gostaria de brindar à minha amada e adorada esposa, a mulher que está sempre ao meu lado, que sempre me suporta, que me ajuda e é minha parceria. Não saberia viver nesse mundo sem você. Como tenho sorte de ter te encontrado nesse mundo, Josephine. – Josephine abriu seu sorriso mais largo e seus olhos estavam úmidos. – Eu amo vocês duas, minhas mulheres, minha família. – Pierre sorriu mais e eles todos brindaram.
– Meu amor, você é o melhor homem do mundo todo. – Josephine se levantou e alcançou a boca de Pierre para lhe dar um beijo.
Sophie bebeu o vinho aos poucos. Ele era bem leve e combinava perfeitamente com aquele início de tarde na Riviera Francesa. Ela ficou observando um pouco mais os pais e foi naquele momento que ela decidiu que jamais iria aceitar um relacionamento menor que aquele. Era aquela intensidade que ela queria, aquele amor, aquela urgência que nunca passa. Ela queria um relacionamento com sorrisos e quase nada de brigas, não o contrário. Ela decidiu naquele momento, que aquele era o tipo de amor que ela queria encontrar em sua vida.
Após o jantar, eles voltaram ao hotel para descansar um pouco e trocarem de roupa. Josephine e Pierre iriam sair em pouco tempo para ir navegar e Sophie iria ficar no quarto, talvez sentada na pequena varanda do hotel lendo seus livros. Ela gostava demais disso. Algumas horas depois, os pais estavam saindo e Sophie estava dormindo, mas acordou com a risada da mãe.
– Vocês já estão indo? – Perguntou Sophie, ainda meio sonolenta.
– Sim, meu amor. Não queríamos te acordar. – Disse Josephine.
– Quero beijo! – Sophie disse, sorrindo e virou o rosto para que eles a beijassem.
Mas os dois correram e pularam em cima de Sophie, fazendo cócegas e beijando muito. Sophie dava muita risada e gritava de tanto rir. Os três ficaram rindo.
– Sorte sua que temos horário marcado, filha. Senão, iria sofrer mais. – Disse Pierre, ainda rindo. Sophie havia caído da cama de tanto que rolou rindo e estava com lágrimas nos olhos de tanto rir. – Na volta tem mais.
– Não! Por favor. Chega de cócegas! – Disse Sophie, tentando recobrar a respiração. – Espero vocês para o jantar. Voltem logo.
Pierre e Josephine beijaram Sophie e se foram.
Sophie voltou a cochilar, efeito do vinho que não estava acostumada a tomar naquela época. Acordou pouco mais de uma hora depois, com um barulho de trovão. Deu um pulo na cama e na hora pensou nos pais que estavam no mar. Foi correndo até a janela e de lá pode ver as nuvens negras e os raios que estavam vindo na direção de Nice. Ela sentiu um frio na barriga e tentou se acalmar. Engoliu seco e começou a buscar com seus olhos, algum barco que pudesse ser o de seus pais, chegando de volta na praia, com eles a salvo. Mas não encontrava nada.
Mais de uma hora se passou e ela continuava olhando, a chuva caía forte em todas as partes que seus olhos conseguiam enxergar. Ela começou a ficar desesperada e desceu ao hall do hotel, para perguntar se alguém sabia de algo.
– Por favor, meus pais saíram para navegar essa tarde, mas olha como está o tempo. Eles não voltaram ainda. Sabe me dizer se recebeu alguma informação a respeito de alguma coisa? – Perguntou Sophie com urgência e o rapaz da recepção ficou meio paralisado com o questionamento.
– Vou chamar meu gerente, só um minuto.
Aquilo deixou Sophie ainda mais nervosa e ansiosa, queria encontrar seus pais logo. Viu o rapaz conversando com o gerente que apertou o meio dos olhos com os dedos, olhando para baixo. Aquilo já fez o estômago de Sophie se revirar e ela se apoiou no balcão.
– Boa tarde, como você se chama? – Perguntou o gerente.
– Sophie. Sophie Magret. – Ela respondeu rápido.
– Sophie, recebemos a informação de que uma embarcação privada sofreu um acidente há alguns quilômetros daqui. Mas não sabemos quem estava no barco e nem qual é o estado dessas pessoas. Parece que uma onda grande jogou o barco contra algumas pedras e ele se despedaçou. – Sophie rezou baixinho pedindo que não fosse o barco de seus pais.
– Onde foi o acidente? – Sophie perguntou, engasgada.
– Na região de Antibes, não muito longe daqui. – Sophie saiu correndo e o gerente foi atrás dela. Ela saiu na chuva disposta a pegar um carro qualquer que pudesse leva-la até lá. – Sophie, temos um carro disponível aqui. Posso pedir para ele te levar até lá, mas preciso que fique calma.
– Tudo bem. Mas preciso ir para lá agora. – Ela gritou no meio da chuva, já toda molhada.
Uma hora depois ela estava chegando no local onde as pessoas estavam reunidas, onde foi o acidente. Já havia parado de chover e muitas pessoas estavam à beira do mar, olhando para onde estava os restos do barco, uma região onde não havia ondas naquele momento. Ela respirou fundo, fechou os olhos e rezou mais uma vez para que não fosse seus pais. Ela desceu do carro e caminhou pelas pessoas, até alcançar um dos guardas que estava ali anotando coisas.
– Por favor. Saberia me dizer qual… – E de repente ela parou. Olhando para a beira da água. Seu mundo parou de girar e ela olhava fixamente para algo que estava ali. Era o chapéu favorito de sua mãe. Amarelo escuro com um laço vermelho enorme. Ela estava com aquele chapéu na mão antes de sair. Ela deixou o guarda e foi lentamente até o chapéu. Se abaixou e o pegou da água.
– Moça, você sabe quem eles são? – Perguntou o guarda. Sophie não sabia o dizer, abraçava o chapéu sem dizer nada. Lágrimas escorriam de seu rosto sem ela fazer o menor esforço.
– São meus pais. – Sophie disse em uma respiração só.